*José Lucio Glomb
Para trabalhos especializados, trabalhadores especializados. Por mais lógico que pareça o raciocínio, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que as empresas brasileiras consigam levá-lo ao pé da letra. No Brasil, a falta de adequação comportamental e de qualificação profissional são citadas como as principais dificuldades encontradas por 48% dos recrutadores na hora de contratar jovens talentos. O dado é de uma pesquisa realizada pela Catho.
Preparar os jovens para o mercado de trabalho é um desafio em um país que ainda luta para melhorar até mesmo a educação básica. Mas é um dos caminhos mais promissores para construir uma economia fortalecida, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Capacitar quem ainda não começou sua vida profissional é uma forma eficaz de garantir mão de obra com as características necessárias para os diversos setores produtivos.
Para acelerar esse processo e assegurar um crescimento monitorado dos jovens foi criada, em 2000, a Lei de Aprendizagem. Ela determina que toda empresa de médio e grande portes deve contratar aprendizes na faixa etária dos 14 aos 24 anos. O foco do programa está no acompanhamento dessa primeira experiência profissional com uma equipe multidisciplinar, além de oferecer aos jovens um vínculo de trabalho formal, com carteira assinada, uma renda fixa e todas as garantias trabalhistas. Assim, se, por um lado, o Programa de Aprendizagem dá às empresas a oportunidade de qualificar seus colaboradores desde o primeiro momento, por outro ele protege os direitos de quem participa dele.
Nessa outra ponta da relação, aliás, os ganhos são ainda mais significativos. O Programa de Aprendizagem tem um forte papel social de inclusão. O aumento do desemprego no país é uma triste realidade e atinge especialmente a população mais nova, mais pobre e com menor grau de escolaridade. Os avanços da aprendizagem nesse sentido são imensos. É por meio dela que um grande contingente de jovens consegue romper o ciclo de pobreza em que nasceu.
Não se trata de uma solução para todos os problemas relacionados ao emprego, naturalmente. Há outras questões envolvidas quando se pensa em um projeto que ajude a evitar que as pessoas fiquem sem trabalho. No entanto, ela corrige uma lacuna importante deixada pela baixa qualidade do ensino e pela falta de condições dignas de moradia, saúde e alimentação, por exemplo. Os resultados podem ser vistos conversando com jovens que foram inseridos no mercado por meio do Programa de Aprendizagem.
Testemunhos dessa transformação se encontram aos montes no Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR). De jovens que foram efetivados ao final do programa a jovens que usaram as lições aprendidas para iniciar seu próprio sonho empreendedor. Essa é, então, uma ferramenta fundamental e eficaz, mas não pode ficar estagnada. Afinal, já se completam 21 anos desde sua implementação.
Outro aspecto importante do programa é o estímulo para que os matriculados busquem uma formação contínua ao longo da vida. Isso é feito por meio de uma orientação personalizada com psicólogos, assistentes sociais, instrutores e outros profissionais. Segundo um levantamento do Datafolha, 43% de todos os jovens aprendizes do CIEE entre 2016 e 2017 se matricularam em uma graduação. Um passo notável para quem, até pouco tempo antes dessa oportunidade, muitas vezes estava lidando com uma situação de completa vulnerabilidade social. A conclusão não chega a ser uma novidade: muitos jovens brasileiros só precisam de uma chance para mudar o rumo de suas trajetórias.
Enquanto isso, as organizações podem moldar aquele colaborador do zero, de acordo com as necessidades de cargos, funções e quadro de funcionários. Quando o trabalho de inserção desse jovem é bem feito, gera-se uma identificação quase emocional entre as duas partes, que podem crescer juntas. Investir e contribuir para a melhoria de iniciativas como o Programa de Aprendizagem é investir e contribuir com o futuro da economia brasileira.