REINALDO SILVA
Da Redação
Aila acompanha, atenta, cada movimento. Nas mãos do ilustrador José Carlos Lollo, o pincel desliza fácil sobre o papel em branco, e os traços coloridos se transformam em um personagem que a menina logo reconhece, o gato Chulé.
Chulé faz parte de uma coleção literária que ganhou as livrarias presenciais e digitais de todo o Brasil. Os livros infantis contam histórias de um cachorro chamado Pum, e o nome, claro, permite construções divertidas, como é o caso do primeiro volume, “Quem soltou o Pum?”, editado pela Companhia das Letrinhas.
A escritora Blandina Franco e o marido Lollo são duas vezes vencedores do principal prêmio brasileiro de literatura, o Jabuti. Também receberam menção honrosa no prêmio João-de-Barro e o Selo Cátedra 10 da Unesco.
Os autores participaram da 43ª Semana Literária e Feira do Livro do Sesc Paranavaí. Conversaram com estudantes da rede municipal de ensino e responderam a uma série de perguntas feitas pelas crianças. Na ocasião, os dois concederam entrevista exclusiva ao Diário do Noroeste e falaram sobre essa parceria de sucesso.
HISTÓRIAS
O encontro de Blandina e Lollo, como são conhecidos, foi há quase 20 anos, entre 2005 e 2006 – eles não lembram exatamente.
Depois de escrever o primeiro livro, Blandina conversou com Lollo e pediu que fizesse as ilustrações. Ele topou. O trabalho levou os dois ao namoro, e foi nessa época que criaram o Pum.
Lollo resume: “O Pum saiu de um cachorro que se chamava Ênio”. Era o animal de estimação de Blandina, e não é que soltasse puns, mas tinha um problema de pele que causava fortes cheiros. “Era fedido como um pum”, complementa o ilustrador.
Os dois começaram a fazer brincadeiras com a situação e dizer que deveriam prender o Pum ou que não poderiam soltar o Pum na frente das visitas. Desse jogo de palavras veio a inspiração para o primeiro livro da série, hoje com sete volumes.
Os títulos são divertidos e chamam a atenção do público infantil. Entre as obras da coleção estão “Soltei o Pum na escola”, “Deixei o Pum escapar” e “O Pum e o Piriri do vizinho”.
Blandina e Lollo são autores de outras histórias. “A Raiva” é o primeiro livro infantil do casal editado em Portugal, na Turquia e na China.
“O curioso é que a China e a Turquia são países não só de línguas muito diferentes da nossa, mas também de costumes. [O livro] foi muito bem aceito nesses lugares. A gente entendeu que a raiva é um sentimento universal, independentemente da cultura”, avalia Blandina.
Em uma parceria com o padre Júlio Lancellotti, escreveram “Os pombos”, que narra como os pombos foram excluídos na cidade onde vivem, uma metáfora com a realidade das pessoas em situação de rua. A obra foi classificada como melhor livro infantil pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
SEMANA LITERÁRIA
Blandina e Lollo são entusiastas de eventos como a Semana Literária promovida pelo Sesc. São fundamentais para a formação de leitores e para incentivar as crianças a se tornarem autoras. “É uma maneira de conhecerem esse universo”, sintetiza a escritora.
O contato com o público também é positivo para escritores, ilustradores e artistas de diferentes vertentes. “A gente não tem um feedback da editora a respeito do quanto o público gosta [da nossa obra]. Ter esses encontros ao vivo com as crianças é quando a gente sabe o que estão pensando dos nossos livros”, pontua Lollo.
AILA
Blandina e Lollo esperam pelo momento de se reunirem com os estudantes. Enquanto autografam alguns livros, a porta da sala abre e Aila entra acompanhada dos pais. Os dois se apresentam para os autores e dizem que a filha ama as histórias do Pum. Ela confirma com a cabeça, ainda tímida.
Fãs e ídolos conversam. Enquanto isso, Lollo ajeita o caderno, pega aquarela e pincel e começa a desenhar. Aila olha para o ilustrador, desconfiada, atenta.
Quando ele termina a ilustração, entrega para a menina. “Você conhece?” “É o Chulé.” “Um presente para você.” Aila recebe o desenho com aquele sorriso. Está feliz. Lollo a abraça. Também sorri. Está feliz.