Deixo ao meu filho:
A liberdade do voo do pássaro, que não é tão livre assim,
“Porque ninguém está livre,
Até os pássaros estão acorrentados no céu”, como disse Bob Dylan.
Todas as primaveras que vivemos juntos,
Com as fragrâncias das flores frescas.
Os inúmeros sonhos de gente acordada,
O pão feito em casa que aprendi a fazer, mesmo depois de velha.
O doce de abóbora, brigadeiro, cocada,
Lasanha e panqueca.
O mar e seus mistérios profundos.
Que alegria se pudesse privá-lo de todas as dores,
Sofrimento, desilusão, angústia e outras incertezas.
Mas, esse poder, não o tenho.
Porque a vida não tem pena: arremessa, empurra e açoita,
Nos movimentos bruscos dos redemoinhos
Nas alturas dos penhascos
Nas profundezas dos abismos.
Que a mãe, quando morre,
Deixa ao filho seu sangue, sua vida, seu Amor,
Na sutileza e delicadeza das palavras!