Um traço que Jesus queria fomentar em seu grupo era: A ALEGRIA. Estes homens e mulheres haviam deixado tudo porque haviam encontrado “o tesouro escondido” ou “a pérola preciosa”. Jesus podia ver nos olhos de alguns discípulos a alegria de quem começou a descobrir o Reino de Deus.
Não tinha sentido jejuar nem manifestar luto. Viver junto a Jesus era uma Festa.
Algo parecido com o ambiente que se criava nas bodas dos povoados.
O melhor eram as refeições. Jesus ensinava-lhes a celebrar com alegria a recuperação de tanta gente perdida. Sentados à mesa com Jesus os discípulos sentiam-se como os “amigos do Pastor”, que de acordo com uma parábola, sentiam prazer ao vê-lo chegar com a ovelha perdida. As discípulas, por sua vez, alegravam-se como “as vizinhas” daquela pobre mulher, que de acordo com outra parábola, havia encontrado a moeda perdida. Nesta alegria de seus seguidores todos poderão descobrir que Deus é uma “Boa-Notícia” para os perdidos. A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.
As parábolas: a do tesouro escondido (v.44) e a da pérola de grande valor (v. 45-46). Ambas focalizam o tema da OPÇÃO RADICAL PELO REINO DA JUSTIÇA DIANTE DO QUAL VALE A PENA ARRISCAR TUDO O QUE SE POSSUI PARA CONQUISTAR O NOVO, algo de valor incalculável, o único valor absoluto. Podemos imaginar os efeitos que essas parábolas tiveram para as comunidades, desiludidas e ameaçadas de afrouxamento.
A primeira parábola é a do tesouro escondido no campo. (Mt 13,44). A parábola não compara o Reino com o tesouro, mas quer mostrar o ESTADO DE ÂNIMO DE QUEM ENCONTRA ESSE TESOURO, comparando esse estado de ânimo com o que deveria animar OS QUE DESCOBREM O REINO DA JUSTIÇA COMO VALOR ABSOLUTO DE SUAS VIDAS. Como reage quem encontrou um tesouro? Como reage quem descobriu que a Justiça é o único caminho para conseguirmos sociedade e histórias novas?
O texto não afirma que o descobridor estivesse à caça de tesouros escondidos. Simplesmente topa com ele, sem esforço. O Reino da justiça também não é objeto de buscas intermináveis, está debaixo de nossos pés, ao nosso alcance, em nosso chão.
A reação de quem encontrou o tesouro é de ALEGRIA E DESEMBARAÇAMENTO DE TUDO PARA OBTENÇÃO DESSE TESOURO.
Aí está, diz Mateus, o estado de ânimo de quem descobriu, na prática da justiça do Reino, o filão escondido do mundo novo.
O Reino é dom gratuito, manifestado na prática de Jesus. A esse achado inesperado correspondem ALEGRIA E DESPRENDIMENTO TOTAL. Não se trata de RENUNCIAR PARA OBTER O REINO. É DESCOBERTA QUE POSSIBILITA DESEMBARAÇAR-SE ALEGREMENTE DE TUDO.
A segunda parábola é a da pérola de grande valor. Há algumas diferenças em relação à anterior: o fato de o comprador estar buscando pérolas e a não menção da alegria com que vende todos os seus bens. Contudo, o significado é o mesmo da parábola anterior: PELO FATO DE ENCONTRAR UM VALOR MAIOR, DESFAZ-SE DE TUDO PARA POSSUÍ-LO, POR QUE VALE A PENA.
Fique claro, porém, que o Reino não é troca de mercadorias. Não pode ser comprado como o campo que esconde o tesouro, ou como a pérola. As parábolas querem salientar que NADA FAZ FALTA A QUEM DESCOBRIU O SENTIDO E VALOR DA LUTA PELA JUSTIÇA.
A parábola da rede lançada ao mar (Mt 47-50) prolonga o tema da parábola do joio no meio do trigo e tem sabor de escatologia final. Na sociedade convivem lado a lado “peixes bons” e “peixes ruins”, a lei prescrevia quais peixes podiam ou não ser comidos.
Quem lança a rede é Deus e só a ele compete ordenar a triagem. O juízo constará de separação. A parábola, portanto, mostra às comunidades cristãs qual será sua sorte final se perseverarem no DISCERNIMENTO E NA OPÇÃO DEFINITIVA PELO REINO DA JUSTIÇA.
OS VV. 51-52 – MT 13,51-52 – Pretendem ser a conclusão das parábolas. A insistência do v. 51 cai sobre A COMPREENSÃO OU DISCERNIMENTO: “VOCÊS COMPREENDERAM TUDO ISSO?
Os discípulos (e as comunidades cristãs) afirmam ter compreendido tudo isso. Por isso – diz Jesus – “TODO DOUTOR DA LEI QUE SE TORNA DISCÍPULO DO REINO DO CÉU É COMO UM PAI DE FAMÍLIA QUE TIRA DO SEU BAÚ COISAS NOVAS E VELHAS”.
Mas pode ser também um modo pelo qual Mateus justifica as adaptações das parábolas às novas realidades das comunidades. O versículo faz uma comparação entre o Doutor da Lei e o Pai de Família. É possível ver nesse Doutor da Lei uma referência ao próprio autor do evangelho (Mateus) QUE RELÊ O ANTIGO TESTAMENTO (COISAS VELHAS) À LUZ DA NOVIDADE DE JESUS (COISAS NOVAS). Tudo faz parte do patrimônio da fé; porém, seu valor está em se ter feito discípulo do Reino.
SER DISCÍPULO DO REINO DA JUSTIÇA permite administrá-lo (o pai de família), para que sua mensagem ilumine e transforme os novos desafios.
PODE AINDA SER UMA REFERÊNCIA À CATEQUESE. O EVANGELHO DE MATEUS ERA UMA ESPÉCIE DE MANUAL DO CATEQUISTA CRISTÃO (DOUTOR DA LEI QUE SE TORNA DISCÍPULO DO REINO).
(Escrito a partir de: Roteiros homiléticos, Pe. José Bortolini)
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.