*Renato Benvindo Frata
Quando se ouve o nome Isolda, geralmente imaginamos uma mulher gorda, grande e bonachona; fofa, vagarosa e ao mesmo tempo glutona. Foge da memória a figura de Isolda de Tristão, personagens de Wagner na história lendária sobre o trágico amor entre o cavaleiro e a princesa irlandesa na Europa medieval, tão cantada e recantada na música, na literatura e no teatro. Segundo Wagner, era linda!
A Isolda de que falo não era princesa, nem gorda, nem lenta ou bonachona; era uma magrelinha de pouco mais de metro e meio, rosto chupado, cara pintada de sardas, cabelos ralos e sobrancelhas do ruivo para o amarelo. E braba. Braba feito cachorro de japonês. Parecia que ao acordar fazia pacto com o mau humor, no lugar da oração matinal que aprendemos desde cedo. E assim passava o dia, até que a noite chegasse. Daí, meu amigo, chovesse ou fizesse frio, ventasse ou ficasse mormacento o ar, ela se transformava em gata sedutora, se arrumava, perfumava e saía a perambular próximo dos muros do colégio, seu ponto preferido.
Gostava de garotões recém-chegados à puberdade entre os 13 e 16 repletos de testosterona, mas inexperientes em lençóis recém-trocados, cama macia e travesseiro alto. Meia dúzia de palavras, às vezes, nem isso, bastava para os arrastar, curiosos, à sua casa de cômodo quarto-sala-cozinha encravada num quintal de amoras e mangas. E lá se fazia senhora e rainha ao expor e exercitar seus dotes sexuais atrevidos diante do menino nervoso e trêmulo com a situação inusitada, com os efeitos da adrenalina e estupefato com a destreza seviciadora da magrela.
Ela começava o cortejo com uns passos de balé no pas-de-deux, uns rodopios ligeiros no assoalho rodando a saia para fazê-la subir a mostrar as coxas e, depois, tomada por um olhar pidão, se aproximava da presa enfeitiçada pelo ambiente e por ela agora com os cabelos soltos e despenteados, o vestido com o zíper arreado e o pequeno sutiã de bojo vermelho, destravado.
Os movimentos das mãos seguiam o ritmo imaginário da música dançada e com eles, as roupas de ambos sendo jogadas como fizessem parte da coreografia angustiante, até que a cama cedesse ao peso de ambos no engalfinhar da ‘professora’ acalmando o aluno, a essa altura de olhos esbugalhados e boca aberta com a promessa de que aquele jamais deveria contar o que presenciara e participara.
Pois numa noite depois de uma prova de matemática, ao virar a esquina escura, a perfumada Isolda se acercou, sorriu, pegou-me pela mão e me levou para sua casa no quintal de mangas e amoras e, em instantes, estava a sapatear a dança, seus trejeitos e mãos hábeis em abrir zíperes e destravar botões quando, já pelados e prontos para o caminho dos lençóis, nos assustamos com três fortes batidas na porta, obrigando-nos a que nos recompuséssemos às pressas e encarássemos a visita. Era o delegado de polícia com outros dois soldados com um mandado em mãos. O juiz a mandara prender por descaminho de menor.
Não houve retaliação, mas três dias depois, na mesma esquina e à mesma hora, Isolda me esperava.
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