REINALDO SILVA / reinaldo@diariodonoroeste.com.br
O avental que Leko usava está pendurado na parede em lugar de destaque, próximo à bancada onde trabalhava. O espaço que ocupava traz lembranças ao tio Ademir, dono da empresa (serralheria). São memórias construídas ao longo de 13 anos, dividindo os afazeres, ensinando e aprendendo. Juntos. Agora, é difícil olhar e não ver mais o sobrinho.
Alex Torrente tinha 28 anos de idade, era casado e tinha três enteados. No dia 12 de agosto, uma sexta-feira, concluiu o expediente por volta das 18h. Permaneceu por mais ou menos uma hora e, como era costume, conversou com os companheiros de trabalho e até arriscou um jogo de malha, aquele em que os participantes tentam acertar um pino com um disco de metal.
Perto das 19h, deixou a empresa e seguiu de moto, uma Kawasaki Z750, pela Avenida Deputado Heitor Alencar Furtado, rumo ao Jardim São Jorge, em Paranavaí. Algumas quadras à frente, o motorista de um Chevrolet Classic cruzava a mesma via em local proibido. Os dois veículos colidiram e Leko morreu na hora.
O tio Ademir Torrente de Souza, que o considerava um filho, conta que a dor da perda é constante, insistente e, por vezes, sufocante. “Daria tudo para salvar a vida dele.”
Acidentes – A Heitor Furtado concentra o maior fluxo de veículos de Paranavaí. Não por acaso, é onde acontecem mais acidentes de trânsito. A principal explicação está na conduta dos próprios usuários: direção acima do limite de velocidade, ingestão de bebidas alcoólicas, desrespeito aos semáforos, conversões irregulares.
Nos primeiros meses de 2022, foram registrados, somente na Heitor Furtado, 126 autos de infração com motoristas realizando manobras que não são permitidas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). “É um número muito alto”, avalia o secretário municipal de Proteção à Vida, Patrimônio Público e Trânsito, Matheus Buchner, destacando que os dados se referem a uma única tipificação, conversão irregular.
A pedido do Diário do Noroeste, o 8º Batalhão de Polícia Militar de Paranavaí fez um levantamento dos registros de acidentes nas vias da cidade. De 1º de janeiro a 15 de agosto deste ano, foram 586 boletins de ocorrência, sendo 285 com vítimas e 301 sem feridos. Mais de 1.100 pessoas envolvidas. O único óbito no local foi o de Leko.
De acordo com a auxiliar de Comunicação Social do 8º BPM, Bárbara Buzignani, a realidade é parecida com a de 2021. Então, de 1º de janeiro a 31 de agosto, os acidentes com vítimas somaram 331. “Houve uma pequena queda, mas não é um número tão distante em relação ao ano passado.” Ela ressalta a diferença de 16 dias entre os registros de 2021 e 2022.
Comportamento – Matheus Buchner fala da necessidade de mudança de comportamento dos motoristas e dos pedestres. “A conduta proibida põe em risco a própria vida e a das outras pessoas.”
Desde o acidente de 12 de agosto, a equipe da Diretoria de Trânsito (Ditran) intensificou a fiscalização na Heitor Furtado e nos pontos da cidade com maiores índices de colisões. O secretário municipal cita as avenidas Tancredo Neves e Distrito Federal e a Rua Manoel Ribas. Agentes estão orientando e notificando os infratores. “É preciso deixar claro que o auto de infração tem efeito educativo.”
A Secretaria de Proteção à Vida, Patrimônio Público e Trânsito disponibilizou um plano de orientação no qual lista os principais comandos para os servidores públicos diante de irregularidades.
Ainda sobre o caráter pedagógico e preventivo dos instrumentos de controle de trânsito, Matheus Buchner informa que a Prefeitura de Paranavaí trabalha na licitação para a implantação de radares fixos de velocidade. “Já temos os estudos de algumas avenidas.”
Diferentemente dos controladores móveis, utilizados anteriormente em Paranavaí, no caso dos novos equipamentos os condutores estarão cientes da localização dos radares. Seria, na avaliação do secretário, mais uma característica educativa para incentivar a mudança de comportamento.
Para dar uma ideia da dimensão do problema, o secretário cita o trabalho de medição feito em diferentes ruas e avenidas de Paranavaí, para a criação do Plano de Mobilidade Urbana (veja box abaixo). Em uma situação, na Heitor Furtado, foi registrado um veículo trafegando a 120 quilômetros por hora, o dobro da velocidade máxima permitida, 60.
Responsabilidade – Matheus Buchner destaca três pontos que considera essenciais no percurso para chegar à condição de trânsito seguro. O primeiro é a responsabilidade. Além do limite de velocidade, reitera a importância de fazer manobras somente onde são permitidas, a fim de manter o fluxo constante e ordenado de veículos.
O segundo item também está ligado à responsabilidade. O secretário municipal enfatiza os riscos de combinar direção e consumo de bebidas alcoólicas. Os reflexos do condutor ficam mais lentos e o tempo de reação diante de uma situação de risco pode não ser suficientemente rápido para evitar o acidente.
Por fim, a sinalização. Seja a vertical (placas, semáforos), seja horizontal (demarcações nas vias), é essencial estar sempre atento às indicações e manter o compromisso de seguir cada especificação.
A auxiliar de Comunicação Social do 8º BPM reforça que o comportamento respeitoso e a gentileza são fundamentais. Acrescenta que os dispositivos de segurança precisam ser utilizados sempre, por exemplo, cinto, capacete e cadeirinhas para crianças. Assim, “se houver um acidente, os ferimentos serão minimizados”.