*André Franco
Na sala de paredes um tanto descascadas, com papel de parede já demonstrando sinais de desgastes, onde o silêncio gritava sons de descontentamento, o Terapeuta Thomaz observava os ponteiros do seu relógio darem voltas, aguardando a paciente atrasada. A chuva tamborilava na janela, como se as nuvens operassem um verdadeiro desabafo.
A porta rangeu e ela entrou. Marta possuía o rosto cansado e olhar opaco. Vestia-se com decoro e sobriedade, trajes de quem se habituou a esconder as cores e a simpatia. Sentou-se à beira do divã sem parcimônia, como quem não se dá mais ao luxo da delicadeza e boas maneiras.
— doutor, na realidade, não sei por onde começar minhas reclamações — disse, após um suspiro de quem parecia carregar lajotas.
Thomaz não a apressou. Olhava, assentindo com um leve aceno de positivo, convidando-a a prosseguir.
— Tudo está dando errado. Fui dispensada do emprego, quem eu amava me trocou por uma outra mais nova, e essa dor no peito… dizem que é ansiedade, mas parece mais um vazio de vida, de ambição. Já não sei o que vale a pena.
Ele a escutava como se recolhesse louças dispensas, uma a uma, com cuidado e discrição. Quando finalmente falou, foi assertivo e em uma oração:
— Marta, você já ouviu falar do medo invisível?
Marta franziu a testa.
— O renomado escritor Napoleon Hill fala disso. Ele argumenta que os maiores cárceres do homem não são de pedra ou de aço. São aqueles que construímos interiormente, com tijolos feitos do medo do fracasso, da rejeição, do medo da pobreza, da doença e da morte. O medo enrijece, paralisa, cria fibras tão densas que esquecemos que ainda temos asas, que podemos alçar voos maiores.
Ela olhou para o lado desviando o pensamento, tocada.
— Mas como enfrentar o medo? Como sair disso?
Thomaz se inclinou um pouco, dando representação de interesse:
— Primeiro, reconhecendo que esses medos são próprios, aprendidos em momentos da vida. São vozes que não são suas, mas que você assumiu e passou a repetir. Depois, fazendo um pacto consigo mesma: de não ser mais cúmplice das próprias prisões. A ação é o antídoto do medo. Enfrentar é o lema!
Mariana deixou cair uma lágrima. Não de dor, mas de alívio. Precisava ter coragem para enfrentar seus medos. Como se, pela primeira vez em muito tempo, tivesse vislumbrado uma luz, uma porta aberta.
— E se eu falhar?
— Você vai falhar. Todos nós falhamos. Mas falhar tentando é melhor do que definhar paralisada. Veja a falha como crescimento. A vida não exige perfeição, Marta. Só coragem de tentar outras vezes.
O relógio continuava sua marcha, impassível. Lá fora, a chuva começava a cessar, e um tímido raio de sol se insinuava por entre as nuvens. Dentro da sala, a alma de Marta, aos poucos, também ensaiava um primeiro feixe de luz.
Dr. Thomas, mais uma vez ensina que tudo que alguém precisa é de uma escuta sincera e uma faísca de esperança. A serenidade de sua voz e olhar firme e convicto, eram capazes de acender velas em noites de apagão.