O evangelho deste domingo nos põe em contato com a figura de João Batista. Ele projeta luz sobre a missão da testemunha. Mostra também, que o testemunho supõe, na maioria dos casos uma situação hostil e de conflito. O versículo 8 define com clareza a missão de João: “Esse homem não era a luz; veio apenas para dar testemunho da luz”, ou seja, veio criar expectativa em torno da vida. “Dar testemunho da luz consistia em despertar o desejo e a esperança da vida, preparando a chegada daquele que era a VIDA-LUZ; anunciar a possibilidade de vida plenamente humana, como alternativa ao regime da treva”. Todo aquele que suscita expectativa em relação à vida torna-se testemunha à semelhança de João Batista. O movimento iniciado pelo Batista começava a ser notado em todo o Israel. Inclusive os grupos tachados de indignos e pecadores, como os cobradores de impostos ou as prostitutas, acolhem sua mensagem. Só as elites religiosas e os herodianos do círculo de Antipas resistem. Geralmente todo entusiasmo do povo por uma nova ordem de coisas costumava inquietar os governantes. Por outro lado, o Batista denuncia com destemor o pecado de todos e não se detinha nem sequer diante da atuação imoral do rei. João converte-se num profeta perigoso. “A comissão de inquérito” que vai investigar as intenções, palavras e ações da testemunha que é João. Os levitas são a polícia do Sinédrio, o supremo tribunal daquele tempo. “Quem é você?”, pergunta feita por eles demonstra o receio, deles. Ao que João responde, “Eu não sou o Messias”. João nega também ser Elias e o Profeta (v.21). Naquele tempo pensava-se que Elias viria para restaurar o povo da Antiga Aliança. João anuncia a Aliança baseada na vida. Pensava-se também que o Profeta seria uma espécie de “segundo Moisés”, na linha da promessa contida em Dt 18,15. João não anuncia o continuísmo tradicional, pois Jesus irá trazer o novidade da Nova Aliança. O inquérito continua com duas perguntas: “Quem é você? Temos que levar uma resposta aos que nos enviaram. “Quem você diz que é?” João se auto define como: “uma voz que grita no deserto: “Endireitem os caminhos do Senhor”. E continuam querendo colocá-lo contra a parede: “Então, por que você batiza, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” (v.25). O batismo de João, portanto era um sinal de ruptura, de “desobediência ao sistema”, apontando para um batismo novo, que é aceitação “daquele que não conhecemos”. (v.25). Lógico que o sistema que não queria que a Luz brilhasse e procuravam apagá-la, mataram João Batista, e também “A luz verdadeira”, Jesus. O evangelho de São João apresenta estas características, que são apresentadas no Prólogo, mas são desenvolvidas ao longo de todo o evangelho.
- a) O “MUNDO” – referência à própria humanidade – sistema injusto que hostiliza e rejeita a comunidade.
- b) JUDEUS – refere-se – às autoridades judaicas, seu poder econômico, político, religioso e ideológico; são as “TREVAS” que se opõem à “LUZ”. Em geral, o mundo e judeus se confundem como centro de poder que impede a vida – este conflito está presente em cada página de João.
- c) O JUDAÍSMO ENTENDE A LEI DE MOISÉS como manifestação última e definitiva da vontade de Deus. A Lei é chamada VIDA, LUZ, SABEDORIA DE DEUS, que desceu para viver entre os homens. Logo, não havia lugar para Cristo. Para o Judaísmo era difícil entender que o Deus aparecesse na fragilidade humana. Para as Comunidades Helênicas – era muito difícil a plena humanidade do Filho de Deus. O humano não é digno lugar para o Divino.
- d) OS SEGUIDORES DE JOÃO BATISTA At 18,24-25 – João não era a Luz mas apenas 19,17 testemunha dela, 1,6-8, aparece como um resumo do Antigo Testamento que dá testemunho de Deus.
O TEMA DA LUZ – primeira criatura de Deus – aparece com força. Luz é o resplendor da vida, a vida brilhando intensamente. Os caps. 8-9 de João desenvolvem abundantemente esse tema. Aqui, no Prólogo, salienta-se o confronto entre luz e trevas. No Evangelho de João, as trevas são as forças de morte agindo na sociedade e que põem obstáculos à prática de vida de Jesus.
Com isso ainda nos apresenta a palavra TESTEMUNHO, o evangelho de Lucas termina falando deste testemunho. (Lc 24,48: “Vós sois testemunhas de tudo isso”. Nos Atos dos Apóstolos, após o Pentecostes eles não cessam de repetir que são testemunhas, (At 2,32; 3,15; 4,33).
A Igreja no mundo moderno de hoje é chamada a ser “sinal eficaz, Testemunha, Sacramento de Salvação para todos. “Para que as tristezas, amarguras, sofrimentos e dores dos povos, sejam as suas preocupações”. E seja, ”Luz, Esperança e Alegria para todos”.
EVANGELHO: FORMA DE RESISTÊNCIA CONTRA OS ATAQUES VINDO DE FORA = SINAGOGA = GNOSE – IMPÉRIO ROMANO.
. E a salvação já está presente na fé em Cristo. Ele é realmente o “presente escatológico”. Todavia traduzindo tudo isto em palavras simples, o evangelho quer ser luz e animar por dentro uma comunidade que está em crise. QUER SER FORÇA E CONFIRMAR NA FÉ QUEM ENFRENTA A PERSEGUIÇÃO E A REJEIÇÃO DE TUDO, DE TODOS.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.