IS 5,1-7 – MT 21,33-43.
O canto à vinha Is 5,1-7 – Não é tanto a frustração do agricultor, mas de Deus em relação à sua noiva, Israel: “Pois a vinha do Senhor Todo-poderoso é a casa de Israel, e os cidadãos de Judá são sua plantação querida”. (Is 5,7a.)
Deus não tinha mais nada a fazer, a não ser esperar, (vv. 2.4.7.) que desse frutos. Mas o que se constata é justamente o contrário: “Ele esperava que reinasse o direito, mas eis que domina a violação do direito; esperava pela justiça, mas só se ouvem os gritos dos injustiçados” (v.7b).
Vinhateiros homicidas – Mt 21,33-46. – a narrativa evangélica concentra-se imediatamente sobre os vinhateiros, aos quais a plantação tinha sido confiada na ausência do dono. Não obstante as recusas e os repetidos fracassos dos seus emissários, malgrado os cruéis tratamento que padecem os mensageiros não deixam de ser enviados.
Aqui lembramos que a parábola é contada para os anciãos e os chefes dos sacerdotes (no templo), eles haviam se apoderado da vinha, como “donos do povo”, quando na realidade eram apenas encarregados da vinha”, são eles os vinhateiros homicidas.
Mateus retoma historicamente o processo vivido pelos profetas até chegar em jesus. Os dois grupos de empregados enviados para receber o que era de direito do dono da vinha simbolizam os profetas antes e depois do exílio da Babilônia. Por ex.: Elias perseguido (1Rs 19); Jeremias, julgado e atirado à cisterna para morrer, conduzido à força ao Egito (Jr 26,38); Azarias, lapidado no átrio do templo por ordem do rei (2Cr 24,20-21).
Missão reiterada e frustrada dos profetas, envio do Filho, sua morte violenta, vocação dos pagãos.
O dono conserva a propriedade, que arrenda, e cobra uma parte dos frutos; os colonos querem apropriar-se do que é apenas emprestado. Não se sabe o que é mais de admirar: se a dureza de coração dos trabalhadores ou se a constância quase inconcebível do patrão.
Como último recurso foi enviado o próprio Filho do patrão, e o manda desarmado, indefeso. Acredita que aos menos ele, como seu representante direto, será respeitado. Os vinhateiros, porém, o veem como o herdeiro que, uma vez eliminado, lhes permitirá a posse do campo. Eles se armam: a covardia se encoraja diante do desarmado. A culpa mais grave foi a rejeição dos emissários do patrão até a morte do seu filho. Todavia, esta culpa lança raízes na apropriação indevida da vinha: passar-se por dono daquilo que foi confiado apenas como arrendamento.
Mateus tira slide do passado e projeta na tela do presente para torná-lo compreensivo. A presença e missão de Jesus é o maior dom do Pai. Sua rejeição e morte por uma parte de Israel é um enorme pecado.
Os vinhateiros, porém, ao verem o Filho tramaram: “Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança. Então agarraram o filho, jogaram-no fora da vinha e o mataram” (vv. 38-29).
A morte de Jesus, o Filho de Deus, não é fruto do acaso. Pelo contrário, é resultado de trama bem montada pelas lideranças. Jesus morre fora da cidade, fora da vinha. (hb 13,12).
É interessante como Mateus usa a parábola da vinha de Is 5,1-7 (1ª leitura), que certamente era conhecida por todos. Ele acentua muito os frutos que a vinha deveria produzir. Ele não diz explicitamente, mas olhando para Isaías sabemos que se trata da pratica do direito e da justiça. Outro fato interessante é que na parábola da vinha o v.3, põe os ouvintes na roda. Eles são chamados a ser árbitros entre o agricultor e a vinha”: “O que poderia ainda ter feito por minha vinha e eu não fiz? No evangelho Jesus provoca as lideranças: Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?”. (v.40). Os chefes dos sacerdotes e anciãos respondem: ‘É claro que mandará matar de modo violento esses perversos, e arrendará a vinha a outros agricultores…” (v.41). Ou seja, eles se condenam com as próprias palavras. “O peixe morre pela boca”.
Este povo falhou na sua missão. A escolha do povo por Deus obedecera à sua vontade de o fazer uma fonte para toda a humanidade; no entanto foi encarada como privilégio, instrumento de distinção e de prepotência. A relação da aliança foi subvertida: em lugar do espírito de serviço, se estabelece a dominação. No seu lugar vem um novo povo, as comunidades dos pequeninos, excluídos. Broto viçoso, e ao mesmo tempo frágil, da semente do Reino lançada por Jesus.
“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular, isto foi feito aos nossos olhos?”. Com a citação do Sl 118, insinua a ressureição como ação do Pai, que ratifica e revela a dignidade transcendente do seu Filho. De fato, matando o Filho não conseguiram seu objetivo: incorreram em culpa grave, ao passo que o Filho volta a viver para receber a herança. Exercerá sua autoridade no “povo” novo, aberto aos pagãos, não fechado aos judeus. Dará fruto (7,21-23).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.