REINALDO SILVA
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O greening é uma ameaça real à economia de Paranavaí. A constatação é do prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (Delegado KIQ), que concedeu entrevista coletiva à imprensa para falar sobre como a doença afeta a citricultura e põe em risco toda a cadeia produtiva, responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade.
Há dois anos, menos de 5% dos pomares comerciais de Paranavaí eram afetados pelo greening, mas a doença bacteriana avançou de maneira preocupante e hoje atinge quase 15%. A mudança de cenário chamou a atenção da engenheira agrônoma Marlene Calzavara, especialista na cultura de laranja. “De seis meses para cá, o problema se tornou visível para quem está em campo.”
O agroindustrial Gilberto Pratinha teme que a citricultura desapareça dentro de cinco anos, caso medidas rápidas não sejam tomadas. “O nível de desespero é grande.” Ele calcula que a área plantada em Paranavaí supere 6.000 hectares, número superior aos registros do Departamento de Economia Rural (Deral), do Governo do Estado, em torno de 3.600 hectares.
São mais de 3.000 empregos diretos – no campo e na indústria – e centenas de indiretos. É necessário unir esforços para manter esses postos de trabalho ativos, conforme defende o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí (Aciap), Rafael Cargnin. Para ele, evitar a propagação do greening é ponto nevrálgico. “Precisamos agir de forma rápida, com uma campanha séria.”
Medidas – A resposta do prefeito KIQ é a criação de um gabinete de crise que reúne representantes do poder público, profissionais técnicos, produtores e empresários. Pretendem lançar uma campanha de conscientização quanto ao plantio e ao cultivo de árvores cítricas fora de propriedades comerciais.
Sem os cuidados adequados, laranjeiras e limoeiros em vias públicas, fundos de vale, vilas rurais e quintais residenciais se tornam pontos de proliferação do mosquito transmissor do greening. A estimativa é que mais de 90% estejam doentes.
De acordo com o prefeito, a identificação dessas árvores em vias públicas é prioridade e até o final do mês todas serão erradicadas.
Outra medida será a atualização da lei municipal que proíbe o plantio, o comércio, o transporte e a produção de murtas, plantas que atraem o inseto transmissor. O texto é de 2007, ano em que uma grande mobilização tomou conta de Paranavaí com o mesmo objetivo, evitar o avanço do greening. “Vamos fazer tudo o que for constitucionalmente aceitável”, garante KIQ.
A ideia é que também haja fiscalização em propriedades não comerciais, com eventual corte dessas árvores. O prefeito insiste que os moradores pensem no bem coletivo, na economia do município. “Individualmente não vai significar muito.”
Gilberto Pratinha faz questão de enfatizar que as ações coordenadas são benéficas principalmente para produtores de pequeno e médio porte. Marlene Calzavara corrobora a afirmação explicando que propriedades com 30 mil pés ou menos não têm espaço suficiente para as chamadas bordaduras, plantas utilizadas para delimitar o perímetro do pomar e evitar que o inseto transmissor chegue ao restante das árvores.
Greening – Também conhecido como huanglongbing ou HLB, o greening ataca todos os tipos de citros e não há cura para as plantas doentes.
As árvores novas afetadas não chegam a produzir e as adultas em produção sofrem uma grande queda prematura de frutos e definham ao longo do tempo. A bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus é atualmente a principal causadora da doença no Brasil, presente em mais de 99% das plantas doentes.
Entrevista coletiva – Participaram da entrevista coletiva à imprensa, na manhã de ontem (13), o prefeito KIQ, a engenheira agrônoma Fátima Calzavara, o agroindustrial Gilberto Pratinha, o presidente da Aciap, Rafael Cargnin, o diretor de uma indústria de sucos e outras bebidas Albino Ferracini Neto e o presidente da Câmara de Vereadores de Paranavaí, Luís Paulo Hurtado.
A conversa com profissionais da imprensa foi agendada depois de o problema do greening ser discutidos com lideranças de diferentes setores econômicos, prefeitos da região e profissionais técnicos que atuam na citricultura. O encontro aconteceu segunda-feira (12).