DANIELA ARCANJO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma rede social para compartilhar fotos no momento da captura e ver o que amigos próximos estão fazendo. Sem vídeo, música ou vendas. Esse era o Instagram no início da década passada, quando foi lançado, mas poderia ser a descrição do seu recém-criado concorrente, o BeReal.
Desde o dia 14 de julho a rede social está pelo menos em segundo lugar entre os aplicativos mais bem avaliados da App Store nos Estados Unidos, segundo monitoramento da empresa Sensor Tower. No Brasil, buscas pelo app no Google explodiram na última semana de abril e se mantiveram altas desde então.
Mais de 1 milhão de pessoas baixaram o app na PlayStore, uma ferramenta de nicho se comparada ao WhatsApp, por exemplo, que acumula 5 bilhões de downloads. Mas o recente interesse coincide com uma onda de reclamações contra o Instagram, que está em mais de 1 bilhão de celulares.
O advogado Fabio Barros, 30, é um dos que fazem coro às críticas. “O Instagram parece empenhado em piorar ainda mais a qualidade de vida virtual de todo mundo”, afirma, referindo-se ao que considera uma poluição visual da plataforma. “A gente já está bombardeado de informações por todos os lados. Não ajuda quando tentam aumentar isso.”
No BeReal, onde está há uma semana, Barros encontrou a simplicidade que existia no início do Instagram.
Ali ele só pode postar uma vez por dia, no momento que o aplicativo definir. Depois de receber a notificação, ele tem dois minutos para fazer a foto e publicar -única forma de ver o que seus amigos publicaram também.
“Não dá tempo de ninguém se arrumar. Quando é em horário de trabalho, eu vejo todo mundo na sua mesa, mexendo no computador”, diz ele. Desde a ascensão do TikTok, rede social de edição de vídeos que ficou famosa pelas dancinhas virais, o Instagram passou a lançar ferramentas que imitam a plataforma chinesa. Aí nascem os reels, para montagem de vídeos, e o teste de tela cheia nas recomendações de conteúdos, recursos semelhantes aos do TikTok.
Foi a mesma estratégia aplicada com o Snapchat. Segundo noticiado na época pelo Wall Street Journal, em 2013, a plataforma de compartilhamento de fotos e vídeos que somem em 24 horas rejeitou uma oferta da empresa dona do Instagram –e viu a sua principal ferramenta virar os stories.
As últimas mudanças, porém, geraram protestos nas redes.
“Faça o Instagram ser o Instagram de novo”, publicou na última segunda-feira (25) a influenciadora americana Kylie Jenner, segunda pessoa mais seguida da rede no mundo. “Pare de tentar ser o TikTok, eu só quero ver fotos bonitas dos meus amigos.”
O pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, Victor Barcellos, localiza esse embate no campo da economia da atenção.
“Essas grandes plataformas estão buscando a atenção dos usuários, que se tornou um dos principais ativos na economia digital”, afirma. Quanto mais tempo uma pessoa permanece na rede, a mais anúncios é exposta.
Segundo relatório de janeiro de 2021 da App Annie, nos Estados Unidos os usuários ficam mais tempo no TikTok do que no Facebook. Em 2020, foram 21,5 horas mensais gastas por usuário no app da China, contra 17,7 horas na rede social americana.
A receita do sucesso pode estar na aba “For You” do aplicativo, segundo Barcellos. Ali ficam as recomendações de contas que você não necessariamente segue, selecionadas por inteligência artificial.
“O algoritmo tem uma precisão tão clara de identificar as preferências que faz a gente realmente ficar viciado na tela e passar horas e horas assistindo àqueles conteúdos”, diz o pesquisador.
O chef e influenciador Guilherme Poulain, 36, sente isso nas suas publicações. Com 87 mil seguidores no Instagram, seus vídeos podem chegar a 20 mil pessoas, segundo ele. No TikTok, onde tem quase mil seguidores, suas publicações às vezes batem os 10 mil.
“É impressionante. Não precisa ter muitos seguidores lá para o vídeo que você postou ser super visto”, diz ele.
A tentativa do Instagram de seguir na mesma direção virou uma das maiores reclamações dos usuários, que pedem para ver menos anúncios e vídeos de desconhecidos e mais publicações de amigos.
“Essas reclamações acontecem pela perda de autonomia dos usuários na decisão sobre quais conteúdos vão aparecer para eles”, afirma o pesquisador Victor Barcellos.
Como o algoritmo não é aberto, é impossível saber as mudanças exatas que a rede social promove. Barcellos compara com um carro. Apenas quem montou sabe quais peças estão ali, mas dirigindo é possível saber se o motor é mais potente ou se as rodas estão mais estáveis.
Falas dos dirigentes apontam para uma guinada no modelo de negócio.
Em julho do ano passado, Adam Mosseri, executivo que comanda o Instagram, afirmou que a rede social não era mais “um app de compartilhamento de fotos”. “O vídeo está gerando grande crescimento online para todas as plataformas agora, e acho que é uma área em que precisamos nos esforçar mais.”
A pressão do público fez o Instagram recuar na última quinta-feira (28). A Meta, dona do Facebook, Instagram e Whatsapp, anunciou que está diminuindo temporariamente o número de recomendações de desconhecidos no Feed e pausando em todo o mundo o teste de tela cheia.
“Entendemos que as alterações no aplicativo demandam adaptação e, embora acreditemos que o Instagram precisa evoluir à medida que o mundo também se transforma, queremos tomar o tempo necessário para garantir que isso seja feito da melhor forma possível”, afirmou em nota um porta-voz da Meta.
O recuo aconteceu na mesma semana em que a empresa registra a sua primeira queda trimestral de receita.
Entre os anúncios dos últimos dias está o recurso “dual camera”, que permite fotografar com as câmeras frontais e traseiras simultaneamente, ferramenta que já existe no BeReal.
Para Poulain, a tentativa não deve ser suficiente para voltar a usar a rede para assuntos pessoais.
“Estou com preguiça do Instagram. Tenho usado cada vez menos. Uso muito para responder às pessoas e pelo meu trabalho, mas para olhar feed e stories cada vez uso menos”, afirma. “O que estão pedindo é o que o BeReal tem sido para mim. Eu tenho poucas pessoas ali e estou vendo momentos ordinários da vida delas.”
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