DANIELLE ROCHA
DA UOL-FOLHAPRESS
As três medalhas nas Olimpíadas do Rio (duas pratas e um bronze) não foram suficientes para dar a Isaquias Queiroz uma certeza. Ele ainda considerava importante cumprir um novo ciclo para que não restassem dúvidas nem para ele nem para o público. Chegou aos Jogos de Tóquio com a pressão e a expectativa por resultados que não teve em 2016, sem a orientação do técnico que o levou ao seleto grupo de medalhistas, e com o compromisso de mostrar que era possível dar continuidade à sua evolução mesmo sem Jesús Morlán. O ouro no C1 1000m, conquistado na semana passada, lhe deu o direito de fazer uma afirmação: ele é o cara.
“Hoje eu posso falar que eu sou o cara da canoagem do Brasil. Porque eu precisava mostrar que não foi sorte, que foi trabalho de quem veio se dedicando após 2016. Podiam falar ‘você é um dos maiores atletas do Brasil, já escreveu seu nome na história”, e eu falava que só ia me reconhecer como um dos maiores atletas do país quando encerrasse minha carreira. Mas acredito agora que esses Jogos acabaram afirmando o quanto eu tenho de talento, o quanto eu trabalho, o quanto me dedico. O quanto tenho vontade de representar as cores do meu país, o quanto amo subir no pódio. Eu queria ir pra lá e mostrar que sou esse cara de verdade que todo mundo conhecia, guerreiro, trabalhador, que não tem medo do adversário”, disse Isaquias, nesta quarta-feira (11), durante entrevista coletiva no CT Time Brasil, no Rio de Janeiro.
Mesmo confiante por natureza, ele admitiu ter sentido um certo receio quando passou a acompanhar as reportagens que tratavam de um tema que mereceu atenção nessas Olimpíadas: a importância da saúde mental.
“E saiu tanta coisa na mídia que fiquei meio preocupado, de problema psicológico, essas coisas, que até me afetou. Pensei: ‘será que isso existe mesmo, é verdade?’. Só que eu vi que eu treinei e que era capaz de fazer aquilo. Eu sabia o quanto eu estava andando, o cronômetro não estava mentindo. E a gente mostrou para todo mundo que eu estava um nível acima dos meus adversários”.
Por enquanto, o campeão olímpico evitar criar expectativas para Paris-2024. Sabe que para chegar competitivo precisará de um tempo de descanso.
“Agora é seguir com o objetivo de melhorar um pouco mais. Um pouco mesmo porque quando se chega no alto nível é difícil você melhorar muito, né? Vai de pouco a pouco, de grão em grão. Vou ter que descansar meu corpo, minha mente. Lá eu remei com a parte posterior da coxa com dores, mas agora é descansar o máximo e aproveitar a família porque em Paris, com certeza, todos os olhos do Brasil vão estar voltados para mim, para a Rebeca, para a Ana Marcela, para todo mundo que ganhou uma medalha. Acredito que possa chegar em 2024 bem, mas primeiro vou ter que passar por todo o treinamento e é ele que vai falar se vou chegar lá para a disputa da medalha ou não”.
Feliz com o reconhecimento da torcida, Isaquias ressaltou outra vez a importância do espanhol Jesús Morlán para a sua carreira e para a canoagem nacional. O técnico, que morreu em 2018 em decorrência de um câncer no cérebro, segue vivo nos pensamentos de Isaquias por tê-lo ajudado a se tornar a pessoa diferenciada que sempre sonhou. Perguntado sobre o planejamento deixado por Morlán até as Olimpíadas de Tóquio, o canoísta corrige a informação.
“Na verdade, foi uma mentira que inventaram para nós e nós repassamos para vocês (risos). O que aconteceu foi que o pessoal achou que a gente poderia ficar com medo pela perda do Jesús e falaram que tinha deixado o planejamento pronto, mas, na verdade, o Lauro de Souza Jr. [técnico atual] teve que fazer. Lauro aprendeu muito com ele. O planejamento teve que ter mudanças por causa da pandemia. Quando Jesús faleceu, o que a gente tinha de concreto era o treinamento que tinha feito dos anos anteriores. E a gente sabia que ganharia medalha em Tóquio porque refiz todo o treino melhor. E nosso objetivo maior lá era representar o cara que mudou a canoagem do Brasil. Foi muito especial ser com esse ouro.”