CLAYTON CASTELANI
DA FOLHAPRESS
O índice de referência da Bolsa de Valores brasileira fechou em queda na tarde desta quinta-feira (8) com investidores demonstrando preocupação com os gastos públicos diante do avanço da PEC da Transição no Congresso e da possível confirmação de Fernando Haddad como ministro da Fazenda do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo dados preliminares, o Ibovespa chegava ao final da sessão com queda de 1,67%, aos 107.246 pontos, perto mínima do dia, de 106.905 pontos.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou nesta quinta que Lula deverá anunciar “alguns nomes” que irão compor o seu ministério nesta sexta-feira (9). Aliados dizem que ele confirmará Haddad na Fazenda.
“Apesar de já estar esperando o Haddad [como ministro da Fazenda], o mercado está muito apreensivo com a aprovação da PEC da Transição”, comentou Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.
Na quarta-feira (7), o plenário do Senado aprovou a PEC da Transição sem modificar o texto da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), apesar da pressão da oposição para que o valor e o prazo de duração fossem reduzidos.
A proposta amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024 para o pagamento do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) e libera outros R$ 23 bilhões para investimentos fora do teto em caso de arrecadação de receitas extraordinárias.
Dúvidas sobre a conduta de Haddad à frente da economia e, principalmente, sobre como o governo empregará o recurso a ser obtido com a PEC da Transição tornam o mercado receoso quanto à capacidade do governo brasileiro em honrar seus compromissos, sobretudo o pagamento da dívida pública contraída pela emissão de títulos, explica Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios.
Essas preocupações, segundo Marinello, apareceram também no posicionamento do Banco Central após o anúncio da Selic, na véspera.
“O mais importante, além da manutenção da taxa em 13,75%, foi o tom dado pelo Banco Central, que expressou incerteza em relação ao futuro da política fiscal no Brasil, principalmente em relação à PEC da Transição, que eleva o teto de gastos”, comentou Marinello.
“A fala de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, foi mais dura porque há uma preocupação real e uma cautela maior em relação às consequências que este excesso dos gastos pode trazer para a macroeconomia”, completou.
No comunicado, o Copom repetiu o aviso de que “não hesitará em retomar o ciclo de aumento de juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, podendo ajustar seus passos futuros.
“A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos. O comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, disse.
A queda da Bolsa só não era maior devido à alta de 1,59% da Vale. A mineradora tem grande peso no setor de materiais básicos, que apresentava forte valorização.
Exportadores de matérias-primas metálicas têm sido beneficiados pela perspectiva de aumento de consumo dessa mercadoria na China devido à redução das restrições à circulação de pessoas adotada no combate à Covid-19 e aos estímulos de Pequim ao setor imobiliário, que é grande consumidor de aço.
Dólar e juros futuros têm alta moderada – No mercado de câmbio, o dólar fechou o pregão com leve alta de 0,21%, cotado a R$ 5,2170.
O avanço apenas moderado da taxa de câmbio, um dos termômetros para medir a temperatura do risco aos investimentos no Brasil, pode estar relacionado à valorização das mercadorias exportadas para a China (isso costuma trazer dólares para o país) e pela própria desvalorização do dólar no exterior, onde investidores se mostram mais favoráveis ao mercado de ações.
Na Bolsa de Nova York, o índice parâmetro S&P 500 subia 0,63%, após uma sequência de cinco quedas.
Sinais de que investidores esperam por mais inflação no Brasil apareciam no mercado de juros futuros, com algumas das taxas dos contratos de curto e médio prazos voltando a subir após um dia de trégua.
A taxa DI (Depósitos Interbancários) para 2025 passava de 13,03% para 13,07% ao ano. Para os contratos com vencimento em 2027, subia de 12,71% para 12,78%. Os juros DI para 2024, porém, passaram a recuar de 13,84% para 13,83%, após terem apresentado alta moderada pela manhã.
Negociadas apenas entre instituições financeiras, essas taxas servem de parâmetro para o setor de crédito.