SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A substituição de carnes vermelhas e processadas, bebidas açucaradas e grãos refinados por uma alimentação rica em grãos integrais, legumes, carnes magras, frutas e nozes aumenta a expectativa de vida em até 13 anos, afirma nova pesquisa. Cientistas indicam que quanto mais cedo for alterada a dieta, melhor será a perspectiva de mais anos de vida.
A alimentação inadequada resulta em diversos problemas de saúde ao redor do mundo e está associada a fatores de risco que causam aproximadamente 11 milhões de óbitos por ano.
Nesse novo estudo, publicado na revista Plos Medicine e assinado por pesquisadores de instituições norueguesas, os cientistas se valeram do GBD (Global Burden of Disease), uma iniciativa que reúne dados sobre o impacto que fatores de risco, como a má alimentação, têm no índice de mortalidade de diferentes países –inclusive no Brasil.
No país, por exemplo, dados do GBD demonstram que uma dieta inadequada tem relação com cerca de 44% das mortes por complicações cardiovasculares e 26% dos óbitos por diabetes.
Com informações como essas, os pesquisadores investigaram se a mudança de hábitos alimentares poderia resultar em uma expectativa de vida maior para grupos populacionais de três regiões do globo: Estados Unidos, Europa e China.
“É uma pesquisa de estimativa de impacto, então não significa que esses resultados são aplicáveis em cada indivíduo, mas é uma estimativa populacional”, afirma Aline de Carvalho, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).
Essa estimativa é feita por meio da média de anos de vida para quatro grupos de idade –20, 40, 60 e 80 anos– em cada uma das três regiões selecionadas no estudo. Depois, observou-se os impactos que a alimentação causava na mortalidade já que os pesquisadores fizeram médias do efeito que determinados alimentos tinham na expectativa de vida.
Além de calcular a média para esses alimentos separadamente, também houve uma sistematização em três tipos de dietas.
Uma delas foi denominada de ocidental e era caracterizada por ser rica em carnes vermelhas, alimentos processados, bebidas açucaradas e grãos que não eram integrais –ou seja, um padrão de consumo ruim. Outro modelo de dieta era a ideal e envolvia principalmente alimentos saudáveis: grãos integrais, legumes, carnes magras e frutas. A terceira, nomeada como viável, estava no meio termo dos outros dois tipos.
Cada um desses modelos de alimentação tinha suas consequências organizadas nos anos de vida da população. Esses valores, então, foram aplicados à expectativa de anos dos quatro grupos que o estudo observou por meio do GBD e, desse modo, era possível obter o impacto no incremento de anos na vida da pessoa a depender da idade em que ela tivesse iniciado uma alimentação mais saudável.
Nas estimativas da população americana, por exemplo, o estudo observou que homens que iniciassem a dieta ideal aos 20 anos tinham um incremento de 13 anos na sua expectativa de vida –no caso de homens que aos 80 anos tivessem adotado essa alimentação, esse incremento era de somente 3,4 anos.
Mesmo que o ganho de expectativa de vida seja menor a medida que a alimentação saudável seja adotada mais tardiamente, os autores observaram que a mudança tem impactos relevantes inclusive entre idosos –ideia também defendida por Carvalho.
“Sempre a mudança para uma alimentação mais saudável é importante, independente da faixa etária da vida. Quanto mais cedo, melhor. Já que a mudança de hábitos pode perdurar durante a vida”, diz.
Além das análises baseadas nos três tipos de dieta, a pesquisa também elencou quais seriam os alimentos mais importantes no aumento de expectativa de vida separadamente: nozes, leguminosas e grãos integrais. Cada um desses alimentos, segundo estimativa, poderia representar mais um ano de vida para a pessoa que incorporasse ao menos uma opção na dieta a partir dos 20 anos.
Alimentos que também foram considerados saudáveis –como frutas e peixes– registraram um efeito positivo menor que esses outros três. Já entre os que apresentaram mais risco à saúde, a carne vermelha ou processada lidera a lista.
Esses resultados não necessariamente podem ser transpostos para o Brasil já que o estudo não considerou dados do país, ressalta Carvalho. Um exemplo disso é com relação às leguminosas, como feijão, que figuraram entre os melhores alimentos.
A professora explica que isso acontece porque, provavelmente, não há o consumo de uma quantidade adequada de feijões nas regiões analisadas pela pesquisa, fazendo com que adicioná-los na dieta já cause um efeito positivo para a população. No entanto, talvez isso não seria visto da mesma forma no Brasil já que a população local tem um hábito maior de consumir a leguminosa.
Por isso mesmo, seria importante estudos do mesmo tipo com dados do Brasil, algo que já vem sendo trabalhado por Carvalho e outros pesquisadores. Ela cita, por exemplo, uma pesquisa que está sendo feita para mensurar os impactos da alimentação para a saúde da população brasileira e também para o meio ambiente.
“A gente está vendo como uma dieta pode ter um impacto na melhoria da saúde, quais são os alimentos que a gente poderia aumentar ou diminuir, mas que também tenha um efeito positivo para o meio ambiente”, conclui, indicando que o estudo ainda está em estágio preliminar.
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