REINALDO SILVA
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Com exceção de janeiro, 2021 foi marcado por volumes de chuva muito abaixo das médias históricas em diferentes regiões do Paraná. A gravidade da crise hídrica levou o Governo do Estado a decretar, no início de agosto, situação de emergência. Em alguns municípios, foi preciso adotar o regime de rodízio de abastecimento de água, intercalando a distribuição para os bairros. A expectativa é que a partir da segunda quinzena de setembro as precipitações se tornem mais frequentes, mesmo assim, serão irregulares, prevê o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).
Até lá, os dias em Paranavaí seguirão com pouca nebulosidade. Este fim de semana terá céu claro e temperaturas elevadas, chegando a 37 e 36 neste sábado e domingo, respectivamente. A próxima semana começará com condições semelhantes. O sol predomina até terça-feira (7), Dia da Independência, quando os termômetros deverão marcar 40 graus. O tempo passará por mudanças a partir de quarta-feira (8), com a formação de muitas nuvens. A nebulosidade fará as marcas caírem: mínima de 17 e máxima de 33 graus.
De acordo com o meteorologista Reinaldo Kneib, o inverno é a estação mais seca do ano. Em 2021, alguns fatores contribuíram para a antecipação da falta de chuvas característica do período de junho a setembro, a começar pelo La Niña. Trata-se de um fenômeno natural que consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico, interferindo diretamente no volume de precipitações. É o oposto do chamado El Niño, que faz chover mais.
Alterações no Atlântico Norte, na região dos Estados Unidos, também podem estar contribuindo para a estiagem que afeta a América do Sul. Estudos indicam que a oscilação da temperatura da superfície do oceano acontece em intervalos de cinco a oito décadas.
Somam-se a aceleração do desmatamento e o avanço dos incêndios florestais. A redução da área verde nativa interfere diretamente no regime de chuvas, diz o meteorologista do Simepar, e a tendência é que as precipitações se tornem cada vez mais irregulares em todo o Brasil, repetindo os períodos de estiagem prolongada durante os próximos anos. Um levantamento do Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra que a Amazônia Legal perdeu quase 10.500 quilômetros quadrados de floresta de agosto de 2020 a julho de 2021, a pior taxa da última década.
Reflexos da seca – Reinaldo Kneib explica que a falta de chuvas deixa a atmosfera e o solo mais secos. Após tanto tempo de estiagem, a primeira precipitação umedece o solo, mas não faz subir os níveis dos lençóis freáticos e dos reservatórios de água. Seria necessário chover com mais frequência para normalizar a situação.
Em agosto, por exemplo, choveu somente 28,8 milímetros em Paranavaí, menos da metade da média histórica de 65 milímetros. O primeiro registro do mês foi de 0,2 milímetro no dia 1º. Praticamente imperceptível. O Noroeste do Paraná só voltou a ter precipitação no dia 26, com volume igual ao anterior, 0,2 milímetro. A chuva mais significativa do mês veio no dia 27, data em que o Simepar registrou 26,4 milímetros. Depois foram 1,8 milímetro no dia 28 e novamente 0,2 no dia seguinte.
O gerente regional da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Heterley Ubaldo, informa que o volume registrado em agosto não foi suficiente para elevar os níveis dos mananciais de Paranavaí, por isso, seguem 40% abaixo do normal. Por enquanto não há risco de desabastecimento e necessidade de rodízio de distribuição de água, mas a situação é de alerta. A orientação é economizar para que não falte.
No campo os reflexos da estiagem também são perceptíveis. Um exemplo de atividade afetada é a pecuária: sem chuvas, as pastagens secaram e os custos com a alimentação dos rebanhos bovinos tiveram elevação. Foi um dos motivos, além das exportações crescentes e da retomada de atividades comerciais, principalmente bares e restaurantes, para a manutenção dos preços elevados da carne tanto no atacado quanto no varejo, conforme avalia o médico veterinário Fábio Mezzadri, do Departamento e Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
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Crise hídrica motiva usina a aumentar
vazão de água na bacia do Rio Paraná
Por determinação do Ministério de Minas e Energia, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) promoveu testes de flexibilização da vazão da Usina Hidrelétrica Porto Primavera. Foi uma alternativa para minimizar os efeitos da pior crise hídrica registrada nos últimos 91 anos, de acordo com o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
Em nota enviada ao Diário do Noroeste, a Cesp informa que para atender a determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a vazão defluente passou de 2.900 metros cúbicos por segundo para mais de 4.300 metros cúbicos por segundo, entrando, a partir do dia 25 de agosto, em uma faixa de operação considerada normal.
Com esse novo cenário, diz a nota, “a expectativa é que o nível do curso do rio à jusante da UHE Porto Primavera (medido na régua instalada logo abaixo da usina) tenha aumentado em até 50 cm, retornando aos valores normais historicamente verificados”. O texto se refere ao Rio Paraná.
Segue o comunicado: “A Companhia reforça o seu compromisso com a sociedade, trabalhando pautada no desenvolvimento sustentável e na preservação da biodiversidade nas regiões em que mantém operações. A Cesp reitera a importância de suas premissas socioambientais e assegura cumprir rigorosamente as leis vigentes”.
Na semana passada, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Porto Rico informou que a elevação no nível da água amenizaria os problemas provocados pela baixa histórica do Rio Paraná. De acordo com o texto, municípios portuários precisaram adequar as rampas náuticas, alongando o acesso ao rio, para atender a comunidade e não causar danos às embarcações. (Reinaldo Silva)