Vivemos numa época de nostalgia injustificada. Isso mesmo! Não se deve pensar no passado como o melhor momento.
Dizemos isso porque estamos no presente e quando estamos aqui agradecemos. Como você sabe, muitos tendem a glorificar o passado como um período despreocupado, quando a resolução de problemas parecia fácil.
No entanto, esta visão nostálgica do passado carece muitas vezes de análise crítica. Em primeiro lugar, é importante sublinhar que, graças ao desenvolvimento dos alimentos, dos medicamentos, dos cuidados médicos e da higiene básica, a esperança de vida é hoje muito maior do que em épocas anteriores.
Aqueles que romantizam o passado muitas vezes não são incluídos nas estatísticas de elevada mortalidade infantil prevalecentes na época. Memórias de infância de lugares, como o Triângulo Mineiro, onde passei parte da minha infância com falta generalizada de energia elétrica e acesso limitado à tecnologia moderna, podem evocar certo fascínio, mas é importante lembrar que a vida foi incrivelmente difícil. As condições de vida eram difíceis para todas as classes sociais.
As eleições frequentemente apresentavam conflitos violentos entre apoiadores de diferentes partidos, e Uberlândia não foge a essa tendência. Os relatos de eleições fraudulentas lembram-nos que a democracia nem sempre funcionou como deveria naquela época.
O acesso a serviços básicos como saúde e educação era limitado, obrigando as famílias a recorrer a medidas extremas, como mandar os filhos estudar na capital Belo Horizonte ou em São Paulo. Uberlândia sempre teve uma ligação maior com a capital São Paulo do que com BH.
É importante lembrar que as melhorias nas condições de vida e as conquistas como os cuidados de saúde, a educação e as infraestruturas tornaram o presente muito mais confortável do que muitos gostariam de admitir. “Costumava ser bom” muitas vezes se baseia em uma idealização que não reflete com precisão a realidade da época.
Lembramos do tempo da infância onde não tínhamos preocupação com pagar aluguel, sustentar a família e enfrentar fila para comprar feijão ou, mesmo o óleo em litros vendido a granel.
O açúcar e o arroz também eram pesados na hora e ficavam ali, entre fumaça de cigarro, espirros, tosses e gritos em vendas abarrotadas de produtos com data de validade vencida e, mesmo assim, comprávamos, usávamos e sobrevivemos.
E o que dizer do pão enrolado em papel que vinha no rolo e todo mundo botava a mão para tirar um pedaço.
E o verão trazia consigo os pernilongos e mosquitos que invadiam as casas. Para dormir bem só tinha uma solução: a bomba de Flit com o uso de Detefon. 20 a 30 minutos de todos fora de casa e mais alguns minutos de portas e janelas abertas para o mau cheiro ir embora. Ninguém morreu. Pelo menos que eu saiba.
E o Neocid? Aquela latinha amarela que a gente apertava e saia um pozinho branco. Servia pra matar baratas, formiga, pulga e piolho. Era pente fino na cabeça, o pó branco e um lenço amarrado enquanto a gente faltava arrancar a cabeça de tanto coçar? Sobrevivemos.
Poucas pessoas tinham acesso à escola, à saúde do Inamps, iam a cinema ou alimentação adequada (esta tem muita gente que ainda não tem). Andar de ônibus, quando tinha na cidade, eram poucos e superlotados. Paradas cobertas então, nem existiam.
Enfim, sentir saudade do tempo que era fila pra falar no orelhão, receber correspondência de uma cidade porta com 30 dias de atraso; tomar refrigerante com tampinha furada a prego, nossa. O passado não era bom! Sinto muito. Lembrar do tempo que não pagávamos contas sim, este é o tempo que eu queria.
Gregório José – jornalista/radialista/filósofo, pós-graduado em Gestão Escolar
Pós-graduado em Ciências Políticas, pós-graduado em Mediação e Conciliação, MBA em Gestão Pública