Morreu o ator Milton Gonçalves nesta segunda-feira (30), aos 88 anos, em sua casa no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela assessoria da TV Globo.
O ator teve um AVC em 2020, e chegou a ficar três meses internado e precisou de aparelhos para respirar. Desde então, enfrentava complicações de saúde.
Nascido em 9 de dezembro de 1933, na cidade de Monte Santo, Minas Gerais, foi casado por 50 anos com Oda Gonçalves, morta em 2013, com quem teve três filhos.
Ele ficou célebre pela vasta carreira no teatro, no cinema e na televisão, tendo em dezenas de novelas da TV Globo, como “Irmãos Coragem”, “Sinhá Moça” e “O Rei do Gado”. Também estrelou grandes filmes do cinema nacional, como “Macunaíma” e “O Anjo Nasceu”. Quando ganhou do amigo um ingresso que havia acabado de imprimir na gráfica onde trabalhava, Milton Gonçalves nem imagina que estava prestes a transpor o umbral de sua vida. Foi ao teatro, na Praça da República, em São Paulo. E se encantou para sempre.
Cinema já havia assistido, mas aquele pessoal em carne e osso, na sua frente, fazendo a mágica do faz-de-conta foi muito melhor. É isso o que quero fazer, pensou. E logo depois conseguiu um papel num infantil, “O Soldado de Chocolate”.
A cor negra da pele facilitando a entrada –e depois, ao longo de toda a carreira, sendo seu mote de luta para a valorização dos atores negros. No mesmo palco em que estreou, ganhou um papel em “O Dote”, de Arthur Azevedo.
Durante a temporada de “O Príncipe e o Lenhador”, uma noite o grande Gianfrancesco Guarnieri esteve na plateia. E gostou do que viu. Levou Milton para o Teatro de Arena, onde fervia a arte e a militância política dos anos 1950 e 1960. Trabalhou sob a direção de Augusto Boal em “Ratos e Homens”, baseado no romance de John Steinbeck, e em “A Mandrágora”, após fazer o papel de um escravo, acabou substituindo o próprio Guarnieri.
Em 1958, o mineiro nascido numa família de poucas posses, mudou-se para o Rio de Janeiro, que considerava um canto mais democrático e menos preconceituoso do que São Paulo.
Apaixonou-se pela cidade e, sete anos depois, foi chamado para trabalhar numa televisão que começava na rua Pacheco Leão –a TV Globo. Ali, todo o conhecimento adquirido em palcos, coxias e cabines de luz transformou-se em trabalho diário. Como ator, em “Pecado Capital”, “Selva de Pedra”, “Baila Comigo”, “Carga Pesada”, “A Grande Família”, foram mais de 60 novelas e séries. Foi diretor também, como em “Irmãos Coragem” e “A Escrava Isaura”, entre outros.
Ao mesmo tempo, começaram a aparecer trabalhos no cinema, tais como “O Grande Momento”, “Macunaíma” e “A Rainha Diaba”, pelo qual ganhou os quarto principais prêmios cinematográficos. Participou de cerca de 50 filmes. Em 2011, atuou ao lado de Grazi Massafera e Selton Mello em “Billi Pig”.
Militante ferrenho pelas causas antirracistas, chegou a se candidatar ao cargo de governador do Rio de Janeiro, em 1994. Antes havia tentado se eleger deputado federal. Acabou se concentrando novamente na desestigmatização do negro na arte –e na vida. E frequentou desde sempre o candomblé.
De jeito pacato, mas firme, em 2017 protagonizou um estresse no Multishow onde dava entrevista. Ofendido pela atitude debochada do apresentador ameaçou sair do programa ao vivo.
Muitos anos antes, na mesma batida de dignidade e retidão, sugeriu que lhe dessem um papel onde vestisse terno e gravata e tivesse todos os dentes. Mesmo sendo negro. Dali surgiu o inesquecível Dr, Percival, de “O Pecado Capital”, novela de Janete Clair de 1975.
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