REINALDO SILVA – reinaldo@diariodonoroeste.com.br
“Não acredito que vai mudar. Não tenho essa esperança.” Tânia Mara Biazus é moradora da Vila Operária, em Paranavaí, e já perdeu as contas de quantas vezes enfrentou problemas em razão do depósito de lixo a menos de 200 metros de casa, no chamado “Buracão”.
Por décadas, o terreno é utilizado para o descarte de resíduos sólidos e se tornou um lixão a céu aberto. São quase 40 anos de acúmulo de materiais, muitos deles inflamáveis, com incêndios recorrentes e fumaça se espalhando por toda a vizinhança e invadindo os imóveis.
“Uma falta de respeito com os moradores”, diz Tânia Mara ao ressaltar que há idosos, pessoas com deficiência ou acamadas e crianças, todos “inalando fumaça tóxica”. Nas palavras da aposentada, “só quem sentiu na pele sabe”. Literalmente. Ela argumenta que conhece vizinhos que desenvolveram alergias e problemas respiratórios.
O aposentado Celso Delgado também é morador da Vila Operária. Convive com a situação há 20 anos e não demonstra convicção ao declarar que dias melhores virão. “Tivemos dias críticos, mas a situação está mais tranquila agora. Para resolver de vez, precisa que os políticos façam alguma coisa.”
As reclamações da população se acumulam. A solução definitiva parece distante, improvável, impossível. “Estou cansada”, desabafa Tânia Mara.
Audiência de conciliação – Nesta segunda-feira (29), uma audiência de conciliação pode apontar caminhos que levem os moradores da Vila Operária a recuperar a esperança. Depois de ouvir a comunidade, conhecer de perto as demandas e reunir documentos e depoimentos, o Ministério Público ingressou com ação judicial pedindo a atuação da Administração Municipal. Representantes das duas instâncias estarão frente a frente na tentativa de resolver a situação.
Não é um processo simples, ao contrário, requer uma soma de esforços, estudos e investimentos. Para o promotor Robertson Fonseca de Azevedo, a audiência será apenas mais um passo nessa longa trajetória.
Audiências públicas, análises técnicas, projetos, anúncios. Até o momento, a teoria sobressai à prática e o que existe de concreto é o controle mais intenso do que é depositado no “Buracão” da Vila Operária. Se antes eram descartados grandes volumes de lixo doméstico, materiais hospitalares e até mesmo animais mortos, a determinação é que sejam levados ao terreno apenas restos de construção civil.
Frustração – A Prefeitura de Paranavaí chegou a cercar o local e definiu o fechamento, mas voltou atrás em razão da falta de novos pontos para o descarte de resíduos.
Em entrevista ao Diário do Noroeste no final de 2023, o prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (KIQ) disse que não ter resolvido o problema do “Buracão” foi uma das grandes frustrações até aqui.
A gestão municipal contava com a liberação de recursos do Governo do Estado para a construção de um parque urbano no local, mas pendências judiciais impediram o investimento.
Enquanto os trâmites se desenrolam, a intenção de KIQ é buscar junto ao governador Carlos Massa Ratinho Junior outras fontes financeiras, “recurso livre para que a gente toque essa obra”, explicou o prefeito.