REINALDO SILVA
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A professora percorre 45 quilômetros em uma Kombi. As crianças chegam em carroças. Em uma fazenda na Estrada Cristo Rei, em Paranavaí, alunos de diferentes idades dividem a mesma sala de aula. A jovem docente intercala conteúdos para atender todos, utilizando a dinâmica de ensino multisseriado. Ela também precisa preparar a merenda e fazer a limpeza do ambiente. O ano é 1995, e assim começa a relação de Elsa Dias Teixeira com o magistério.
Formada em Pedagogia, ela é professora da rede municipal de ensino. Ao longo desses 27 anos, enfrentou desafios que ajudaram a construir a carreira profissional. Hoje, é responsável pela Sala de Recursos da Escola Municipal Cecília Meireles. O espaço segue a lógica de potencializar o ensino dos alunos com deficiências, problemas cognitivos ou altas habilidades. A ideia é promover condições de acesso, aprendizagem e participação no ensino regular.
A professora Ivone Lelli Martins também leciona na Escola Cecília Meireles. Chegou à rede municipal de ensino há dois anos, mas antes já atuava na estadual. É formada em Pedagogia, Sociologia e Língua Portuguesa e começou a trabalhar na área da educação em 2015. Os sete anos à frente de uma sala de aula foram suficientes para ter certeza de que fez a escolha certa quando deixou de ser comerciante para ensinar.
Elsa e Ivone aceitam conversar com o Diário do Noroeste. Chegam juntas à sala de aula. Ivone traz alguns presentes que ganhou dos alunos por ocasião do Dia do Professor, comemorado neste sábado (15). Elsa conta que também recebeu. A satisfação das duas é refletida em sorrisos que levam embora o nervosismo da entrevista.
As paredes têm recursos visuais que ajudam no processo de alfabetização. O silabário estampa “QUAs”, “BRAs”, “CRAs”, “FRAs” e muitas outras letrinhas que, quando se encontram em uma palavra, podem trazer dificuldades para as crianças. Mesas, cadeiras, livros e jogos educativos completam o cenário.
Aprender e transformar – Ivone é a primeira a falar. Começa apontando as diferenças entre crianças, adolescentes, jovens e adultos. Uns precisam de mais atenção e acolhimento. Outros requerem estratégias didáticas mais enfáticas. Em comum, têm a possibilidade de aprender e transformar, pela educação, a própria vida e a comunidade onde estão inseridos.
Elsa fala em seguida. Compara: “É uma sementinha que a gente planta, vai dando carinho e amor e vê crescer até a hora de colher”. A afetividade ganha destaque nas palavras da professora, por se tratar de um artifício fundamental na criação do vínculo com os alunos. A parceria com a equipe da escola, os pais e toda a comunidade completa o processo de educação.
As professoras concordam que os dois anos de pandemia de Covid-19 comprometeram o crescimento escolar não somente pelas dificuldades na hora de repassar os conteúdos para os alunos, mas também pelos problemas emocionais que a crise sanitária deixou. Muitos desenvolveram transtorno de ansiedade e depressão e agora precisam de acolhimento e compreensão, cada um dentro das próprias características.
Trazê-los de volta para a rotina pré-pandemia não é tarefa fácil. As professoras aguçam os sentidos de percepção e apostam em assuntos que fazem parte do dia a dia dos estudantes. Que tal propor uma entrevista com os demais professores? Foi o que fez Ivone. Ela garante que além de aprenderem sobre o gênero textual, os alunos conheceram um pouco mais sobre a rotina dos docentes. Conversa, filma, edita e lá estão os eles, unindo tecnologia, conteúdo didático e interesse pelo aprendizado.
Futuro digno – Enquanto educadoras, elas acreditam sempre no melhor das crianças e da comunidade escolar. Apostam em um futuro cada vez mais digno, com a valorização da educação em todos os níveis. De modo geral, avaliam que o sistema de ensino no Brasil é deficitário e requer olhares mais comprometidos. Mas, mesmo com as dificuldades, ser professor vale a pena, dizem Elsa e Ivone.
As duas fazem questão de terminar a entrevista com um pensamento que evidencie a importância dos professores. Querem demonstrar o reconhecimento a elas mesmas e aos demais colegas de profissão. Também, incentivar os que pensam em assumir a educação como missão e aqueles que estão desanimados. Escolhem uma frase de Augusto Jorge Cury, escritor, psiquiatra e professor brasileiro. “Educar é semear com sabedoria e colher com paciência.”
Despedem-se e retornam às atividades do dia, à missão de formar pessoas e construir o futuro.
Rede municipal – Elsa e Ivone estão inseridas na rede municipal de ensino e fazem parte de uma realidade de 138 agentes de apoio educacional e 434 professores efetivos, além de 60 agentes de apoio e 70 professores em regime de PSS, assim chamado o Processo Seletivo Simples, para contratação em caráter temporário.
Para a secretária municipal de Educação, Adélia Paixão, também professora, a formação pedagógica e educacional é fundamental na estruturação da cidade, com a formação de médicos, empresários, trabalhadores, políticos e professores. “É nas mãos do professor que está a oportunidade das nossas crianças no futuro.”
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Paranavaí (Sinserpar), Gabriel dos Santos Luiz, que representa os professores e as demais categorias, destaca que os últimos anos trouxeram valorização para a educação pública, com a concessão de benefícios e a aplicação do piso salarial para os docentes.
Pedagogo, Santos Luiz reforça que um profissional bem remunerado, com acesso a constantes cursos de aperfeiçoamento, produz mais e supera as expectativas. Em Paranavaí, diz o presidente sindical, a equipe de docentes é muito dedicada. “Tenho grande orgulho de representar também os professores.”