Nos últimos dias, muitas crianças e adolescentes retornaram aos bancos escolares. Começamos a ver, agora, os universitários que retomam suas atividades acadêmicas. Quanto mais a pessoa cresce em idade e liberdade, mais assume suas responsabilidades em seu processo formativo. A educação pressupõe a autonomia e o protagonismo do educando.
A grande santa carmelita Teresa Benedita da Cruz, também conhecida como Edith Stein (1891-1942), irá tomar o tema da autoformação como uma chave para compreender formação como tal. Para ela, “todo formar é autoformar; dito mais claramente: em toda atividade formadora o ativo se forma a si mesmo, isto é, o sujeito e o objeto desta atividade é o mesmo”. Nesse contexto, também podemos assinalar que “toda formação é crescimento” (STEIN, 2002).
A forma não é algo que já esteja de antemão acabada. Ela vai se construindo. Tal qual uma semente vai se desenvolvendo até ser uma planta, a forma deve ir se imprimindo ao longo do processo evolutivo, em sintonia com a assimilação de materiais espirituais. A razão é a responsável para discernir sobre a pertinência ou não daquele material que chega ao ser humano.
O ser humano pode e deve formar a si mesmo. Diferentemente dos animais que vivem o jogo do estímulo-resposta, ele pode e deve se posicionar diante daquilo que lhe convém. Dada sua liberdade, ele pode tomar decisões e de tal poder nasce sua possibilidade de dever. Por isso, “o ser humano, que é consciente e livre de si mesmo, é um ser livre e espiritual e tem o dever de desenvolver sua natureza, a fim de aperfeiçoa-la plenamente enquanto pessoa humana. A pessoa livre e espiritual é a que conquistou certo autodomínio sobre si e possui uma espiritualidade pessoal” (SBERGA, 2014).
Para Stein, o ser humano “é chamado a viver em seu íntimo e, consequentemente, a governar-se a si próprio, o que só é possível nesse ponto de apoio. Assim, ele poderá decidir e assumir um lugar conveniente frente ao mundo” (STEIN, 1988). Desse modo, mesmo tendo sua base na interioridade, essa deve, gradativamente, unir-se à exterioridade.
Nesse sentido, a formação em Edith Stein é um verdadeiro gesto de criação. Ele refere-se a uma interação entre a liberdade do indivíduo e sua energia e o conjunto de dados que atuam tanto na parte exterior quanto interior e tornam-se também fontes de energias para alimentar o processo formativo. Assim, a arte de formar consiste em fazer com que as múltiplas influências concorram para o objetivo educativo almejado, que é o de ser humano plenamente desenvolvido. Responder a um chamado vocacional, por isso, exige, do ser humano, criatividade.
Não é o formador quem oferecerá ao formando tudo o que ele precisa. O formador tem o papel de ser um condutor, um facilitador do processo. Por melhor proposta que se tenha ou a intensão do formador, nem tudo o que o formando necessita pode ser previsto. Se tomada a sério, tanto pelo formando quanto pela formação, a própria dinâmica da vida vai trazendo a tona aquilo em que o formando necessita crescer. Por isso é fundamental sempre deixar espaço para a criatividade e a graça de Deus.
A visão de homem, subjacente à compreensão pedagógica de Edith Stein, portanto, nos convida a buscar meios para favorecer novas práticas formativas que levem em consideração o papel primeiro e fundamental do formando em seu itinerário formativo. A formação, desse modo, é mais do que simplesmente aplicar conteúdos e avaliar o quanto o indivíduo corresponde ou não ao que lhe foi pedido. Ela é, antes, uma arte, que, com mãos cuidadosas de artista, pode ir se concretizando na vida do formando.
Você poderá acessar esse artigo completo em: A ARTE DE FORMAR | Basilíade – Revista de Filosofia (fasbam.edu.br)
Frei Edimar Fernando Moreira, O.Carm.
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