REINALDO SILVA
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Uma tela em branco para escrever histórias e desenhar caminhos. Criar, reformular, reinventar e projetar uma vida melhor. Janeiro traz reflexões e, com elas, possibilidades de mudanças. Por isso mesmo foi o mês escolhido para a campanha de conscientização sobre a saúde mental, incentivando novos hábitos, com ênfase no autocuidado e na busca por ajuda profissional quando for necessário.
A importância de ações pontuais como Janeiro Branco se faz perceber quando os dados epidemiológicos são postos à luz. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o número de casos de transtornos ansiosos e depressivos cresceu 25% no primeiro ano da pandemia de Covid-19. Incertezas, medo, perdas, reiteradas notícias sobre morte, isolamento social, dificuldades financeiras… A lista de fatores que levaram a esse cenário é grande.
A crise sanitária percorreu o mundo e chegou ao Brasil no início de 2020. Desde então, foram quase 700 mil mortes provocadas pela doença, sendo 45.760 no Paraná, 845 na Região Noroeste. Mesmo após a disseminação das vacinas contra o coronavírus, os vestígios da pandemia ainda estão espalhados pelo mundo. Nesta semana, a Secretaria de Saúde de Paranavaí confirmou duas mortes de pacientes com Covid-19; já são 362 óbitos na cidade.
Referência técnica de saúde mental na 14ª Regional de Saúde, a psicóloga Jéssica Jorge Francisco avalia que a pandemia deixou em evidência a necessidade de investir cada vez mais nos cuidados aos problemas emocionais que a população vem apresentando.
Em 2022, o Ambulatório de Especialidades Médicas de Paranavaí, que abrange os 28 municípios da região, prestou 3.600 atendimentos através da equipe multiprofissional, composta por psiquiatra, psicólogo, assistente social e enfermeiro. Foram acolhidos pacientes em condições moderadas ou graves de saúde mental, havendo ainda fila de espera. O serviço é prestado à população por meio do programa estadual QualiCIS, que qualifica os Consórcios Intermunicipais de Saúde de todo o Paraná.
O ano passado trouxe outra preocupação às equipes de saúde do Noroeste. “Tivemos um número expressivo de óbitos por suicídio, principalmente entre o sexo masculino, com a idade predominante de 20 a 50 anos”, aponta a psicóloga Jéssica Jorge Francisco.
Para comparar, foram 23 homens e 9 mulheres. Eles utilizam métodos mais violentos do que elas, por isso a quantidade de mortes é maior. No entanto, as tentativas são mais frequentes entre a população feminina.
Sinais e sintomas – Os aspectos socioeconômicos e a qualidade das relações interpessoais podem interferir diretamente no desenvolvimento de transtornos mentais. Também contribuem fatores genéticos, distúrbios hormonais e situações traumáticas.
Os sofrimentos mentais se manifestam de diferentes formas, por exemplo, perda de interesse por atividades que antes gostava, preocupação excessiva, desânimo, choro constante, falta de sono, perda de apetite, sensação de ansiedade e dificuldade de concentração, para citar algumas.
Quando a constância de qualquer dessas características causa prejuízos para as atividades do dia a dia, é hora de procurar ajuda profissional.
Rede de atendimento – De acordo com a psicóloga Jéssica Jorge Francisco, a porta de entrada para pacientes que precisam de cuidados é a Unidade Básica de Saúde (UBS), onde a equipe fará avaliações e acompanhamento das situações de baixo risco.
Identificados sinais e sintomas de risco moderado ou grave de saúde mental, o paciente é encaminhado para os serviços especializados, como os oferecidos pelo Ambulatório de Especialidades Médicas. A rede de atendimento conta ainda com o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Loanda, que recebe moradores de cidades próximas, e os Caps de Paranavaí: II para adultos com transtornos mentais; Ad para pessoas que fazem uso de álcool e drogas; e Infantojuvenil para crianças e adolescentes.
Em situações de crise psiquiátrica, a orientação é acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo número 192, ou a ambulância do município. O paciente será encaminhado ao atendimento de urgência e emergência mais próximo.
Janeiro Branco – Um movimento social dedicado à construção da cultura da saúde mental, a campanha Janeiro Branco tem como principal objetivo chamar a atenção dos indivíduos, das instituições das organizações civis, das sociedades de profissionais de saúde e das autoridades para as necessidades relacionadas ao tema. “Uma humanidade mais saudável pressupõe respeito à condição psicológica de todos”, declara o Instituto Janeiro Branco, que coordena o movimento.
Durante todo o mês, incentiva-se a realização de atividades dentro das instituições privadas, através das políticas públicas já existentes nos municípios. As redes sociais são grande aliadas nesse sentido.
As equipes das UBSs e dos demais equipamentos de saúde também podem aderir, sendo facultada a cada município a liberdade para desenvolver as ações que julgar necessárias, conforme as demandas apresentadas pela população.
Campanhas como essa geram conscientização, combatem tabus, mudam paradigmas e ajudam na construção de caminhos saudáveis e sem preconceitos.