Aleksa Marques / Da Redação
O Japão e o Brasil têm, no dia 18 de junho, motivos em comum para celebrar. A data marca o Dia da Imigração Japonesa no Brasil e se tornou um elo entre as nações. Foi em 18 de junho de 1908, há 114 anos, que o Brasil começou a receber imigrantes japoneses para trabalharem nas lavouras de café, no Estado de São Paulo.
De lá para cá, a comunidade nipônica cresceu. Para se ter uma ideia, dados da Embaixada do Japão no Brasil estimam que aproximadamente 2 milhões de japoneses e descendentes, a maior população de origem japonesa fora do Japão, vivem no Brasil. Os números também mostram a quantidade de nativos japoneses no país verde e amarelo: o Censo do IBGE de 2010 aponta que quase 50 mil japoneses residiam no Brasil. Este dado representava 11,4% do total de estrangeiros que moravam no país. Dez anos depois, a tendência é que este número tenha aumentado.
A influência da nação nipônica em torno do país tropical se perpetuou e está refletida ainda hoje nas tradições, sabores e saberes do Brasil. Das artes marciais à religião, dos chás e sushis aos mangás (as famosas histórias em quadrinhos japonesas) o Brasil é marcado por essa cultura que influencia vários setores da economia, inclusive o turismo e a cultura.
Em Paranavaí, a Sociedade Paranavaiense de Desportos e Cultura (SPDC), que começou a atuar na década de 1950 em Paranavaí, é responsável por manter viva a tradição japonesa para as futuras gerações. “A colônia japonesa sempre foi muito atuante no Paraná e os nossos avós sempre fizeram muita questão de que tudo isso fosse preservado e essa é nossa missão”, disse Teruo Kato que é o atual presidente do SPDC.
Ele diz ainda que o período da pandemia foi difícil, pois impossibilitou as festividades. Mas, esse ano, o calendário já está está cheio para reunir novamente todos os participantes e amantes da cultura nipônica como a Festa da Primavera, já tradicional em nossa cidade, que acontece de 2 a 6 de setembro na sede do clube.
Teruo adianta também que este ano o SPDC fará um torneio de tênis de mesa a nível estadual, que reunirá diversos atletas e movimentará a cidade. “Paranavaí é vista como referência nos esportes e fazemos questão de fomentar ainda mais”, comentou.
Memória – Outra pessoa muito importante para o desenvolvimento e preservação dos costumes e tradições japonesas em Paranavaí e também no Estado é o senhor Kiogi Furukita, que aos 85 anos participa ativamente das decisões do grupo. “Fazemos questão de comemorar essa data tão importante para nossa colônia. Nossos filhos e netos não podem deixar nossa história morrer e cabe a nós ensinar tudo o que sabemos”, explicou.
“Seo” Furukita é uma das pessoas mais importantes da cidade quando o assunto é tradição nipônica. Ele, ao longo de sua vida e durante os anos de presidência do SPDC, conquistou diversos títulos e ajudou na conservação dos bons costumes. “Até pouco tempo não éramos vistos com bons olhos, mas hoje sinto orgulho de fazer parte desta nação por conta da aliança cultural que temos. Somos uma entidade muito unida”, finalizou.
Cultura e culinária – As danças e as músicas japonesas são símbolos que se perpetuam ao longo dos séculos. O karaokê, por exemplo, é uma tradição que teve seu auge entre as décadas de 1960 e 1970 aqui no Brasil e ganhou inúmeros adeptos. Uma das amantes desta prática é Elza Fujii Makino, de 74 anos, que também já presidiu o SPDC.
Ela sempre gostou de cantar, mas só depois da aposentadoria ela começou a levar isso de forma profissional.
Há 6 anos ela se apresenta em todo o Brasil representando Paranavaí nos campeonatos de karaokê e já ganhou inúmeros prêmios. No próximo mês Elza se apresentará em Itu, no Interior de São Paulo, para mais um campeonato.
O kimono usado por ela demora mais de uma hora para ser colocado por conta de suas inúmeras camadas e seus detalhes graciosos. Ela explica que cada situação e letra de música exige um traje diferente e as apresentações festivas merecem um glamour diferenciado.
A dança é outra veia artística que Márcia Nakamura, de 65 anos, professora aposentada e Teruko Suguiama, de 78 anos, que ama jardinagem, não deixam morrer. Elas dançam há quase 40 anos e fazem questão de ensaiar toda semana. Márcia lembra que a pandemia atrapalhou os encontros e fala que estão um pouco enferrujadas nas coreografias.
“Dançamos porque faz bem para o corpo, para a cabeça e para o nosso povo”, comentou a mais experiente do grupo que vestia um kimono específico para as danças, por ser de tecido mais leve e confortável.
Clara Voida, de 67 anos, cuida magistralmente da secretaria do SPDC há mais de 10 anos. Ela fala da alegria em participar do grupo e poder celebrar os 70 anos de instituição atuante aqui em Paranavaí. “Somos lembrados em todo o Brasil e também no mundo por conta de nossas tradições. O Taiko, por exemplo, já fez apresentações no Japão e temos atletas renomados com prêmios internacionais”, lembrou.
Ela comenta também sobre a gastronomia nipônica, que se difundiu de uma forma mundial rapidamente nos últimos anos. “É um orgulho fazer parte da colônia, pois antes éramos diminuídos. Mas a nossa gastronomia ultrapassou todos os limites e conseguimos colocar no cardápio dos brasileiros uma alimentação mais saudável e saborosa,” completou Clara.
E falando nisso, um dos especialistas no assunto é o chef Gilberto Akio. Com suas mãos habilidosas e olhares cheios de segredos trazidos diretamente do Japão, consegue dar conta de uma cozinha inteira e ainda filetar perfeitamente quase 300 quilos de salmão por semana. “É um desafio, mas acho que as pessoas gostam do que eu faço. Se não, não pediriam tanto”, disse ele sorrindo.
Ele aprendeu o que sabe com um mestre especialista em todas as comidas tradicionalmente japonesas no início dos anos de 1990 e foi aprimorando para o gosto do brasileiro. A habilidade é tamanha que chega a hipnotizar: o que ele faz parece obra de arte.
Ele separa os ingredientes, faz o passo a passo para a montagem de um sushi tradicional que leva em seu recheio cenoura, pepino, omelete, kani e gengibre levemente adocicado. Tudo isso envolto de uma porção de arroz específico para os preparos orientais e a alga que dá a crocância para o prato. Tudo cortado com uma faca extremamente afiada, é hora de degustar sua criação. Espetacular é a palavra.
“Tudo que é feito com amor e com um sorriso no rosto fica mais gostoso. Claro que tenho meus segredos de chef, mas a prática de anos e o bom humor dão um tempero especial”, finalizou Akio.
Independente do seu gosto, é inegável a mistura da cultura brasileira com a japonesa. Pode ser na culinária, nas músicas, nos esportes ou nos desenhos: a comunidade nipônica tem seu espaço em nossa sociedade e cada vez mais adquire adeptos. Descendente ou não, o importante é não deixar a tradição morrer.