“AQUELE QUE DESCEU É O MESMO QUE SUBIU…”
Por isso é que foi dito: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativos muitos prisioneiros, e deu dons aos homens”. Que significa “ele subiu”, senão que também havia descido às profundezas da terra? “Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher todas as coisas.” Ef 4,8-10
Hoje Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu. Suba também com ele o nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não as coisas terrestres”. Cl 3,1-2 E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido. O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra ao dizer: “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu” Jo 3,13 Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão ele, mas nele, pela graça também nós subimos. (dos Sermões de Santo Agostinho.)
Em At 1,1-11 Lucas narra a denominada Ascensão de Jesus ao céu, com todos os elementos da temática do Arrebatamento, conhecidos entre gregos e judeus helenistas (nuvem, instrução e exortação, promessa), nisso, um modelo concreto é também Elias. (At 1,8 e 2Rs 2,7-10). De fato At 1,1-11 não é repetição de Lc 24,51. O final do evangelho de Lucas e o início dos Atos querem que At 1,2 seja continuação de Lc 24,51; ao mesmo tempo, porém, as duas obras ficam claramente distintas. O evangelho de Lucas narra a vida de Jesus, do nascimento até a despedida, os Atos narram a missão da Igreja entre a ressurreição e a parusia, pois a proximidade do fim é negada (At 1,6). Jesus se despede, mas o Espírito continua a sua obra (At 1,7 e 1,11). Assim, os discípulos de Jesus não ficam órfãos; são batizados “com o Espírito Santo” (At 1,5; 1,8). Exatamente para marcar essa ruptura entre a comunhão terrena com Jesus e a comunhão com o Cristo Exaltado é que Lucas insere a NARRATIVA DA ASCENSÃO (AT 1) (que os evangelhos desconhecem nesses termos). E o faz com os mesmos temas do arrebatamento que usou no seu evangelho para a cena da despedida (Lc 24). Lc 24 encerra a atividade terrena de Jesus; At 1 é o começo de sua atividade celeste mediante o Espírito. (Jesus a história de um vivente – Edward Schillebeeckx)
“E o Senhor Jesus, depois de ter-lhes falado, foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16,19). O corpo de Cristo foi glorificado desde o instante de sua Ressurreição, como provam as propriedades novas e sobrenaturais de que desfruta a partir de agora seu corpo em caráter permanente. A última aparição de Jesus termina com a entrada irreversível de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu, onde já está desde agora sentado à direita de Deus. “E quando eu for elevado da terra atrairei todos os homens a mim” (Jo 12,32). A elevação na cruz significa e anuncia a elevação da Ascensão ao céu. A partir de agora, cristo está sentado à direita do Pai: “Por direita do Pai entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus antes de todos os séculos como Deus consubstancial ao Pai se sentou corporalmente depois de encarna-se e de sua carne ser glorificada. (Catecismo da Igreja Católica)
A aclamação de Jesus como Kyriós foi provavelmente a inovação mais incisiva depois da Páscoa. O ressuscitado foi adorado juntamente com Deus. E se sentou à sua direita (Sl 110,1; Mc 12,36; At 2,34; 1Cor 15,25). Ele participou do poder divino. Mas acima de tudo, Ele era agora chamado e adorado como Ser divino, embora como ser divino que como o hino filipense (Fl 2,6-11) experimentara antes de sua exaltação a vida humana em extrema baixeza – até a morte desonrosa na cruz. “Mas, porque ele foi obediente até a morte e morte de cruz o pai o exaltou e outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.” (Fl 2,8-11).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.