Ela tinha treze anos e estava imensamente feliz no acampamento de férias, onde descobrira uma nova amizade. Beatriz era uma amiga maravilhosa.
Identificavam-se nas conversas, nos gostos pela música, pelas roupas, pelos ídolos do cinema.
De repente, Julieta, a mãe, exigiu que ela retornasse ao lar, o que a deixou bastante zangada.
Mas a notícia que a esperava era devastadora: seu pai morrera. Dono de três barcos pesqueiros, fora surpreendido por tempestade terrível no mar e perdera a vida.
O corpo fora resgatado das águas, dias depois, bastante mutilado.
A mãe entrou em depressão e Bianca com a amiga a atenderam, durante meses, servindo-lhe alimento, providenciando-lhe a higiene.
Para uma adolescente, um grande peso suportar a perda da vida paterna e precisar atender a mãe, em situação tão grave.
Anos passados, Bianca foi a um retiro, buscando encontrar paz e reequilíbrio das energias.
Nunca mais voltou para sua mãe. Simplesmente a cientificou de que emigraria para outro país. Não deixou endereço. Não enviou correspondência, nunca informou onde se encontrava.
Todo ano, em seu aniversário, Julieta preparava um bolo esperando que ela voltasse para comemorarem juntas os dezoito anos, os dezenove anos, os vinte anos.
Por fim, desistiu de esperar qualquer notícia.
Então, oito anos depois, ela encontrou, por essas surpresas da vida, a amiga da filha, Beatriz.
Em conversa rápida, soube que Bianca vivia em algum lugar na Itália, tinha três filhos: duas meninas e um menino.
Estava muito magra, dizia Beatriz. Mas estava bem.
A dor materna pela sua ausência pareceu recrudescer. Por que ela não escrevia? Por que nunca mais fizera nenhum contato?
Visitando uma amiga do marido, Ava, que fora diagnosticada com esclerose múltipla, começou a desvendar o mistério daquela atitude.
A filha, durante a viagem ao retiro, estivera na antiga casa paterna e soubera, por uma serviçal, que o pai saíra, na noite em que se anunciava borrasca, depois de ter discutido, seriamente, com sua mãe.
O motivo: ciúmes da amizade dele com Ava.
A partir disso, Bianca culpou ambas pela morte dele. No seu rancor, cortara os laços com a mãe e desejava manter distância.
Quando soubera que Ava sofria do terrível mal que já lhe paralisara o lado esquerdo, enviara um bilhete lacônico, expressando toda sua raiva, apesar dos anos: Cada um colhe o que merece.
Então, um dia, Julieta recebeu uma carta que fez estremecer seu coração. Era da filha e trazia o endereço no verso do envelope.
Para ela, soou como um convite de Venha ao meu coração. De Preciso do seu abraço.
Escrevia ela: Sou mãe de três crianças. Meu filho mais velho, Roberto, de nove anos, foi tragado pelas águas do mar, que tanto amava.
Sinto-me mortalmente ferida e agora avalio o quanto deve ter doído em sua alma a minha partida, a ausência de tantos anos.
Somente agora meu coração de mãe entende a sua dor. Espero me possa perdoar.
E Julieta, de imediato, foi ao encontro da filha.
Principiava a reconciliação, o perdão mútuo.
O início de uma jornada para a felicidade de ambas.
Redação do Momento Espírita, com base
no filme Julieta, de Pedro Almodóvar.
Correspondência para:
Centro Espírita Fé, Amor e Caridade
Rua Guaporé, 1576 – Centro -87704-220 – Paranavaí – PR.
Telefone: (44)3423-4490
E-mail: mensagemespirita2013@gmail.com