*Marcos Gonzalez
Depois de um dezembro relativamente bom, com pouco mais de 200 mil veículos emplacados, as montadoras finalizaram janeiro deste ano bastante apreensivas com a brusca queda de quase 40% nos negócios. 126,5 mil carros licenciados neste primeiro mês do ano, com queda de 26,1% comparando com janeiro do ano passado, quando 171,1 mil unidades foram licenciadas, acendeu sinal de alerta. 2022 começa assustando o mercado.
Todos sabem que janeiro é, historicamente, mês ruim para vendas. Mas poucos imaginavam que seria ainda pior que janeiro passado. A justificativa por essa queda mais abaixo que o normal, apresentada pela Anfavea, entidade que congrega as fabricantes de automóveis, aponta para dois novos problemas: índices sem precedentes de absenteísmo, por conta de afastamentos de funcionários por covid-19 ou por suspeita da infecção e férias coletivas mais prolongadas.
Obviamente deve-se somar a esses dois novos problemas os que toda cadeia já vem sofrendo há mais de um ano: falta de suprimentos vitais e logística global com grandes dificuldades em função da pandemia.
De acordo com comunicado da Anfavea, outros países afetados pela variante ômicron tiveram quedas parecidas, próximas de 20%. Mas nenhum com queda tão acentuada quanto o Brasil. Em nota, Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade explica melhor as dificuldades: “foi um mês de recorde nas infecções por covid-19 no País e de chuvas acima da média para o período, o que afetou a produção dos fornecedores e dos fabricantes de veículos, e ainda afastou clientes das concessionárias”.
A despeito da frustração deste começo de ano, o presidente da Anfavea deixa claro que as montadoras mantêm o otimismo. “os problemas causados pela ômicron deverão ser amenizados nos próximos dois meses, permitindo um quadro mais próximo da normalidade em todas as atividades. Não teremos todos os semicondutores que precisamos este ano, mas o nível de escassez será menor que em 2021”. Mas há, ainda, uma certa nebulosidade econômica e a preocupação de todas as montadoras repousa sobre outro tipo de praga que assola o Brasil há décadas: alta dos juros acima do razoável. Nenhum outro país do mundo pratica juros tão altos e proibitivos como aqui.
Claro que não é preciso ser economista para projetar o resultado de financiamentos cada vez mais proibitivos no País: queda contínua de vendas e bens com alto valor agregado. O brasileiro, muitas vezes, tenta melhorar sua qualidade e seu padrão de vida. Ocasionalmente o clima é até favorável, quando o Índice de Confiança do Consumidor, medido pela FGV, sobe um pouco, como no final do ano passado, mas na hora de fazer contas e efetivar um negócio, os juros, de fato, assombram. E muitos, prudentemente, desistem! Vamos assistir aos próximos capítulos desta evolução nas próximas semanas.