Em uma tarde qualquer na casa dos avós os primos Pedro e Felipe (respectivamente meu sobrinho e meu filho) com mais ou menos 9 anos brincavam na rede de balanço na garagem do vovô. E quando Felipe quis sair da rede, o pé enroscou e pronto, cara no chão! Sangue e mais sangue… O que os dois fazem? Correm escondidos para o banheiro dos fundos, ao invés de pedir ajuda aos adultos. Sangue e mais sangue… Em algum momento percebem que só lavar o sangue não iria parar e, só então, mesmo com medo da bronca, acabaram contando para os adultos. Saíram todos para o médico e Felipe volta com 3 pontos no queixo e uma cicatriz. Hoje é uma cicatriz que ninguém percebe ainda mais embaixo da barba de um adulto. Coisas de infância, mas foi um susto e tanto!
Quem não tem, ao menos, uma cicatriz? Eu tenho algumas cicatrizes no meu corpo, a que mais me marcou foi a do joelho, que me faz lembrar de quando eu estava aprendendo a andar de bicicleta, tenho outra entre os cabelos que não tenho certeza se foi no mesmo tombo.
No início, as cicatrizes até doem, depois nos lembramos das histórias com um pouco de dor e quanto mais distante no tempo, na maioria das vezes, nem nos lembramos de nossas cicatrizes, e quando nos lembramos, lembramos apenas das histórias contidas nelas e até rirmos disto.
Contudo, não somos feitos só de corpo, somos feitos de alma e espírito também. E a cicatriz da alma é a mais difícil de cuidar, porque ela é invisível aos olhos e a dor, apesar de, às vezes, mais profunda, quase sempre indolor para o corpo. Então o que fazemos com as nossas cicatrizes da alma?
Todo mundo já passou por momentos que machucaram a alma, assim como várias crianças que se machucaram quando caíram tentando andar de bicicleta e a maioria nem se lembra disso! E tem pessoas que nunca aprenderam a andar de bicicleta, com medo de se machucarem e criarem cicatrizes! Porque isso ocorre? Algum psicólogo pode responder essa pergunta? O que eu sei é que cada criatura reage de uma forma diferente quando machucada, umas se calam, se fecham, outras fazem escândalos, esperneiam, choram, enquanto umas sacodem a poeira e dão a volta por cima e outras simplesmente não reagem, ficam paralisadas!
Quando esses machucados são recorrentes é como cutucar a ferida. Se são profundos, como uma fratura, por exemplo, emocionalmente falando, quando há uma ruptura de confiança, tudo pode desmoronar, causando mágoas e traumas profundos. E aquela dor que não chorou, não esperneou, não externou, pode ser expelida tudo de uma vez.
Fiquei pensando porque temos cicatrizes. No mínimo, é um “souvenir” para nos lembrarmos que conseguimos sobreviver àquela dor. O psicólogo Estevam Fernandes diz que: “Cicatriz é uma lembrança do que um dia foi dor. Deus cura a dor, mas deixa a cicatriz.”
E você como lida com tuas dores, tuas cicatrizes?