A cruz poderia parecer o fracasso total da pretensão de Jesus de Nazaré: na hora da verdade, ele ficou sozinho, até o Pai parece tê-lo abandonado. Teria acabado a causa de Jesus?
Contrariamente ao que se poderia concluir diante do crucificado, sua causa não acabou. Bem sabemos que ela se desenvolveu de maneira extraordinária, contra todas as expectativas. Conforme o testemunho unânime de todos os escritos do N.T., o motivo da retomada bem mais forte do que antes – da causa ‘perdida’ de Jesus é a ressurreição. (At 2,36, 1Cor 15,15).
O testemunho da ressurreição de Jesus no Novo Testamento:
– Como é apresentada no N.T., a fé na ressurreição de Jesus? É mostrada de três maneiras fundamentais:
- a) Mediante confissões ou fórmulas de fé – o texto de 1Cor 15,3-5 constitui um bom exemplo. Trata-se de uma confissão de fé pré-paulina, recebida por Paulo da comunidade primitiva palestinense. É uma confissão que nos situa nos extratos mais antigos do Novo Testamento. Outros exemplos de confissões ou fórmulas de fé, também muito antigas, encontram-se em: Rm 1,3-4 – 10,9; At 1,23-24. Estas confissões ou fórmulas de fé, desenvolvidas provavelmente em ambiente litúrgico, constituem um resumo da pregação primitiva, do Kerigma pascal (anúncio da morte-ressurreição de Jesus Cristo, dimensão central da salvação). E como é que os discípulos ficam sabendo que Jesus está vivo ressuscitado? A resposta do Novo Testamento é clara: da ressurreição eles só têm notícia mediante as “aparições”. Nada se afirma a respeito do como teria ocorrido a ressurreição.
- b) Mediante testemunhas que afirmam a realidade da ressurreição (por exemplo, At 10,40-42
. Na fórmula já citada de 1Cor 15,3-5 estão incluídas as APARIÇÕES a Pedro e, posteriormente, aos Doze. Paulo acrescenta em seguida outras testemunhas (1Cor 15,6-8): são pessoas conhecidas que podem ser interrogadas sobre o seu testemunho. Também Paulo é testemunha, posto que foi destinatário de uma aparição. Nestes textos, tampouco se afirma algo a respeito de como ocorreu a ressurreição.
- c) Mediante relatos evangélicos sobre o ressuscitado (Mc 16,1-8 – Mt 28,1-20 – Lc 24,1-53 – Jo 20, 1-21-23). Estas narrativas apresentam lacunas e divergências de grande importância quando comparadas entre si. Os relatos só coincidem parcialmente na apresentação das testemunhas. Tudo isso parece indicar que, antes da redação final, que chegou até nós, existiam diversas correntes na tradição pascal.
Os relatos pascais têm como objetivo básico afirmar a realidade da ressurreição. Querem evitar a tentação de “espiritualizá-la”. JESUS INTEGRALMENTE CONSIDERADO, ESTÁ VIVO!
Daí a insistência em ressaltar a realidade corpórea da ressurreição. Jesus ressuscitado não é um espírito desencarnado (Lc 24,37-39): Ele conversa, come, etc., justamente para demonstrar a dimensão corpórea existente na vida nova do ressuscitado. Este é o mesmo que foi crucificado, a identidade entre os dois é sublinhada pelo relato que chama a atenção para o lugar das chagas no ressuscitado (Jo 20,24-29).
Por que esta insistência na dimensão corpórea da ressurreição? Existe importante motivação teológico-pastoral. Com efeito, no último quartel do século I, surge e desenvolve-se uma heresia conhecida como Docetismo: trata-se de uma interpretação dualista de Jesus Cristo e da salvação cristã. Uma vez que desprezava a matéria como intrinsicamente má, Deus não poderia ter-se encarnado de verdade. (Aqui compreende-se a insistência do evangelista João em afirmar: “O VERBO SE FEZ CARNE E HABITOU ENTRE NÓS.”), (Aqui também se incluem as conclusões do Concílio de Nicéia: Jesus é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus). Em consequência, a corporeidade de Jesus Cristo seria apenas aparente ou fantasmagórica. Nesta perspectiva, é claro que não se pode falar de uma ressurreição real do corpo. Para evitar a penetração na Igreja dessa interpretação que deturpa a própria essência da fé cristológica, os relatos insistem na realidade da presença do corpo do ressuscitado. Não obstante, é importante notar que se trata de uma corporeidade não vinculada ao nosso tempo e ao nosso espaço: Jesus entra e sai com a porta fechada, translada-se de um lugar para outro instantaneamente etc. O esquema teológico, próprio dos relatos pascais, visa mostrar também qual é o caminho para chegar-se à fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado. Esta finalidade aparece particularmente clara em Lc 24,13-35: OS DISCÍPULOS DE EMAUS CHEGA À FÉ PELA COMPREENSÃO DA PALAVRA DA SAGRADA ESCRITURA E PELA EUCARISTIA. Palavra e sacramento, mutuamente relacionados, formam a mediação para o acesso a Jesus, válida para todos os cristãos.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.
Lembrete: texto para o dia 14 de abril