“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos (astrólogos) do Oriente a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus recém-nascido? ’ Com efeito, vimos a sua estrela no Oriente e viemos homenageá-Lo”. (Mt 2,1-2)
Podemos de início destacar os significados teológicos e as oposições apresentadas na narrativa. HERODES, “rei dos judeus” e o RECÉM-NASCIDO (proclamado rei dos judeus pelos magos). JERUSALÉM, sede do poder de Herodes e dos sábios entendidos nas Escrituras, diz o texto que: “O rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém” (2,3). Eles sabem a resposta do que diz a Escritura: “E tu Belém, terra de Judá, de modo algum és menor entre as principais cidades da Judá, de modo algum és menor entre as principais cidades da Judéia, pois de ti sairá um chefe.” (Mq 5,1) que apascentará Israel, o meu povo” (2 Sm 5,2). OS PIEDOSOS DE JERUSALÉM, que esperavam o Messias Salvador e OS ESTRANGEIROS (PAGÃOS).
Na sua bênção, o patriarca Jacó diz profeticamente a seu filho Judá: “O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de chefe de entre os seus pés, até que o tributo lhe seja trazido e lhe obedeçam os povos” (Gn 49,10). Numa narração que trata da chegada do Davi definitivo, do recém-nascido, rei dos judeus que salvará todos os povos, é possível no horizonte de fundo perceber, de certo modo, essa profecia. “Eu vejo, mas não agora, eu o contemplo, não de perto: ‘um astro procedente de Jacó se torna chefe, um cetro se levanta, procedente de Israel” (Nm 24,17). É certo que a Estrela, de que fala Balaão, não é um astro; o próprio rei que deve vir é que é a ESTRELA que brilha sobre o mundo e determina o seu destino. No entanto, a ligação entre A ESTRELA E A REALEZA poderia ter gerado a idéia DE UMA ESTRELA QUE SERIA A ESTRELA DESTE REI E FARIA REFERÊNCIA A ELE.
Outro texto que se liga nesta liturgia e a PEREGRINAÇÃO DE TODAS AS NAÇÕES PARA JERUSALÉM, onde brilha uma LUZ para todos os povos. Eles vêm e trazem as riquezas para oferecê-las no templo do Senhor. (Is 60.). A presença de Javé se levanta sobre a cidade, manifestando aí sua glória. Sabemos que esse ideal não se concretizou em Jerusalém, pois ela recusou o Salvador. O Apocalipse 21 retoma a idéia e nos mostra “A NOVA JERUSALÉM”. “A cidade não precisa de sol, nem de lua que a iluminem, pois a glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o Cordeiro. As nações caminharão à sua luz e os reis da terra levarão a ela a sua glória.”
Na cultura helenística eram considerados “cultivadores de uma religião autêntica”, mas ao mesmo tempo, as suas idéias religiosas eram consideradas “fortemente influenciadas pelo pensamento filosófico”, a ponto de os filósofos gregos serem muitas vezes apresentados como seus seguidores.
Assim no N.T, encontramos ambos os significados de “magos”: na narrativa de Mateus sobre os magos, a SABEDORIA RELIGIOSA E FILOSÓFICA É CLARAMENTE UMA FORÇA QUE COLOCA OS HOMENS A CAMINHO; é a Sabedoria que leva em última instância a Cristo. Em tudo isso se faz presente uma linguagem de esperança. Mas tudo isso podia pôr a caminho somente quem fosse homem duma certa inquietação interior, homem de esperança, à procura da verdadeira ESTRELA DA SALVAÇÃO. Podemos fazer uma certa idéia sobre as convicções e os conhecimentos que levaram esses homens a ENCAMINHAR-SE PARA O RECÉM-NASCIDO “REI DOS JUDEUS”. Podemos, com razão, afirmar que representam o caminho das religiões para Cristo, bem como a autossuperação da ciência rumo a Ele.
Assim como a tradição da Igreja leu, com toda naturalidade, a narrativa de Natal tendo como horizonte de fundo Isaías 1, 3 e, desse modo, o boi, o jumento chegaram ao presépio, assim também leu a narrativa dos magos à luz do Salmo 72,10 e de Isaías 60. E assim os sábios vindos do Oriente tornaram-se reis e, com eles, entraram no presépio os camelos e dromedários. A tradição encarregou-se de desenvolver ainda mais a universalidade dos reinos desses soberanos, interpretando-os como reis dos três continentes conhecidos de então: África, Ásia e Europa. Deles sempre faz parte o rei negro: não há distinção de raça nem de proveniência, no reino de Jesus Cristo. N’Ele e por Ele, a humanidade une-se sem perder a riqueza da variedade.
Para os padres da Igreja os presentes oferecidos, significam: o ouro (realeza), o incenso (Divindade) e a mirra (paixão de Jesus). Os magos são símbolos dos que aceitam o poder de Deus manifestado no Menino Jesus – em primeiro lugar doando-se ao serviço do Salvador (prostram-se) e, em seguida, põem à disposição de Jesus o melhor do que possuem seus dons.
(texto tirado e redigido baseando-se em: A infância de Jesus de Joseph Ratzinger – papa Bento XVI e texto da Liturgia das Horas: Sermões de São Leão Magno – papa).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.