(texto e ilustração Edson Godinho)
Olá, leitor (a). O diário solitário volta a abrir suas páginas. Nosso último encontro foi no mês de dezembro de 2021. Como você passou nesse tempo? Experienciou muitos momentos de solidão?
Em nossa última página, conhecemos a história de Pumã, uma mulher que foi silenciada em grande parte de sua vida. E encontrou na arte drag uma forma de romper o silêncio do seu corpo e da sua palavra.
Hoje você irá conhecer a história do pai de Caru, do marido de Sônia, do ex-sogro de Ricardo e do amigo de Felipe. O Antônio. Uma boa leitura, mas antes disso indico que leia este texto escutando: Cachito, na voz de Nat King Cole.
Antônio não é um homem de muitas palavras, prefere a observação. Desde muito jovem começou a trabalhar na propriedade rural de sua família. Antônio é o irmão mais velho de 10 irmãos e assumiu junto aos seus pais a responsabilidade de criar e sustentar os irmãos. Ele cresceu assim, com as mãos na terra e no meio de mais nove meninos.
A timidez sempre foi um traço forte da personalidade de Antônio. Antônio sempre foi o maior da turma, na vida adulta atingiu a estatura de 1,95m. Suas mãos grandes e largas ficaram calejadas de tanto preparar o solo e manipular a enxada.
Aos 17, Antônio conheceu uma mulher 20 anos mais velha que ele. A viúva se mudou para uma propriedade ao lado da de sua família. O nome dela era Marisol, uma jovem mexicana, que há pouco havia perdido seu marido para a pneumonia.
Marisol é um capítulo muito especial na vida de Antônio. Ao contrário do protagonista desta página, Marisol era cheia de vida, dona de um sorriso luminoso, que se tornava mais luminoso em contraste com a sua pele morena, desenhada delicadamente por suas longas curvas. Foi nos braços de Marisol que Antônio conheceu o sexo e sua primeira noção de amor. Desnudos eles costumavam dançar boleros nas madrugadas quentes de um verão sem fim.
Ao descobrir a paixão do primogênito, a família de Antônio decidiu mandar o filho para a cidade. O coração de Antônio nunca se recuperou. Na cidade, Antônio começou a trabalhar no mercado do irmão do seu pai, e todo mês mandava dinheiro para ajudar a família. Apoiado pelo tio, Antônio cursou Administração e montou sua própria empresa, que compra frutas de pequenos produtores e distribui para lojas e mercados.
Durante o curso de Administração, Antônio conheceu um dos seus poucos amigos – fora Felipe, que foi seu funcionário há alguns anos atrás – Federico. Na época um jovem bonito e ambicioso, com o sonho de ter seu próprio escritório de advocacia. Mal eles sabiam que seus filhos se casariam. Talvez por esse motivo até hoje Antônio considere Ricardo como um filho, e busca entender as traições que Ricardo cometeu com sua filha Caru.
A solidão sempre foi companheira de Antônio, que pouco fala. Ama Sônia, mas ainda pensa no verão mais tórrido de sua vida ao lado de Marisol.
Edson Godinho é: artista visual, filmmaker, entusiasta, performer e professor. Mais informações e trabalhos em www.edsongodinho.com / eu.edsongodinho@gmail.com