A cadeira de balanço esquecida na varanda bamboleia sob o vento que passa a dizer nada.
*Renato Benvindo Frata
A cadeira de balanço esquecida na varanda bamboleia sob o vento que passa a dizer nada.
É a brisa mansa e alegre da manhã que assovia canção que ele, vento, compõe nessas passagens inconsequentes a deslizar e a se perder em brincadeiras, para voltar na mesma toada farfalhando o dia. O vento não sabe, mas ela balouça no vazio a reclamar da solidão, falta-lhe algo: o corpo que a aqueceu a lhe achatar as almofadas, a desgastar o encosto, a arranhar o verniz, pois lhe fenece a essência, o calor humano.
De que vale uma cadeira vazia?
Mero enfeite esquecido em varanda à altivez do tempo, cuja carícia perdeu a graça. Então ela balança à espera, e se embala ao tentar compor em dupla com o passageiro que a empurra, o bambear das horas e, nesse titubeio lento, nina o passado que se perde em abandono.
Balança… balança… no vai e vem da espera, quem sabe… de um impulso morno que o vento sozinho não tem. A companhia de sempre, agora ausente, sabia fazer.
No chão, ao lado de seus pés curvados a lhe possibilitar o bamboleio, dois chinelos de lã aquecem a saudade que não seguiu com os pés de quem saiu. O que mostram? O silêncio – perdido silêncio – que a solidão presente se tinge em paleta de pintura a desenhar um ontem que também se foi em bailares. Teriam aqueles pés o seguido?
Também silentes ficaram como gritos sufocados sem que lhe escutem as vozes, em menoscabo no assento, um retrós e, com ele, uma agulha presa a um recorte de tecido de onde faz pender, sem desprender, a linha adormecida em tortuosidade após o último ponto.
Linha, pano e agulha falam do coser, de mãos cuidadosas a invadirem tramas em alinhavos, fotografia tristonha da ausência a mostrar dor no cobre da cor.
Conjunto sombrio e melancólico a se pintar em luto e amargar a tristeza como chuva noturna e tempestiva sob ventos uivantes, ao tempo que contorna figuras inexistentes a amargar o olhar, o sabor, o dispor.
A linha nos primeiros pontos desenhara lágrimas entre as tramas do pano e agora, abandonada, externa em meio à desatenção do caule da rosa não concluída o inacabado, tocada que é por um vento que de permeio rezinga muxoxos a chorar a perda, ao tempo que a lambe como experimentasse algo deveras salgado, ou amargo.
Da lágrima, o sal; da dor, o amargo. Para deixar ao abandono e sob suas rajadas mornas da manhã de sol, a cadeira de balanço à espera de quem não virá.
De cá, com lágrimas iguais e pendentes, olhamos para a cadeira e choramos com ela.
Quem se foi, realmente não virá.