REINALDO SILVA
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Do alto da tribuna, durante a sessão da Câmara de Vereadores de Paranavaí, a professora Isabela Cadeloro Campoi, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), enumerou femincídios registrados no Brasil nos últimos meses. O pronunciamento foi feito na segunda-feira (31 de julho).
Ela detalhou 12 casos e expôs a crueldade desses crimes praticados por menosprezo ou discriminação de gênero.
“Dei nome e memória às vítimas. Desculpem por trazer um tema tão dolorido, mas a intenção da minha fala é esta: expor o grave fenômeno da violência que nos assola”, disse.
A presidente do CMDM explicou que de norte a sul, no campo e na cidade, mulheres são mortas com armas de fogo ou brancas; queimadas, esganadas, violadas. Sordidamente. Na presença dos filhos. Não importa se são pobres, ricas, brancas, pretas ou indígenas. “O feminicídio é a última e fatal fase da escala da violência doméstica.”
Isabela Campoi apresentou números. De 2019 a 2022, o Paraná contabilizou 314 feminicídios consumados e 911 homicídios dolosos contra mulheres. De 2019 a abril de 2023, 136 municípios paranaenses tiveram registros de feminicídios. 83% das vítimas tinham entre 20 e 49 anos de idade. Mais de 30 mil mulheres receberam medida protetiva de urgência em 2022.
Os assassinatos motivados por questões de gênero seguem um padrão: geralmente são cometidos nos finais de semana ou nas segundas-feiras, à noite ou durante a madrugada, “sugerindo que a violência doméstica e familiar pode ser a principal causa do feminicídio”, analisou.
Após apresentar os dados e fazer ponderações sobre o cenário assustador, sentenciou: “Isso precisa parar”.
Rede de apoio – A professora Isabela Campoi informou que o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher foi o articulador da rede de atendimento e enfrentamento à violência contras as mulheres em Paranavaí.
Estão incluídos órgãos e entidades que atuam nas áreas de segurança, assistências jurídica, psicológica, social, saúde e educação. Todos trabalham em conjunto para criar e fortalecer políticas públicas de proteção à população feminina.
A presidente do CMDM destacou que a Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, criado no Paraná início deste ano, e o Ministério das Mulheres, também instituído em 2023 em âmbito federal, evidenciam a preocupação com o tema.
“Nessa toada, enquanto conselho municipal, enviamos ao jurídico da prefeitura uma minuta para a criação de um fundo municipal dos direitos da mulher, que está em apreciação. Sem financiamento não se efetivam as políticas públicas.”
Conscientização – Isabela Campoi falou da necessidade de investir em campanhas preventivas e ressaltou o papel do poder público enquanto agente de conscientização e mobilização social.
“Fazemos coro ao grito para que toda a sociedade compreenda o fenômeno da violência e se envolva na erradicação dessa grave violação dos direitos humanos.”
Antes de terminar o pronunciamento na Câmara de Vereadores, a presidente do CMDM apresentou questionamentos, um convite à reflexão. “Quando uma mulher morre brutalmente, toda a sociedade é atingida. A interrupção precoce de uma vida deixa vazios no presente e no futuro das pessoas que cercam as vítimas. O que pensar da trajetória de filhos e filhas que presenciaram as mortes de suas mães? Como consolar as pessoas que viram a vida de uma mulher querida ser ceifada pela violência?”
Vereadores – O presidente da Câmara de Vereadores de Paranavaí, Luís Paulo Hurtado, afirmou que “todos iremos apoiar sempre o combate ao feminicídio e todos os tipos de violência contra mulheres”.
Os parlamentares Leônidas Fávero Neto e Aparecida Gonçalves também reconheceram a importância do tema.