*Isabela Barbosa do Rêgo Barros
O processo educativo é uma construção coletiva. Um antigo ditado já nos alerta que “uma andorinha só não faz verão”, e essa lógica se aplica perfeitamente à educação. Sozinhos, nem a família nem a escola são capazes de atingir plenamente seus objetivos.
Historicamente, a educação era uma tarefa informal, conduzida pela família e pela comunidade. Com o surgimento das sociedades complexas, a escola surgiu como instituição de ensino formal. No entanto, a rotina frenética das famílias contemporâneas fez com que as crianças passassem a viver grande parte de suas experiências no ambiente escolar. Consequentemente, aprendizados cruciais – desde as descobertas físicas até os desafios socioemocionais – agora ocorrem principalmente com professores e colegas. Muitas vezes, os pais tomam ciência desses fatos por meio de canais inadequados ou de uma linguagem excessivamente técnica.
Esse distanciamento é agravado pela sobrecarga dos docentes, que, pressionados por demandas curriculares e a necessidade de “mostrar serviço”, têm pouco tempo para considerar o contexto e os saberes prévios de cada aluno. A ênfase no conteúdo acadêmico, em detrimento da formação integral, acaba por criar uma desconexão perigosa. No centro desse abismo, encontram-se crianças e adolescentes em pleno desenvolvimento.
É crucial, porém, evitar julgamentos. A solução não está em atribuir culpas, mas em redefinir papéis. A família não pode ser mera espectadora, assim como a escola não pode agir de forma solitária. Ambas são agentes principais e corresponsáveis no processo educativo.
Essa corresponsabilidade exige uma parceria ativa, que vai além de reuniões eventuais. Significa criar espaços genuínos de diálogo, compartilhar conhecimentos, escutar e apoiar em conjunto. Como defendia Paulo Freire, a educação é um ato de colaboração. A relação família-escola deve ser dialógica, não antagônica. Apoiando-nos também em Vygotsky, que via a aprendizagem como um processo social, compreendemos que família e escola são os mediadores mais influentes na formação do estudante.
Quando essa parceria se concretiza, os benefícios são profundos: gera-se segurança e estabilidade emocional para o aluno, aumenta-se seu engajamento e motivação para aprender e promove-se o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais, como empatia e resiliência. O estudante se sente verdadeiramente valorizado ao perceber que os adultos mais importantes de sua vida, pais e professores, trabalham unidos por seu bem-estar.
A relação família-escola não é uma sobreposição de papeis ou uma iniciativa complementar à educação. Ela é a própria base do processo educativo. Reforçar essa parceria é reconhecer que, diante dos complexos desafios do século XXI, a estratégia mais poderosa que temos é a união de esforços. Longe de serem instâncias separadas, família e escola são, juntas, o alicerce indispensável para a formação de indivíduos plenos, capazes e preparados para a vida. Portanto, investir nessa aliança é uma necessidade urgente e fundamental para o sucesso de uma sociedade crítica e humanizada.
*Isabela Barbosa do Rêgo Barros é linguista e educadora, coautora do livro “Perguntas e respostas sobre alfabetização”, junto aos educadores Rossana Ramos, Renata Fonseca Lima da Fonte e Flávio Rômulo do Rêgo Barros.








