LUCAS BOMBANA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A presidente do BB (Banco do Brasil), Tarciana Medeiros, afirmou nesta terça (16) que o banco não vai adotar uma estratégia de atuação no mercado que não seja sustentável na concessão de crédito.
“A possibilidade de atuar com uma política que não tem amparo técnico está fora de questão”, afirmou a executiva durante conversa com jornalistas para comentar os resultados do banco no primeiro trimestre, período em que o BB lucrou R$ 8,5 bilhões, alta de quase 30% em bases anuais.
Sinalizações recentes do governo já indicaram o uso de políticas parafiscais para estimular a economia por meio da oferta de crédito pelos bancos públicos.
Em declarações no início de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que vai lançar um programa para que os bancos públicos e de desenvolvimento sejam usados para a promoção de investimentos, gerando empregos e contribuindo para um melhor desempenho da economia.
Os bancos públicos “vão voltar a investir dinheiro para gerar emprego, gerar desenvolvimento e gerar a distribuição de renda efetiva para esse país”, afirmou o presidente na ocasião.
Em março de 2023, a carteira dos bancos públicos cresceu acima dos privados pela primeira vez desde 2016.
“Não vemos mais políticas anticíclicas sem um modelo técnico que ampare a concessão de crédito sustentável”, disse a presidente do BB.
Tarciana afirmou que o lucro do Banco do Brasil será proporcional ao seu potencial de negócios e que “o que nos torna únicos no sistema financeiro é conciliar nossa atuação comercial com nossa função pública.”
Nesse sentido, a executiva destacou que o banco desembolsou R$ 3,1 bilhões no crédito consignado para beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), crescimento de 79% na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo a presidente do BB, o consignado do INSS é um dos principais focos da estratégia de crescimento do banco em 2023.
“O BB ainda não alcançou a fatia justa nesse mercado”, afirmou, acrescentando que o banco tem cerca de R$ 20 bilhões no segmento, que soma uma carteira global no mercado ao redor de R$ 250 bilhões.
A presidente do banco disse ainda que o programa Desenrola, voltado para renegociação de dívidas, deve ser lançado pelo governo federal entre o final do primeiro e o início do segundo semestre. Ela afirmou que o entrave para o início do programa se deve principalmente ao desenvolvimento de aspectos tecnológicos relacionados à plataforma que vai reunir credores e devedores. “Seremos um dos bancos que vai atuar com a solução que está para chegar.”
AGRO
Tarciana afirmou também que o agronegócio “é e sempre será estratégico para o BB”. A carteira de crédito do agronegócio foi a responsável pelo maior crescimento do banco no primeiro quarto do ano, em torno de 26%, e impulsionou a expansão dos resultados de forma mais ampla.
A presidente do BB assinalou que o banco alcançou R$ 3 bilhões em intenções de negócios durante a feira agrícola Agrishow, acima da expectativa de atingir um valor de R$ 1,5 bilhão.
“Temos uma parceria com a Agrishow e diversas outras feiras há quase 30 anos e nesse ano não foi diferente. Estivemos lá com presença comercial”, afirmou a executiva. A edição de 2023 da feira agrícola foi marcada por uma tensão com o governo.
No dia 25 de abril, o ministro Carlos Fávaro (Agricultura) disse ter se sentido ‘desconvidado’ após ser informado pelo presidente da feira, Francisco Matturro, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participaria da cerimônia de abertura. Três dias depois, o governo federal ameaçou cancelar o patrocínio do Banco do Brasil à feira, o que não se confirmou.
“O BB é o banco do agronegócio brasileiro e vamos consolidar essa posição cada vez mais”, disse Tarciana.
Vice-presidente de gestão de risco, Felipe Prince afirmou que, frente ao patamar historicamente baixo no qual se encontra, é natural esperar algum aumento do índice de inadimplência da carteira agro do banco. A taxa de atrasos acima de 90 dias do segmento encerrou março em 0,59%, enquanto o índice de inadimplência consolidado do banco foi de 2,62%.
“O agro vem performando muito bem, mas traz consigo o menor índice histórico de inadimplência. É natural que possa haver uma pequena oscilação dentro desse mercado, mas nada que nos chame a atenção”, afirmou Prince, acrescentando que, no caso da pessoa física, a expectativa do banco é que o pico já tenha sido alcançado. A inadimplência da carteira pessoa física foi de 5,39% em março, contra 5,44% em dezembro. “Acreditamos que o pico ficou lá em dezembro.”
AMERICANAS
O vice-presidente do banco abordou também as tratativas em curso entre credores e a Americanas, que entrou em recuperação judicial no início do ano com dívidas ao redor de R$ 40 bilhões.
Prince afirmou que as negociações evoluíram a um termo melhor que o oferecido inicialmente em janeiro e que a intenção é caminhar para uma conclusão das discussões até o final do segundo trimestre. A visão está alinhada com a transmitida pelos presidentes dos bancos privados Bradesco, Santander e Itaú, que também esperam por uma conclusão das tratativas até junho.
“Temos a expectativa que isso se encerre até junho, e lá a gente pode ou não reavaliar os nossos volumes de provisões atrelados ao ativo”, disse o executivo. O banco fez uma provisão de R$ 788 milhões para se precaver contra o risco de calote da dívida da varejista no balanço.