O evangelho de Marcos era um manual de catequese que preparava os catecúmenos para a recepção do Batismo. Dentro disso se nota a preocupação do capítulo 13 para a comunidade cristã. É uma catequese sobre o final dos tempos. A vinda do Filho do Homem é julgamento dos que se opõem ao projeto de Deus e é também salvação dos eleitos. É uma catequese sobre o rumo da história e sobre a vinda do Filho do Homem.
Quando nós olhamos para a Bíblia, vemos como o PROFETA, intervém na história em nome de Deus. Ele ajuda seus contemporâneos, no presente, a viver o plano de Deus. Por isso, a PALAVRA que ele proclama está ligada antes de tudo ao PRESENTE. Ele tem interesse no futuro enquanto este futuro dá sentido ao presente e fortalece a esperança, enquanto o futuro ilumina a meta da caminhada.
Em tempos de crise, as palavras do profeta não bastam para sustentar a esperança. A dureza da crise parece esconder os desígnios de Deus e negar o que a fé afirma. Então… brota no povo o desejo humano existencial de saber o que vem DEPOIS, de ver COMO TUDO VAI TERMINAR; DE “VER” O FIM DOS TEMPOS. Deus deve afastar o véu que esconde o fim: então a PROFECIA torna-se APOCALÍPTICA.
Numa situação difícil de fome, epidemias, terremoto, bomba, guerra, catástrofes, etc., situações que tocam nosso profundo, qualquer um se pergunta pelo que virá depois. Qualquer pessoa quer saber o que vem DEPOIS como tudo terminará: são perguntas típicas de qualquer ambiente em crise. Um fenômeno que pode acontecer em qualquer cultura. É existencial. Mas que resposta se dá?
Israel apelou para a APOCALIPTICA, ou seja; uma antecipação do céu, uma “AMOSTRA GRÁTIS” DA META REALIZADA, DO FIM!!” Isto visa ajudar a reconstruir, na consciência, o Projeto de Deus.
Este movimento começa com os grandes profetas do exílio e pós-exílio: Ezequiel, Joel, Zacarias, Isaías 24-27; 34-35
A apocalíptica é um gênero literário, uma literatura de REVELAÇÃO. Todavia nem toda revelação é apocalíptica.
Nós vemos isto também no livro de Daniel (Dn 7,1-14) que nos apresenta a presença do FILHO DO HOMEM, na história do mundo marcado pelos animais e anúncio da vitória dele sobre o Reino das feras. É dentro destas perspectivas que este evangelho de Marcos se insere.
O discurso é resposta a uma pergunta dos discípulos. Observando a beleza e a solidez do Templo e da cidade que se espalha ao redor, que tanto encantava os discípulos, Jesus anuncia a sua destruição total: “Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído!” Mc.1,3. Pensando os discípulos que a destruição de Jerusalém fosse o fim do mundo queriam que Jesus desse sinal deste fim.
Diante de desastres, guerras e outras violências de que tinham notícia, os discípulos julgavam que já estivesse chegando o fim de tudo. No tempo das comunidades de Marcos acontecia a mesma coisa. Exato naqueles dias, Jerusalém estava cercada e sendo destruída e os cristãos eram perseguidos por toda parte. Jesus quer ajudar os discípulos a lerem corretamente os sinais dos tempos e não se deixarem enganar pelas conversas do povo sobre o fim do mundo: “Cuidado para que ninguém vos engane!” Mc 13,5 Estamos então no ano 70, onde tudo foi destruído e a abominação desoladora dos romanos está se instalando no Templo de Javé: as estátuas dos deuses do opressor ocupam o lugar do Santo dos Santos, santuário de Deus Libertador.
Quem ainda não viu escrita, em grandes letreiros, esta afirmação: “Jesus está chegando” ou “Jesus voltará!”, usada, não raro, na pretensão de assustar a pessoa ou atraí-la à prática de alguma religião? Outros, pelo contrário, acomodados e bem instalados em seus privilégios, afirmarão: “Do jeito que está, está bom demais, tanto na Igreja, como na minha instituição religiosa e na sociedade. Para que essa mania de mudança?” Outros não mexem uma palha porque aguardam pela volta imediata de Jesus para julgar a História. Outros acham que Jesus só voltará através do nosso trabalho evangelizador. Para nós, Jesus está no meio de nós Mt 28,20. Ele já está do nosso lado na luta pela justiça, pela paz, pela vida. Mas a plenitude ainda não chegou. Por isso, aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade. Rm 8,22-25. Construir o reino que humaniza é a tarefa das comunidades cristãs, é nossa tarefa. Podemos transformar a História, pela graça agindo em nós, em História da Salvação.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.