A mandioca que está sendo entregue nas industrias paranaenses de fécula, farinha e beiju estão com a renda abaixo do esperado e com baixa qualidade. A produtividade das lavouras também caiu: a média de 50 a 60 toneladas por alqueire caiu para entre 30 e 40 toneladas.
O comentário foi feito na reunião do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP) pelo ex-presidente da entidade, Guido Bankhardt, realizada na sexta-feira (2). Segundo ele, esta situação ainda é decorrência dos fenômenos climáticos do ano passado e de pragas este ano: três geadas e depois a seca. No final de 2021 as lavouras foram infestadas por lagartas e em março deste ano pela mosca branca.
A esperança dos produtores era que, a partir deste segundo semestre, haveria uma melhora, o que acabou não acontecendo. “A mandioca nova, em alguns casos, está até pior, de baixa qualidade e baixo teor de amido”, diz Bankhardt.
Na avaliação dele, as lavouras que estão decepcionando pelo teor de amido serão todas colhidas agora. “Não vão deixar para o segundo ciclo, pois o teor de amido não vai melhorar. Só a mandioca boa é que vai deixar para o segundo ciclo”, acrescentou o ex-presidente do SIMP.
O impacto desta situação poderá ser sentido a partir de outubro, quando deve cair bastante a vinda de mandioca do Estado de São Paulo, que vinha abastecendo as indústrias paranaenses. “Em São Paulo, a mandioca tem que estar toda colhida até o final de setembro para começar o plantio de amendoim”, explicou.
Sobre a possibilidade de buscar mandioca no Mato Grosso do Sul, Bankhardt disse que as indústrias de mandioca daquele estado estão tendo dificuldades maiores para conseguir a matéria-prima. “Lá a disputa é maior, tanto que o preço da mandioca lá é maior que o do Paraná”, comentou.
Algumas indústrias do Paraná estão se abastecendo de mandioca produzidas em Minas Gerais. Mas o volume ainda é pouco e a maioria é transportada em “viagem de retorno” de caminhão, muitas vezes do próprio industrial, o que deixa o frete mais barato, compensando a aquisição naquele Estado. Mas ainda é cedo para saber se a produção mineira vai impactar no fornecimento de matéria-prima para as indústrias do Paraná.
Mercado – Não bastasse os problemas com a matéria-prima, o setor ainda enfrenta inconveniências com o mercado. Os industriais presentes na reunião do SIMP relataram que estão tendo dificuldades para repassar as altas dos custos de produção no produto industrializado.
Embora não no mesmo ritmo e nos mesmos índices, a alta nos custos de produção foi sendo repassada no produto industrializado. Mas agora, devido ao preço estar muito alto, houve uma retração do consumo, dificultando a comercialização da fécula. Assim têm indústrias trabalhando com capacidade ociosa pela dificuldade em vender a produção. Associados do SIMP contaram que a fécula caiu de preço em algumas regiões nas últimas semanas.
As indústrias de farinha também estão numa situação bem desconfortável, pois também sofrem com as questões relacionadas à matéria-prima e pela completa falta de mercado. Isto porque houve uma superprodução de mandioca no Nordeste Brasileiro ampliando a oferta e consequentemente abaixando o preço da raiz. Com isso, as farinheiras da região estão abastecendo o mercado interno e, ainda, comercializando sua produção em outras regiões consumidoras, como São Paulo e Rio de Janeiro, tradicionalmente abastecida pelo Paraná. Algumas farinheiras pararam sua produção há semanas.