No cenário financeiro, os dividendos sempre foram vistos como uma promessa de ganhos extras para os investidores. Contudo, essa ideia pode encobrir ilusões e riscos para aqueles que buscam aumentar sua rentabilidade por meio dessa estratégia.
“Dividendo pode ser uma ilusão. As pessoas pensam que esse é um ganho extra, mas na verdade, o valor é descontado do preço da ação, e ainda há o fato de que a empresa está retirando parte do dinheiro que poderia ser investido para partilhar entre os acionistas, o que pode ter reflexo nos resultados a longo prazo,” alerta Robinson Trovó, gestor de investimentos com certificações CNPI-T, CFG e CGA, ressaltando que a análise de dividendos pode não ser tão simples quanto parece à primeira vista.
O que são dividendos e como funcionam? Para compreender melhor o cenário, é crucial entender o conceito de dividendos. Trovó explica que eles representam uma fração do lucro líquido que as companhias de capital aberto, aquelas listadas na Bolsa de Valores, compartilham com seus investidores. Em outras palavras, ao investir em ações de empresas como Vale ou Petrobras, os acionistas têm o direito de receber uma parte dos lucros dessas companhias.
Entretanto, a distribuição dos rendimentos não acontece instantaneamente. Seguem etapas que devem ser seguidas para o pagamento de dividendos:
- Aprovação do Conselho Administrativo da Empresa: O conselho se reúne periodicamente para avaliar se a empresa obteve lucro e se esse lucro será distribuído aos investidores.
- Protocolo da CVM: Após a decisão do conselho, é necessário protocolar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esse protocolo informa aos acionistas quando e como os dividendos serão pagos.
Trovó ressalta que a previsão do pagamento de dividendos está intrinsicamente ligada ao desempenho financeiro da empresa. Se ela está lucrando, a estimativa é que uma parte desse lucro seja repassada aos acionistas, proporcionalmente ao número de ações que possuem.
Ilusões e riscos: O alerta de Robinson Trovó – Um ponto crucial destacado por Trovó é a ilusão dos dividendos. Ele explica que o pagamento desses rendimentos não garante automaticamente ganhos para o investidor. O preço da ação é descontado pelo valor dos dividendos distribuídos, e os investidores devem considerar essa dinâmica ao avaliar a atratividade de uma ação.
O gestor também alerta para a possibilidade de os dividendos pagos pela empresa serem menores do que a desvalorização da ação durante o ano, resultando em prejuízos para o investidor.
Ainda existe uma análise a ser feita em relação ao tema; se parte dos ganhos está sendo distribuída, essa empresa pode perder capacidade de investimento futuro em seu crescimento. Ou seja, isso pode ser interessante para grandes corporações, mas para empresas de porte menor, isso pode significar um crescimento menor no futuro, ou até desvalorização da ação.
Caso Intel ligou alerta – Um caso que mostra que se deve ter preocupações com ações pagadoras de dividendos foi o que ocorreu com a Intel em 2023. A empresa enfrentou desafios recentes devido à mudança tecnológica isso fez com que ocorresse um corte no pagamento previsto de dividendos em 66% e deixou uma dura lição para investidor.
“A empresa estava nas listas que destacam as “melhores pagadoras de dividendos”. Isso mostra que empresas que foram boas pagadoras no passado podem não manter o desempenho no futuro devido a mudanças em suas condições internas ou no ambiente de mercado”, alerta Trovó.
Em resumo, desvendar o mundo dos dividendos requer uma análise mais profunda e consciente por parte dos investidores. A compreensão das nuances desse universo pode ser crucial para evitar armadilhas e tomar decisões mais informadas no mercado de ações.
