“DAÍ POIS A CÉSAR, O QUE É DE CÉSAR, E A DEUS O QUE É DE DEUS.” MT 22,15-21.
Mateus coloca agora uma série de quatro controvérsias. A primeira é com os fariseus e herodianos sobre o pagamento de imposto a César. A outra é com os saduceus sobre a ressurreição (22,23-33). A seguir vem um discussão com os fariseus sobre o principal mandamento (22,34-40). Por fim, Jesus toma a iniciativa de conversar sobre o Filho de Davi (22,41-46). Em todas estas discussões Jesus sai ganhando!
Dar a Deus o que é de Deus (22,15-22).
A primeira controvérsia é com os fariseus e herodianos: devia-se ou não pagar o imposto a César?
Pelo sim, pelo não…
A consulta a Jesus sobre a liceidade do imposto é feita em um clima de armadilha. Os que perguntam fazem uma bajulação de Jesus, um elogio. O elogio revela uma verdade, embora tenha sido feito com a intenção de apanhar Jesus em alguma palavra.
Em razão da estreita ligação entre a moeda e o poder, o pagamento do tributo não significa reconhecer a soberania do imperador, enquanto o único rei de Israel era o Senhor Deus?
Qualquer resposta que ele desse deixaria em maus lençóis. Se dissesse que se devia pagar, os fariseus e escribas nacionalistas dariam logo a conclusão que ele estava contra o povo. (o que frustraria a expectativa do povo nele) Se dissesse que não se devia pagar, os herodianos, testa de ferro do império, o denunciariam aos romanos. Jesus se sai magnificamente! Ele, ao invés de discutir se se devia ou não pagar o tal imposto, vai à questão do poder: “De quem é a figura e inscrição nesta moeda?” (v.20). (Estava escrito na moeda: Tiberius Caesar Divi Augusti filius Augustus), ou seja títulos divinos. Eles respondem: ‘É de César’” (v.21a). Ora, usar a moeda do império é reconhecer seu domínio. Sinal de que aqueles que se auto-afirmam os verdadeiros cumpridores da Lei mosaica estavam tendo uma prática contrária à Lei que proibia uso de imagens. Isso era idolatria. = Jesus diz então: “Pois deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (v.21b). Usando moedas romanas eles estão reconhecendo que o poder político é de César. Pois, então deem a ele o que é dele. Mas o povo é de Deus. Não façam do povo capacho do império! O povo pertence ao Pai e merece justiça e vida! Jesus denuncia que o império está extrapolando o seu poder e o relativiza. = Jesus enxergou aquilo que ninguém mais conseguia enxergar, isto é, que havia mais opressão e exploração econômica dentro do judaísmo do que fora. Os próprios judeus da classe média, que se revoltavam contra Roma, oprimiam os pobres e os ignorantes. O povo sofria muito mais devido à opressão dos escribas, fariseus, saduceus e zelotas do que por causa dos romanos. O protesto contra a opressão romano era hipócrita. É esse o ponto principal da famosa resposta de Jesus à pergunta sobre o pagamento de impostos a César
Na prática, o governo romano significava a cobrança de impostos. Para a maioria dos judeus, pagar impostos ao chefe romano significava dar a César o que pertencia a Deus, isto é, o dinheiro e os bens de Israel. Mas para Jesus isso era uma racionalização, desculpa hipócrita para a avareza. Não tinha a ver com a verdadeira questão. A resposta de Jesus revela não apenas a hipocrisia e a falta de sinceridade da pergunta, mas também o verdadeiro motivo que estava por trás da questão do pagamento de impostos: a sede de dinheiro. As próprias pessoas que fazem a pergunta possuem moedas romanas, significa que estão comprometidas e usufruem (aproveitam) do lucro.
O Reino de Deus não é deste mundo, porém age no mundo e não deixa as coisas como estão. Deus não pretende ser concorrente de César, mas o despoja de qualquer caráter divino e de autonomia. Porque também as coisas de César são de Deus e o próprio César também o é. Jesus responde em dois momentos. Em primeiro lugar, desmascara a falsidade dos discípulos dos fariseus e dos partidários de Herodes: “Ele percebeu a maldade deles e disse: “Hipócritas” Por que me preparam uma armadilha?”. (v.18). “Preparar uma armadilha”, em grego, se diz peirazei. É a mesma palavra que Mateus usa para falar das ações do diabo quando tenta Jesus no deserto (cf.4,1). Existe um campo de ação em que está cunhada a efígie de César. Mas existe um campo mais amplo, no qual se insere o de César, em está impressa a imagem de Deus. Este domínio se estende para além dos limites de espaço e de tempo, é o homem, até no centro da sua interioridade. Transcendência não significa alienação da realidade sensível, mas uma extensão para além fronteira. = Os Césares, os de hoje como os de ontem, são tentados, pelo fascínio da idolatria, a assumirem uma função divina, dando o juízo final sobre as coisas e esquecendo que eles mesmos estão submetidos ao julgamento último, à palavra decisiva de Deus.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.
Redação a partir de: “Jesus antes do Cristianismo, Albert Nolan; Pe. José Bortolini; Bíblia do Peregrino; CNBB, “Ele está no meio de nós”.