REINALDO SILVA
reinaldo@diariodonoroeste.com.br
Há cinco anos, a vida de Santino Biava mudou completamente. Após perder os movimentos das pernas, a família se viu em uma situação difícil, pois não tinha condições de oferecer os cuidados de que ele necessitava. A decisão foi levá-lo a uma instituição de longa permanência, a escolha foi o Asilo Lins de Vasconcelos, em Paranavaí. Adaptar-se à nova rotina não foi fácil para seo Santino: para quem trabalhava na roça todos os dias, permanecer parado por tanto tempo se tornou um grande desafio.
Quando chegou à instituição, não saía da cama sem ajuda. A fisioterapia transformou o desconsolo em esperança. A evolução é percebida pouco a pouco. Seo Santino já consegue ficar sentado em uma cadeira de rodas, arrisca alguns passos durante as sessões de tratamento e pode mexer os pés. Faz movimentos circulares para comprovar. Olha esperançoso para o próprio corpo e diz: “Tenho certeza que vou voltar a andar”. A máscara esconde os lábios, mas é possível ver que sorri.
A sobrinha Marlene Biava Shiguemoto, de Alto Paraná, faz visitas e acompanha a estada do tio no Asilo Lins de Vasconcelos. “A presença da família é fundamental.” Sente tranquilidade quando vê que os cuidados diários da equipe de profissionais estão tendo resultados positivos e agradece por estarem sempre em contato para atualizar a situação do tio Santino. “Ele encontra apoio e é tratado com muito carinho. Sinto como se aqui fosse uma grande família para ele.” O aposentado de 71 anos de idade concorda: “Sinto muita alegria, nunca estou sozinho”.
A história de seo Santino é compartilhada com outras 25 pessoas que moram no asilo. Atualmente, a instituição abriga 16 homens e 10 mulheres, todos acima dos 60 anos. São encaminhados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), geralmente quando os familiares não conseguem prestar a assistência devida. Os recursos para manter a estrutura são provenientes do convênio com a Prefeitura de Paranavaí, que garante repasse mensal de R$ 1.035 por interno. Também, parte da aposentadoria dos idosos é utilizada para complementar as despesas.
Surto de Covid-19 – Mesmo com os cuidados diários e o cumprimento dos protocolos de biossegurança, em setembro deste ano foi identificado um surto de Covid-19 no Asilo Lins de Vasconcelos. “Momento de muita tensão e medo”, conta a fisioterapeuta e coordenadora de projetos Vanessa Bonetti Moraes. Ela trabalha na instituição há 13 anos e nunca tinha vivenciado uma situação tão grave. 23 moradores precisaram ser internados por causa das complicações no quadro de saúde. Sete morreram. Alguns ainda enfrentam sequelas provocadas pela doença.
Seguindo recomendações da Vigilância Sanitária, a equipe do asilo intensificou as medidas de prevenção. As visitas agora são controladas mais de perto: é preciso fazer a higienização das mãos, usar máscara facial e manter o distanciamento. Um de cada vez, sem aglomerações, por curto período. Quando os familiares querem manter contato por mais tempo, fazem chamadas de vídeo. “No começo eles estranhavam, não sabiam como conversar. Hoje se acostumaram e até pedem para ligarmos para a família”, explica Vanessa Bonetti Moraes.
A cada 15 dias, os internos são testados. No último período de exames, todos tiveram resultados negativos, comemora a fisioterapeuta. Nesta semana, os idosos e os profissionais receberam a terceira dose da vacina contra a Covid-19. “Eles são muito conscientes, ficaram felizes quando foram vacinados.” Agora, o Asilo Lins de Vasconcelos espera o fim da pandemia e as novas diretrizes da Vigilância em Saúde para que as visitações sejam retomadas normalmente.
Ajuda da comunidade – A situação enfrentada na instituição entre setembro e outubro mobilizou a comunidade. Se antes as doações já eram frequentes, o surto da doença despertou de forma mais intensa a solidariedade da população de Paranavaí. “A ajuda é sempre bem-vinda”, resume a fisioterapeuta. Atualmente, as principais necessidades são itens da cesta básica – óleo, açúcar, café… “A maioria das pessoas liga perguntando o que precisa, depois vem trazer.”
Algumas campanhas anuais de arrecadação de verbas para as despesas diárias precisaram ser interrompidas por causa da pandemia de Covid-19. A coordenadora de projetos do asilo cita os jantares árabes e as promoções de vendas de refeições. Contribuem para a manutenção da instituição as doações através do Imposto de Renda e o apoio de empresas e cooperativas financeiras.
Dia a dia – “Não posso participar das atividades, mas gosto de conversar com todo mundo”, conta seo Santino, referindo-se ao fato de estar em uma cadeira de rodas e ter os movimentos das pernas limitados. Mesmo assim, ele acompanha os momentos em grupo. Após o café da manhã, os idosos fazem alongamento, participam de rodas de bate-papo, contam histórias. Podem assistir a filmes e documentários.
Almoçam às 11 horas. Se quiserem, podem tirar um cochilo depois de comer, ou simplesmente conversar entre si e com os funcionários. Às 14h, tomam o café da tarde. O jantar é servido às 17h. À noite, por volta das 20h, fazem um lanche leve e vão dormir em seguida.
O trabalho com os idosos não poderia ser mais gratificante, Vanessa Bonetti Moraes. “Gosto muito do que faço. Quando vejo o olhar de gratidão pelo que estamos fazendo e vejo a evolução de cada um, me sinto realizada.” Alguns dias são mais difíceis, pois nem sempre os moradores estão bem-humorados. “Às vezes a gente percebe que estão tristes, sentem o abandono e a solidão. Nesses momentos, é preciso garantir que se sintam acolhidos.”
Além da equipe administrativa e da fisioterapeuta, o Asilo Lins de Vasconcelos conta com profissionais das áreas de psicologia, assistência social e educação social. Há, ainda, cozinheiras e zeladores.
Serviço – O Asilo Lins de Vasconcelos fica na Avenida Martin Luther King, 3.555, Jardim Farroupilha, na região da Vila Operária. O telefone para contato é (44) 3423-1215.