*Geysa Xavier
A saúde ocupacional na indústria se tornou um ponto de pressão que ultrapassa a esfera regulatória e alcança diretamente a sustentabilidade do negócio. Em um setor que concentra as atividades de maior risco físico no país, otimizar a gestão de saúde e segurança deixou de ser uma escolha e passou a ser um fator decisivo para proteger vidas e garantir eficiência produtiva. No primeiro semestre de 2025 o Brasil registrou 380.376 acidentes de trabalho e 1.689 mortes, um aumento de quase 9% em acidentes e 5,63% em óbitos em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Ministério do Trabalho. Esses dados revelam um cenário preocupante, especialmente para um segmento em que a exposição ao risco é estrutural.
Diante disso, a NR-4 impõe uma estrutura rigorosa às empresas de grau de risco 3 e 4, o que exige equipes especializadas, ambulatórios internos e uma rotina extensa de exames periódicos. Essas obrigações impactam diretamente o orçamento das empresas e ainda geram custos invisíveis, como o afastamento de colaboradores para exames e a interrupção de processos produtivos. Quando somados, esses elementos criam um paradoxo: garantir a saúde do trabalhador é indispensável, mas o modelo tradicional de gestão ocupacional consome tempo e recursos que muitas operações industriais não conseguem absorver com eficiência.
O desafio se torna ainda mais evidente quando se observa a escalada dos acidentes de trabalho no país. O Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho registrou, em 2024, uma média de 83,6 acidentes por hora, além de 32 mil mortes acumuladas entre 2012 e 2024. Esses números refletem as limitações de modelos analógicos e fragmentados, nos quais atendimentos são lentos, processos são difíceis de coordenar e a prevenção perde força diante da complexidade operacional. A combinação de alta exposição ao risco e infraestrutura desatualizada cria um ambiente em que a indústria opera com vulnerabilidades que podem ser mitigadas com tecnologias mais ágeis e integradas.
É aqui que a telemedicina se torna uma resposta concreta. Regulamentada no Brasil desde 1994, ela permite a realização remota de laudos, diagnósticos e atendimentos, reduzindo deslocamentos, acelerando a análise de exames e devolvendo ritmo às operações internas. Ao digitalizar a análise de exames, a indústria ganha agilidade e previsibilidade, diminuindo a dependência de clínicas externas e evitando gargalos que interrompem a produção. O modelo remoto também amplia o acesso à equipe médica, garantindo apoio contínuo mesmo em unidades afastadas dos grandes centros.
Além disso, a possibilidade de teleconsultas e teleinterconsultas reforça a eficiência dos ambulatórios internos. O suporte médico imediato evita deslocamentos desnecessários, corrige condutas em tempo real e reduz o agravamento de quadros clínicos, impactando diretamente nos índices de absenteísmo. Plataformas integradas de telemedicina também permitem monitorar indicadores de saúde, identificar tendências e agir preventivamente, fortalecendo a cultura de segurança. O ganho operacional vem acompanhado de um benefício maior: ambientes mais protegidos e menor incidência de acidentes.
Diante desse conjunto de fatores, a modernização da saúde ocupacional se apresenta menos como uma opção e mais como uma necessidade estratégica. Indústrias que adotam telemedicina, digitalizam fluxos e reforçam ambulatórios reduzem desperdícios, ampliam eficiência e constroem ambientes mais seguros. A tendência aponta para operações cada vez mais integradas, capazes de antecipar riscos e transformar a saúde do trabalhador em um diferencial competitivo valorizado em toda a cadeia produtiva.



