*Rafael Octaviano de Souza
O título da crônica apresenta um erro gramatical “proposital” para proporcionar reflexões. Fazendo uma “analogia” ao filme dos anos 80, vejo que após o brilhante título da 3ª Divisão as responsabilidades aumentam exponencialmente. Escuto, vejo e leio, muitas pessoas dizerem que o ACP deveria voltar para a 1ª Divisão, “local de onde nunca deveria ter saído”. Não consigo definir se isso é um sonho, um delírio, um desejo, um sofisma, ou uma verdade.
Qualquer cidadão paranavaiense que nasceu aqui, ou veio para cá após o início do século XXI tem em mente que o ACP campeão (2007) e vice (2003) é o único ACP que existe, ledo engano. Para se ter ideia, ao longo dessas 78 temporadas (desde 1946), o clube disputou a 1ª Divisão em apenas 33,3% de sua história, levando-se em conta o fato que em alguns anos não existiam 2ª e 3ª divisões, o que obviamente suscita que não poderíamos ter sido rebaixados, e que em alguns anos (entre 1946 e 1959) éramos apenas amadores.
Outro dado que refuta essas frágeis premissas, é que temos um total de 09 rebaixamentos (07 para a 2ª Divisão e 02 para a 3ª Divisão) contra apenas 05 acessos (04 para a 1ª Divisão e 01 para a 2ª Divisão), justamente em 2023. Por 07 oportunidades pedimos licença da Federação (interveniente permitido até um tempo da nossa história), nos anos de 1973, 78, 79, 86, 87, 88 e 89. Além disso, temos históricos de ações trabalhistas, perda de patrimônio, dirigentes que colocaram dinheiro do bolso, falta de ônibus, falta de material esportivo, falta de quórum de dirigentes, WO’s, assaltos, despejos e por aí vai.
Não sejamos ingênuos em pensar que a “Política” nunca esteve presente, o ACP foi muito usado politicamente, mas também se beneficiou muito da “Política” para se manter vivo. Falando em se manter vivo, menção honrosa a essas pessoas que estão conduzindo brilhantemente o clube atualmente, sem esquecer de pessoas (presidentes, conselheiros, abnegados e tutti quanti), que com muita luta, muitos erros e acertos mantiveram o ACP vivo nos últimos anos (respirando por aparelhos), não citarei nomes em ambos os casos para não correr risco de cometer injustiças.
O futuro nos reserva desafios muito maiores do que uma 3ª Divisão, que tem a sua importância sem dúvida na história (vencemos as três divisões do Paraná). A partir de agora, o clube se tornando SAF, precisa pensar de maneira “empresarial” sem deixar de lado a paixão clubística. Precisa-se pensar o futebol de maneira “Sistêmica”, definir “urgentemente” sua identidade. Saber quem é (propósitos, valores, sonhos, visão e missão). Saber onde está (diagnósticos internos e externos). Para onde vai e como chegará la. (diretrizes, pilares estratégicos, projetos, planos de ação, gestão, governança, estrutura organizacional, orçamentos, comunicação e engajamento). E como será mensurado (Monitoramento, Avaliação do Plano de Negócio, Indicadores de Desempenho, Metas etc.).
Tudo isso pode parecer alheio ao futebol, mas não é, pois como suscita a parábola de “Alice no País das Maravilhas”, se não sabe onde quer ir, qualquer caminho o levará, ou seja, ganhar títulos é importante, mas tornar o ACP um clube sustentável além dos títulos também o é.
*Rafael Octaviano de Souza é secretário de Esportes e Lazer de Paranavaí