*Hudson José
Quase todo mundo concorda em viver em um ambiente saudável e sustentável. Em combater a pobreza e as desigualdades e agir dentro dos princípios legais. E isso tudo pode ser resumido em três letras: ASG, ou na festejada versão em inglês ESG, que significam Ambiental, Social e Governança e traduzem, de forma resumida, um modo de viver e produzir respeitando os valores que acompanham a sigla e de reverter tendências para que possamos garantir a nossa existência futura e a das próximas gerações de forma equilibrada.
O que quase ninguém admite é que há um grande abismo entre discurso e prática, entre a intenção e a ação, e na própria atenção a cada uma das letras dos princípios de ASG. Apesar de ainda ser subestimada pela maioria, a urgência da necessidade de combater as mudanças climáticas é o tema que ganha espaço na mídia e em todas as discussões. O A, de ambiental, se sobressai.
Vivemos isso mais recentemente, quando a crise hídrica tanto na geração de energia como na reservação de água, focou o olhar da sociedade para temas como mudanças climáticas, transição energética, impacto nos recursos hídricos e preservação da biodiversidade. Aprendemos que, não importa onde você mora, onde você vive, as mudanças climáticas não têm fronteiras. Na verdade, não podemos mais chamar de mudanças climáticas e sim de “mudanças urgentes”, expressão já absorvida nas análises.
Esse processo disruptivo, essa urgência, tem que ser efetivado nas questões ambientais mas precisa estender-se com igual intensidade também à diversidade, à inclusão social e às boas práticas de gestão, tanto pública como das empresas. E faremos isso somente se houver intencionalidade. Temos que ter a intenção para agir de forma diferente.
Se os desafios à frente são gigantes, também são as oportunidades. Consolidar as trajetórias de uma economia verde, inclusiva e justa, dá lucro. De acordo com a Bloomberg, plataforma mundial de informação econômica, em 2020 os fundos que investiram ou adotaram estratégias relacionadas ao ASG aumentaram seus ativos em 32%, na comparação anual, para um novo recorde de US$ 1,82 trilhão. Segundo números da Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), que reúne organizações de investimentos sustentáveis em todo o mundo, há US$ 35 trilhões investidos em uma ou mais das cinco abordagens ASG, da mais pragmática à mais ativista. Segundo a Morningstar, que avalia fundos de investimento, existem US$ 2,7 trilhões em fundos que se vendem como ASG e operam realmente com lentes ambientais, sociais e de governança sustentáveis.
Há um claro movimento que está transformando o que era apenas tendência em realidade. Desempenhar uma gestão competente dentro dos princípios de ASG tornou-se indispensável. Precisamos repensar, rever, olhar de forma diferente o mundo ao nosso redor.
O desafio está em engajar todos. Promover uma agenda que compartilhe valores comuns. A janela temporal está cada vez menor. Desde que apareceu pela primeira vez o termo ASG, em 2004, adotado por um grupo de pesquisadores de um braço do programa ambiental da ONU que cuidava de finanças, o Unep-FI, o mundo assistiu a grandes catástrofes ambientais, ficou horrorizado com cenas e ações extremas de preconceitos e perdeu bilhões de dólares em práticas de corrupção.
De 2004 até agora são 18 anos. Tempo suficiente para o surgimento de quase duas gerações. Nos últimos anos, com o avanço da tecnologia e novos estudos, estima-se que a duração de uma geração reduziu-se para 10 anos. Todos nós, sejamos das gerações dos Tradicionalistas, Baby Boomers, Geração X, Geração Y, Geração Z, ou até a nova geração Alfa que está surgindo, precisamos nos voltar à agenda ASG.
A balança que equilibra de um lado os problemas crescentes e de outro as soluções que precisam ser implementadas de forma rápida e duradoura, aponta que já passou do tempo de agir. Temos de discutir toda a pauta e todas as letras da sigla ASG com urgência e partir para a sua efetivação.
Vivemos, com intensidade, uma nova fase de investimentos ASG marcada pela necessidade de uma resposta mais ampla e rápida por parte de empresas e gestoras de recursos, o que aumenta o impulso para os investidores saírem do plano da ideia, e partirem para a ação. É necessário intensificar esse diálogo.
*Hudson José é jornalista, diretor de Comunicação e Marketing da Sanepar e membro do Comitê Estratégico de ASG na Companhia de Saneamento do Paraná