*Ágide Meneguette
Desde outubro, a população paranaense enfrenta severos desafios quando precisa se deslocar ao Litoral do Estado. Seja pela BR-277, BR-376 ou Estrada da Graciosa, interdições em função de desmoronamentos exigem paciência extra dos motoristas, pois a duração da viagem aumentou significativamente. Há relatos de pessoas que levaram mais de oito horas para cumprir os pouco mais de 100 quilômetros entre a capital Curitiba e as cidades litorâneas.
A tendência é de que a situação se agrave a partir da segunda quinzena de janeiro, quando começa a colheita e o escoamento da safra de verão. Isso porque milhares de caminhões carregados com soja e milho saídos de todas as regiões do Estado ganharão a estrada rumo ao Litoral, para descarregar no Porto de Paranaguá. Afinal, o Paraná é um importante exportador de grãos para diversas partes do mundo.
Essa situação de estradas com interrupção parcial (e, dependendo das chuvas, total) poderia ter sido evitada se o governo tivesse dado ouvidos ao alerta do setor produtivo. Em agosto de 2021, antes do término dos contratos de concessão do pedágio, a FAEP e outras entidades alertaram os governantes sobre os riscos da interrupção dos serviços prestados pelas concessionárias das rodovias do Anel de Integração.
Mesmo assim, o governo estadual preferiu virar as costas ao setor produtivo e optou por abrir as cancelas de pedágio, em uma medida eleitoreira de pouca duração e grandes consequências. Houve a promessa de que os serviços teriam continuidade. Ledo engano! Basta trafegar pelas estradas para constatar os sinais de abandono, asfalto em péssimas condições, ausência de serviços de socorro e, claro, de monitoramento das encostas.
Uma análise técnica contratada pela FAEP aponta que os recentes incidentes geológicos registrados nas rodovias poderiam ter sido evitados e/ou seus impactos minimizados se houvesse a continuidade do serviço de monitoramento geológico. Ou seja, boa parte do caos logístico deve-se à inoperância do governo estadual.
Como “o que não tem remédio, remediado está”, é preciso olhar para frente e colocar em prática a solução dos problemas. Há trechos das estradas interditados há mais de dois meses, sem previsão real de liberação. Sempre que questionado, o governo afirma que está providenciando a contratação emergencial de serviços de correção na estrada, sem mais detalhes, limitando-se à retórica populista que cria muito calor e nenhuma luz.
A sociedade e os setores produtivos, principalmente o agronegócio que tem uma safra pela frente para escoar, precisam do fim da retórica por parte do governo estadual. É necessário, de forma urgente, a desobstrução das estradas. Mais que isso, a contratação de empresas especializadas para o monitoramento das encostas, com o propósito de dar segurança a quem trafega.
O Paraná não merece esse descaso!
*Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR