*Luiz Carlos Amorim
Lembro do caderno Anexo do jornal A Notícia, grata lembrança. Hoje em dia não existe mais o Anexo, nem o jornal do qual era um suplemento. O Anexo privilegiava a cultura, a arte e a literatura. Cobriam a literatura da região, com matéria sobre poesia joinvillense. Falavam do que nós, poetas, faziam pela cidade, publicavam nossos poemas. Era bom saber que a poesia produzida na Cidade das Flores, da Dança e do Rio Cachoeira, apesar do regionalismo que havia. Mas pelo menos a região sabia de nosso trabalho e nossa produção.
Fiz parte disso, pois sou do Grupo Literário A ILHA e trabalhamos, em Joinville, nas décadas de 80 e 90, para divulgar e popularizar a poesia, levando-a à praça, às escolas, às festas, até a bares, bancos e lojas.
Quem lembra da Feira de Arte e Artesanato? Pois por quase vinte anos levamos o Varal da Poesia e o Recital de Poemas à praça, assim como levávamos também à Festa das Flores, ao Festival de Dança e a outras feiras de arte em São Bento do Sul e Jaraguá do Sul, regularmente e a outras cidades eventualmente.
Lá pelos anos 80 não se encontrava nem a poesia dos poetas consagrados, como Drummond ou Pessoa, nas livrarias. A gente tinha que encomendar. Conseguimos fazer com que a poesia fosse mais conhecida, colocando a poesia no meio da rua para que as pessoas esbarrassem com ela e soubessem da sua existência. E as livrarias, assim, passaram a vender até os nossos livros, além dos poetas consagrados.
Não tínhamos editoras, não tínhamos os editais de incentivo à cultura que publicam livros de escritores da cidade, que hoje existem. Esse espaço que se abriu para quem escreve, em Joinville, foi muito importante para escoar a produção de quem tem talento. Eu já fui jurado do Edital e sei que muita coisa boa aparece.
A regionalidade – que não é privilégio de Joinville, em Florianópolis e outras cidades do Estado também está presente – do que se publica é um problema, mas o fato de a própria cidade reconhecer os seus escritores já é alguma coisa. No tempo em que estávamos lá, batalhando pela literatura, tínhamos que arcar com tudo, não havia nada em termos de incentivo, até a Fundação Cultural mandava os escritores que a procuravam falar conosco.
Conseguimos ultrapassar os limites da cidade publicando em jornais e revistas fora do Estado e até fora do país. Nos anos 80 tive um livro de contos publicado por uma editora carioca e nos anos noventa tive dois livros de poemas publicados nos Estados Unidos – um em português e outro traduzido para o inglês, e em Cuba, vertido para o espanhol. Ganhei alguns concursos de poesia que também favoreceram o reconhecimento e algumas editoras aqui do Estado, como Lunardelli, Cepec, Dialogar, IWA (Estados Unidos) e depois a Hemisfério Sul, também me publicaram. Publiquei também “A Cor do Sol” em edição trilingue (português, espanhol e inglês), para possibilitar a penetração da minha poesia em outros países.
Mas nada é fácil, o caminho foi longo e árduo. Infelizmente, a poesia ainda é um gênero meio maldito, há muita produção, mas vende muito pouco. Ainda se compra muito mais romance. Mas tenho esgotado edições dos meus livros de poemas, graças a Deus.
Era muito bom ver jornalistas falando de poesia, abrindo espaço para a poesia, publicando poesia. Era sinal que ainda poderia haver espaço para a poesia no jornalismo, com toda essa mudança que vem acontecendo na indústria da informação. Hoje os espaços sumiram, muito pouco se fala sobre poesia ou se publica poesia. O jornal Notícias do Dia, de Floripa, quando tinha o suplemento cultural Plura, ainda publicava. Mas agora o Plural não existe mais, reduziu-se a uma página, mas ainda publica, esporadicamente, matérias sobre cultura e literatura. Nem tudo está perdido.