Já falamos do que é o apóstolo, da sua natureza, da sua existência. Queremos agora deter-nos de novo nele, e olhá-lo por um ângulo que nos fará também compreender melhor a missão de Jesus.
Vimos que o Senhor não falou apenas ao povo, mas que escolheu rapidamente um grupo mais estreito de discípulos, que os educou para serem os mensageiros do seu ensino: são os doze apóstolos.
Ao lado deles encontramos ainda discípulos, mais numerosos, de que Lucas fala no capítulo oitavo. A respeito de uns e outros é narrado como Jesus os “enviou”. Da missão dos Doze falam Marcos no capítulo sexto, Mateus no décimo e Lucas no nono. Envia-os dois a dois com a mensagem de que o reino dos céus está próximo; dá-lhes o poder de curar e de expulsar os demônios; exorta-os a renunciar aos meios exclusivamente humanos, a andarem sem dinheiro e sem violência; a ficarem e a ensinarem onde forem recebidos, a partirem quando forem repelidos. Isto aconteceu logo nos primeiros tempos da vida pública de Cristo. Algum tempo depois, envia setenta e dois outros, discípulos, portanto no sentido lato da palavra (Lc 10,1-24). Também estes devem ir em grupos de dois, em paz e sem violência, e em primeiro lugar às praças e às cidades da Judéia, com exclusão dos pagãos e dos samaritanos. Devem limitar-se ao povo judeu. Faz-se-lhes também prever o que os espera:
Serão talvez bem acolhidos e darão a sua paz, mas poderão também ser repelidos com a sua mensagem; neste caso, não terão mais a fazer senão abandonar o lugar e a sua paz irá com eles.
Mt 9,35-38 – A colheita, abundante, os trabalhadores, poucos. Esses quatro versículos servem de anel intermediário, fecham uma seção e abrem outra.
Jesus, o Messias, anunciou o início do reinado de Deus, (Mt 4,12-17) com palavras e obras. Seu primeiro discurso, o Sermão da Montanha, foi confirmado por sinais e milagres. (Mt 8-9,34). O êxito de seu poder libertador de toda espécie de males e doenças atraiu uma multidão de pobres e necessitados. É esse o cenário no qual se desenvolve a seção seguinte: A DO ENVIO MISSIONÁRIO DOS DOZE COLABORADORES ÍNTIMOS que aprenderão em companhia de Jesus o alcance da missão. Os destinatários da misericórdia de Jesus são os marginalizados pela sociedade, especialmente pelos grupos dirigentes e religiosos. O amplo mundo dos maltratados e abatidos (v. 36) esses homens e mulheres de todos os tempos diante dos quais Jesus sente uma compaixão que o comove, e aos quais faz destinatários privilegiados do anuncio e da realidade do Reino de Deus. Os escolhidos são doze, número que indicava a totalidade das tribos de Israel (19,28) e que agora representa a universalidade do novo povo de Deus. Antecipa-se o título de apóstolos, ou seja, enviados.
Os doze são convidados a não levarem nada consigo nem bolsa, nem dinheiro, nem saco de viagem, nem um segundo agasalho, nem um segundo par de sapatos; deverão ensinar sem recompensa e sem retribuição. “Recebestes de graça, daí de graça”. (Mt 10,8). A Igreja do Brasil e da América Latina, sente a compaixão de Jesus que olha as multidões perdidas, como ovelhas sem pastor e na Assembleia de Aparecida, olha a realidade e assume pastoralmente (como apóstolos) os cuidados das ovelhas.
- Contemplando os diversos rostos de sofredores, especialmente os “resíduos e sobras”. (EG. Nº 53), o discípulo, missionário enxerga, em cada um, O ROSTO DE SEU SENHOR, CHAGADO, DESTROÇADO, FLAGELADO (Is 52,13ss) (DA;. Nºs. 65, 402). Seu amor por Jesus Cristo, e Cristo crucificado (1Cor 1,23-25), leva-o a buscar o Mestre em meio às situações de morte (Mt 25,31-46). Leva-o a não aceitá-las, sejam elas quais forem, envolvendo-se na preservação da vida. O discípulo missionário não se cala diante da vida impedida de nascer, seja por decisão individual, seja pela legalização e despenalização do aborto. Não se cala igualmente diante da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer liberdade, esperança e fé. Torna-se, deste modo, alguém que sonha e se compromete com um mundo onde seja, efetivamente, reconhecido o direito a nascer, crescer e morrer naturalmente, crer e manifestar sua fé.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.