Aparecida, 16 de abril de 2024.
Mensagem ao Povo Brasileiro
Vós sois todos irmãos e irmãs (cf. Mateus 23,8)
Nós, bispos católicos do Brasil, iluminados por Jesus Ressuscitado, com fé e esperança, reunidos no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, de 10 a 19 de abril na cidade de Aparecida, SP, para a 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, dirigimos esta mensagem a todo o povo brasileiro.
Na Assembleia, tivemos a oportunidade de dialogar e refletir sobre a nossa participação na missão da Igreja e na sociedade. Foi um momento de comunhão e de valorização das nossas diversidades. Reafirmamos e renovamos nossa opção radical e incondicional pela defesa integral da vida que se manifesta em cada ser humano e em toda a Criação.
O tempo pascal nos impulsiona a renovar a esperança na certeza de que a morte foi e será sempre vencida. Os tempos atribulados exigem coragem e paciência para crescermos na Amizade Social (cf. Campanha da Fraternidade 2024). As muitas dificuldades ajudam a construir uma atitude de resistência e resiliência na busca por uma sociedade mais justa e fraterna, valores fundamentais do Reino de Deus.
O passado recente nos ensina que a busca de soluções para o Brasil passa necessariamente pelo diálogo e pelo entendimento. Muito do que superamos deveu-se à articulação entre agentes lúcidos e cidadãos compromissados com a vida, a democracia e o país. As instituições brasileiras e a sociedade civil são fundamentais nesse processo. Os três poderes da República são instados a viver o que preconiza a Constituição. Independência e harmonia não são opções de momento, são deveres permanentes e irrenunciáveis.
Na sociedade do diálogo, a paz é um imperativo. O primeiro dom do Ressuscitado foi de que a paz estivesse no nosso meio (cf. João 20,21). Papa Francisco recorda que a paz, por ação da força “mansa e santa” dos que creem, deve ser buscada como forma de “se opor ao ódio da guerra” (Papa Francisco, 1º. de janeiro de 2024). Desejamos paz para os e refugiados. Os gastos militares em 2023 foram os mais altos desde a Segunda Guerra Mundial, enquanto a fome cresceu e alcança parcela significativa da população mundial.
Acompanhamos com dor o crescimento do crime, das milícias, do narcotráfico, da violência nas cidades e no campo, do bullying, do vandalismo, do racismo, do feminicídio, do tráfico humano e da exploração sexual de crianças, adolescentes e vulneráveis; a realidade dos migrantes, do povo em situação de rua, da população encarcerada nos desafia profundamente; a corrupção, o nepotismo e o tráfico de influência violentam o país. Necessitamos construir a paz que nasce da justiça (cf. Isaías 32,17).
Esse cenário de violência se agrava pela precarização do mundo do trabalho e a tragédia do desemprego. Por ocasião da Festa do 1º de Maio, que se aproxima, a Igreja, inspirada em São José Operário, se une solidariamente aos trabalhadores e trabalhadoras nas suas memoráveis lutas por condições dignas de vida e trabalho, bem como com aqueles que continuam enfrentando antigos e novos problemas.
Entendemos que o Brasil necessita de um novo marco legal que garanta a prioridade do trabalho, do bem-estar humano e da geração de emprego e renda, principalmente para os jovens. Todos os segmentos da sociedade brasileira devem defender a vida na sua integralidade e agir solidariamente em prol de um país economicamente humanizado, politicamente democrático, socialmente justo e ecologicamente sustentável.
Dom Jaime Spengler Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre – RS Presidente da CNBB Dom João Justino de Medeiros Silva Arcebispo da Arquidiocese de Goiânia – GO 1º Vice-Presidente da CNBB Dom Paulo Jackson Nóbrega Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife – PE 2º Vice-Presidente da CNBB Dom Ricardo Hoepers Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília – DF Secretário-Geral da CNBB