EDUARDO CUCOLO
SÃO PULO, SP (FOLHAPRESS) – A alta da taxa básica de juros é uma das variáveis que, somada à escalada da inflação, a um mercado de trabalho ainda fragilizado e à escassez de insumos, deixou a economia praticamente estagnada no terceiro trimestre.
Nesta quarta-feira (8), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC elevou a taxa básica de juros de 7,75% para 9,25% ao ano. No começo de 2021, ela estava em 2%. A projeção é que fique próxima de 12% no ano que vem. O Brasil lidera ritmo de alta de juros em 2021, com uma inflação entre as maiores do planeta.
De acordo com o gerente-executivo de Economia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Mário Sérgio Telles, já houve aumento significativo dos juros para os tomadores finais, tanto empresas como pessoas físicas. As concessões continuam a crescer, mas o setor industrial já se prepara para o impacto da contração monetária sobre o consumo.
“As empresas vão enfrentar em breve uma retração de demanda ainda mais significativa por conta dessa política monetária. Já dá para sentir esses sinais, e a tendência é de piorar a situação, porque os efeitos são defasados”, disse o economista antes do último anúncio do Copom.
Telles afirmou que, como esse movimento já está se refletindo na atividade, não há necessidade de aumentar o ritmo de alta de juros, como defendido por algumas instituições do mercado. Para ele, é necessário que haja tempo para que o Banco Central possa avaliar o impacto que a redução de demanda vai provocar nos índices de inflação.
“O efeito da retração de demanda sobre os preços pode surpreender. Talvez não seja necessária uma política monetária tão restritiva como está sendo sinalizada. Trazer a inflação para dentro do intervalo [da meta, de até 5%,] já seria um objetivo cumprido por parte do BC. O ajuste pode ser gradual para que o efeito sobre a atividade seja amenizado”, afirma.
Nesta quarta-feira, após o anúncio do Copom, a CNI divulgou nota na qual afirma considerar equivocada a decisão do comitê. A confederação reitera a avaliação de que um aumento menos intenso da Selic, em conjunto com as elevações anteriores, já seria mais que suficiente para levar a inflação até a meta, sem que o BC aumentasse a probabilidade de recessão.
O presidente da entidade, Robson Andrade, afirmou que os últimos dois trimestres de retração do PIB (Produto Interno Bruto) deixaram evidente o quadro adverso da atividade econômica. Os indicadores de confiança, faturamento e produção da entidade já mostram arrefecimento também no começo deste último trimestre de 2021.
A economista Catarina Carneiro da Silva, responsável pelo índice de Intenção de Consumo das Famílias da CNC (Confederação Nacional do Comércio), afirma que a questão do acesso ao crédito foi o principal fator que derrubou o indicador em novembro.
Segundo ela, a incerteza quanto ao tempo necessário para arrefecer o processo inflacionário e ao nível que os juros devem alcançar já está influenciando o consumo e gerando mais cautela.
“Esse recuo foi influenciado pela trajetória de alta dos juros iniciada pelo Banco Central para conter o aumento dos preços”, afirma. “As famílias já estão começando a sentir essa dificuldade.”
A CNC revisou nesta quarta (8) a expectativa de crescimento do volume de vendas no comércio varejista para este ano de 3,6% para 3,1% e projeta avanço de 1,2% em 2022. O ajuste ocorreu após a pesquisa mensal de comércio do IBGE apontar queda do índice pelo terceiro mês consecutivo, acumulando retração de 5,3% desde agosto deste ano.
Dados do Banco Central mostram que praticamente todas as linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas ficaram mais caras nos últimos meses.
A taxa média dos juros bancários chegou a 32,8% ao ano em outubro, o maior valor desde o início da pandemia de Covid-19. No acumulado do ano, a alta observada é de 7,3 pontos percentuais. A inadimplência apurada pela instituição não se alterou. No acumulado do ano, o estoque de crédito cresceu 12%.
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