A história do Papai Noel está profundamente enraizada na cultura popular e o Bom Velhinho rechonchudo com vestes vermelhas aparece em dezembro nas ruas, shoppings e televisão. Está por todos os lados. E vai de casa em casa na véspera do Natal para entregar os presentes para as crianças que se comportaram bem durante o ano. Na infância, reina o mundo da fantasia e imaginação e as crianças acreditam nas lendas populares. Não seria diferente com o Papai Noel.
“A fantasia da criança é fundamental para o desenvolvimento cognitivo. Para a criança tudo é novidade, o real e o irreal ainda não tem uma fronteira definida. Viver um mundo de mil possibilidades é algo que pode enriquecer o raciocínio, a capacidade de criar e de pensar em possibilidades para soluções de problemas”, defende a psicóloga paulista Marisa de Abreu Alves.
Estudos já foram realizados sobre o tema e há quem questione se alimentar a crença no Papai Noel não seria prejudicial. É o caso do trabalho desenvolvido pelo professor de psicologia da Universidade de Exeter, no Reino Unido, Christopher Boyle. “Se é certo fazer as crianças acreditarem no Pai Natal é uma questão interessante, e também é interessante perguntar se mentir dessa forma afetará as crianças de maneiras que não foram consideradas”, questiona.
A maioria dos estudos, contudo, segue em linha contrária apontando que as fantasias são positivas para o desenvolvimento das crianças. A professora de psicologia Jacqueline Woolley, em recente artigo publicado no site da Universidade do Texas em Austin (EUA), defende que há pesquisas indicando que existem benefícios em se ter uma imaginação fértil. Acreditar em seres impossíveis como Papai Noel ou renas voadoras também pode exercer as habilidades de raciocínio contrafactual das crianças. Enfrentar a fronteira entre o que é possível e o que é impossível está na raiz de todas as descobertas e invenções científicas, dos aviões à internet, segundo ela.
“Talvez o maior benefício para o desenvolvimento cognitivo das crianças resulte da descoberta de que Papai Noel não é um ser físico real. Embora os pais muitas vezes imaginem um momento singular em que seu filho exija a verdade, muitas vezes há um período prolongado durante o qual as crianças ficam cada vez mais inseguras sobre a existência do Papai Noel. Perto do final desse período, as crianças podem realmente procurar evidências para confirmar suas suspeitas ou, em alguns casos, até montar seus próprios experimentos”, afirma.
O momento certo para revelar a verdade vai depender de cada
criança. Para a psicóloga Marisa, não é necessário marcar uma data para a conversa.
“Cada criança terá o seu momento. A descoberta do que o Papai Noel não existe representa um passo importante na maturidade da criança, e descobrir por si só pode fazer parte deste amadurecimento. O papel dos pais poderia ser o de não insistir em algo que a criança já percebeu, pois ela se sentirá enganada mais tarde. Assim que ela percebeu que o Papai Noel é um amigo da família (ou o próprio pai) que vestiu uma fantasia – ou que se trata de alguém contratado para esta função – está acabado e os pais é que não deveriam ficar frustrados por acharem que os filhos deveriam ter mais um tempinho com esta fantasia”, diz.
Desde que a criança nasce, segundo ela, já se inicia uma série de ideias que vão sendo percebidas como não verdadeiras. Então, tudo acontece de forma natural e dentro do tempo de cada uma.