REINALDO SILVA
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O som das pedras de gelo atingindo as telhas era ensurdecedor, assustador. “Nunca tinha passado por isso antes”, disse Maria de Fátima Pereira. O filho de 6 anos, que tem transtorno do espectro autista, entrou em desespero. A forma que ela encontrou para proteger o menino foi colocá-lo dentro do guarda-roupa até a tempestade passar.
Dona Maria de Fátima e outras 400 famílias de Alto Paraná tiveram os telhados de casa danificados pelo granizo na noite de domingo (20). Os maiores problemas se concentraram na Vila Granada, em um dos pontos mais elevados da cidade.
Ontem a secretária municipal de Assistência Social e coordenadora da Defesa Civil, Carla Pinheiro Alves Silva, reunia informações para embasar o decreto de estado de calamidade pública, que deve ser oficializado ainda hoje. Ao mesmo tempo, ela trabalhava na organização das equipes enviadas aos bairros de Alto Paraná a fim de assistir a população.
Ela contou ao Diário do Noroeste que já na noite de domingo mais de 80 famílias receberam lonas para cobrir os telhados quebrados, totalizando aproximadamente 10 mil metros. Os atendimentos seguiram na manhã de segunda-feira, com o cadastramento dos moradores que sofreram perdas em razão do temporal.
O prefeito Claudemir Joia Pereira (Palito) informou que a Prefeitura de Alto Paraná adquiriu 4 mil telhas de fibrocimento reforçado (tipo eternit) para substituir as peças danificadas pelo granizo. Por causa do grande volume, o pedido foi feito a uma indústria de Curitiba e a expectativa é que o carregamento chegasse na manhã desta terça-feira (22).
Somando outros itens necessários para recuperar os telhados das casas atingidas, por exemplo, madeiras e parafusos, os custos deverão chegar a R$ 400 mil. De acordo com Palito, os cofres municipais não dispõem de recursos específicos para essa finalidade, sendo preciso retirar parte do valor do que seria investido no Pronto Atendimento. “Esperamos ajuda do governo estadual e do governo federal.”
O vice-prefeito Carlino Fraga (Mirador) lembrou que houve queda no Fundo de Participação dos Municípios (FPM), e, assim como outras prefeituras de todo o Brasil, em Alto Paraná a situação também trouxe dificuldades.
FPM é o repasse da União para os estados e o Distrito Federal, dinheiro posteriormente distribuído para os municípios. É composto de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados. O valor destinado aos municípios é calculado de acordo com o número de habitantes.
Moradores – Na manhã de ontem, dona Maria de Fátima estava organizando a casa. O sofá levado para o quintal era prova de que os prejuízos não estavam somente nos telhados danificados, mas também no interior da residência. A água atravessou os buracos causados pelas pedras de granizo e molhou móveis e eletrodomésticos.
A chuva também estragou o televisor da casa de Diomar e Hélio Ferreira. Mas essa não foi a maior perda. “Estou mais sentido pela bíblia que era da minha mãe, já falecida.” Apesar dos danos no livro religioso, “seo” Hélio disse que não jogaria fora a recordação mais importante que tinha da mãe.
A família recebeu a equipe do Diário do Noroeste. Enquanto tentava consertar o telhado com as próprias mãos, “seo” Hélio disse que nunca tinha visto um temporal tão forte como o de domingo. Providenciou algumas telhas, posicionou a escada até o topo da casa e subiu para fazer os devidos reparos.
A casa já limpa de Eduardo Roberto dos Santos indicava que a família trabalhou desde a noite de domingo para organizar tudo. A esposa preparava o almoço quando ele abriu as portas para a reportagem do DN.
As marcas do granizo estavam por todo o telhado. 68 peças foram danificadas. O colchão da cama do casal ficou completamente molhado e os dois substituíram por outro. “Não está muito bom, mas vai servir por enquanto”, comentou Eduardo.
Ele preferiu não reclamar da situação. Ao contrário, agradeceu por terem sido apenas danos materiais, sem que alguém ficasse ferido.
Área rural – Os prejuízos também se acumulam na área rural de Alto Paraná. A perda estimada é de 15 mil maços de couve e 6 mil de almeirão, 15 mil pés de alface e 2 mil de chicória e pelo menos 1 mil unidades de cebolinha. Ontem à tarde, técnicos de agronomia calculavam os danos nos pomares de laranja – o ganizo derrubou frutos e interrompeu a florada.
Da mesma forma, as pedras de gelo atingiram a plantação de seringueiras perto da Vila Rural Esperança. Os caules das árvores ficaram feridos e as folhas, espalhadas pelo chão.
A produção de bicho da seda tampouco saiu ilesa. Muitos barracões com telhado de fibrocimento acumularam estragos, ainda não calculados.