RECONHECER JESUS RESSUSCITADO: O SUCESSO DA MISSÃO
As aparições de que nos falam os evangelistas são claramente de gênero diferente. Por um lado, o Senhor aparece um homem como os outros: Ele caminha com os discípulos de Emaús, deixa as suas chagas serem tocadas por Tomé, ainda mais segundo Lucas, aceita uma porção de peixe, que lhe oferecem para comer, a fim de demonstrar a sua verdadeira corporeidade.
Todavia, segundo essas narrações, Ele não é simplesmente um homem que voltou a ser como antes da morte. Impressiona acima de tudo, o fato de os discípulos, num primeiro momento não O reconhecerem. Isso acontece não só aos discípulos de Emaús, mas também a Maria Madalena e, depois, uma vez mais junto do mar de Tiberíades: “Ao romper da manhã, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele” (Jo 21,4). Só depois que o Senhor lhes ordenou para fazerem de novo ao largo é que o discípulo amado O reconheceu. ‘Então o discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: “É o Senhor” (Jo 21,7). Trata-se de por assim dizer, de um reconhecer a partir de dentro que, todavia, permanece sempre envolvido no mistério. De fato, depois da pesca, quando Jesus os convida para comer continua a registrar-se uma espécie de dessemelhança. “Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar: “Quem és Tu?”. “Bem sabiam que era o Senhor” (Jo 21,22).
Essa modalidade do reconhecer e não reconhecer corresponde à modalidade da aparição. (do Livro Jesus de Nazaré – Bento XVI – pg. 237 -238)
Tanto Lucas 5,1-11, como João 21,1-19 têm um caráter de chamado (vocacional – através da memória dos gestos de Jesus, de partilha, um sentido, eucarístico.).
Na Bíblia, a pesca é muitas vezes sinônimo de missão. A pesca do capítulo 21 acontece no mar de Tiberíades, também chamado lago de Genesaré ou mar da Galiléia. Ao chamá-lo “mar de Tiberíades” o evangelho de João já aponta para a missão junto aos pagãos. De fato, Tiberíades era uma cidade pagã construída em homenagem ao imperador Tibério. Isto indica a missão da comunidade cristã.
Os discípulos trabalham inutilmente, pois a noite, tempo favorável para a pesca, foi completamente estéril. É a crise de identidade da comunidade. A noite, por contraste com o dia, recorda a ausência de Jesus ou do Espírito. (9,45; 15,5).
Como sair da crise? Esperar que apareça “a Luz”. De fato “quando amanheceu Jesus estava na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus.” (Jo 21,4). O que está faltando à comunidade? Sem amor que leva à fé só produzimos esterilidade.
A palavra de Jesus ressuscitado muda a situação: “Então Jesus disse: “Joguem a rede do lado direito da barca, e vocês acharão peixe. “Eles jogaram a rede e não conseguiam puxá-la para fora, de tanto peixe que pegaram” (Jo 21,6). A confiança na Palavra de Jesus ressuscitado, a disponibilidade em servir (Pedro cingiu-se com a túnica, o que lembra o avental do lava-pés. O sentido, portanto, é este: o “avental” a comunidade será capaz de reunir todos os povos em torno de Jesus, sem sofrer rachaduras ou cismas (a rede que não se rasga recorda a túnica sem costuras de Jesus. (19,23-24). Simão Pedro, convertido ao serviço, arrasta a rede sem que se rompa (21,11b). E ficamos com uma certeza inquietante: as rachaduras entre os seguidores de Jesus não aconteceram por causa do “avental” e sim por causa da luta pelo poder.
Parece que Jesus da uma chance para Pedro se reconciliar, porque havia negado Jesus três vezes, perguntando-lhe se O amava por três vezes e chamando-o para buscar almas dizendo: “Apascenta meus cordeirinhos”, pois não seria feliz pescando, mas sim ganhando almas para Cristo.
Se você já teve um encontro com Cristo, mas desanimou na fé, saiba que Ele perdoa seus pecados, renova os milagres em sua vida e te chama novamente para ganhar almas. (do livro: Como Ler o evangelho de João – José Bortolini – pgs. 198-201).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.