REINALDO SILVA
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Médico da Santa Casa de Paranavaí, chefe da UTI da Ala Covid, Bruno Leal foi o primeiro a receber a vacina contra o coronavírus no Noroeste do Paraná, no dia 19 de janeiro. Entusiasta da imunização em massa e defensor da ciência, ele chama a atenção para o agravamento dos sintomas da Covid-19 em pessoas que não completaram o esquema vacinal. Ele calcula que atualmente, aqui, como no cenário nacional, a cada 20 pacientes jovens e adultos que morrem por complicações da doença, apenas dois estão com todas as doses em dia.
Na comparação com o primeiro semestre deste ano, quando a vacinação ainda não havia alcançado grande parte da população, o número de internações na UTI da Ala Covid teve queda de 70% a 80%. A redução drástica comprova a eficiência dos imunizantes, diz o intensivista. A despeito dos resultados, ainda há quem recuse a vacina, principalmente por causa da disseminação dos discursos negacionistas.
Existe uma grande falha na comunicação. Segundo Bruno Leal, pacientes estão sendo orientados a fazer tratamentos alternativos, com a garantia de prevenção ou, até mesmo, de cura da doença. A postura antiprofissional está custando caro. “Estão chegando gestantes e puérperas em situação grave que não se vacinaram por recomendação médica. Damos um bom suporte de terapia intensiva, mas os riscos são maiores: temos que cuidar da mãe e do bebê, e isso exige um esforço enorme.”
Bruno Leal afirma que existem médicos que atuam em outras especialidades (que não pneumologia, infectologia e terapia intensiva) indicando medicamentos comprovadamente ineficientes contra a Covid-19. Em algumas situações, os pacientes chegam a pagar quase R$ 10 mil por remédios utilizados em tratamento de pessoas com câncer. Sem os resultados esperados, buscam atendimento na Santa Casa de Paranavaí, já com quadro clínico agravado. “São pacientes tratados por quem não tem habilidade.”
De acordo com o médico-intensivista, a ciência aponta três barreiras de proteção contra o coronavírus. A primeira é o sistema imunológico inato – algumas pessoas desenvolvem defesas eficazes sem a necessidade de componentes externos. A segunda consiste nos cuidados diários para evitar o contágio: uso de máscara facial, higienização constante das mãos com álcool em gel e distanciamento social. A terceira barreira é a vacinação.
Com base em informações do Sistema Único de Saúde (SUS), Bruno Leal estima que 18 milhões de brasileiros não tenham completado o esquema de imunização, mesmo o país sendo um grande exemplo de estratégia de vacinação pública. “É impressionante como o Brasil falhou na maior pandemia dos últimos 50 anos.” A demora na distribuição de imunizantes e os constantes ataques à ciência resultam em uma “conta impagável para quem perdeu um ente querido”, lamenta o chefe da terapia intensiva.
Ontem, a Ala Covid da Santa Casa de Paranavaí tinha 10 pacientes, sendo sete em leitos de UTI (29% de ocupação) e três na Enfermaria (19% de ocupação). No período de 24 horas entre terça e quarta-feira não foram registrados óbitos e houve apenas um internamento, um homem de 85 anos, morador de Planaltina do Paraná.