(44) 3421-4050 / (44) 99177-4050

Mais notícias...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Mais notícias...

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Compartilhe:

ESPAÇO ALAP

A quase minha Isolda

*Renato Benvindo Frata

Quando se ouve o nome Isolda, geralmente imaginamos uma mulher gorda, grande e bonachona; fofa, vagarosa e ao mesmo tempo glutona. Foge da memória a figura de Isolda de Tristão, personagens de Wagner na história lendária sobre o trágico amor entre o cavaleiro e a princesa irlandesa na Europa medieval, tão cantada e recantada na música, na literatura e no teatro. Segundo Wagner, era linda!

A Isolda de que falo não era princesa, nem gorda, nem lenta ou bonachona; era uma magrelinha de pouco mais de metro e meio, rosto chupado, cara pintada de sardas, cabelos ralos e sobrancelhas do ruivo para o amarelo. E braba. Braba feito cachorro de japonês. Parecia que ao acordar fazia pacto com o mau humor, no lugar da oração matinal que aprendemos desde cedo. E assim passava o dia, até que a noite chegasse. Daí, meu amigo, chovesse ou fizesse frio, ventasse ou ficasse mormacento o ar, ela se transformava em gata sedutora, se arrumava, perfumava e saía a perambular próximo dos muros do colégio, seu ponto preferido.

Gostava de garotões recém-chegados à puberdade entre os 13 e 16 repletos de testosterona, mas inexperientes em lençóis recém-trocados, cama macia e travesseiro alto. Meia dúzia de palavras, às vezes, nem isso, bastava para os arrastar, curiosos, à sua casa de cômodo quarto-sala-cozinha encravada num quintal de amoras e mangas. E lá se fazia senhora e rainha ao expor e exercitar seus dotes sexuais atrevidos diante do menino nervoso e trêmulo com a situação inusitada, com os efeitos da adrenalina e estupefato com a destreza seviciadora da magrela.

Ela começava o cortejo com uns passos de balé no pas-de-deux, uns rodopios ligeiros no assoalho rodando a saia para fazê-la subir a mostrar as coxas e, depois, tomada por um olhar pidão, se aproximava da presa enfeitiçada pelo ambiente e por ela agora com os cabelos soltos e despenteados, o vestido com o zíper arreado e o pequeno sutiã de bojo vermelho, destravado.

Os movimentos das mãos seguiam o ritmo imaginário da música dançada e com eles, as roupas de ambos sendo jogadas como fizessem parte da coreografia angustiante, até que a cama cedesse ao peso de ambos no engalfinhar da ‘professora’ acalmando o aluno, a essa altura de olhos esbugalhados e boca aberta com a promessa de que aquele jamais deveria contar o que presenciara e participara.

Pois numa noite depois de uma prova de matemática, ao virar a esquina escura, a perfumada Isolda se acercou, sorriu, pegou-me pela mão e me levou para sua casa no quintal de mangas e amoras e, em instantes, estava a sapatear a dança, seus trejeitos e mãos hábeis em abrir zíperes e destravar botões quando, já pelados e prontos para o caminho dos lençóis, nos assustamos com três fortes batidas na porta, obrigando-nos a que nos recompuséssemos às pressas e encarássemos a visita. Era o delegado de polícia com outros dois soldados com um mandado em mãos. O juiz a mandara prender por descaminho de menor.

Não houve retaliação, mas três dias depois, na mesma esquina e à mesma hora, Isolda me esperava.

Compartilhe: